São José de Mipibú - RN / Arquidiocese Natal

domingo, 25 de maio de 2008

A Igreja e o Diálogo com a Cultura Pós-Moderna

Depois do Concílio Vaticano II e a sua mentalidade que é notoriamente dialógica e renovadora, um novo espírito surge no interior da Igreja. Basta que seja lido o seu integrado e integralizador documento: Gaudium et Spes. A lógica deste maravilhoso texto ainda não foi absorvida por muitos cristãos católicos. Ela nos coloca diante do grande desafio da Igreja, que deve ser, para a Humanidade, o “Universal Sacramento de Salvação”. Observando a realidade e embasado por aquilo que é magistralmente apresentado por esta Igreja pós-conciliar, o que é urgente é o diálogo respaldado por três vias, a saber: 1º) - Verdade; 2º) - Respeito; e o 3º) - Evangelho.

A Verdade: O evangelista João apresenta Jesus como a Verdade (Jo 14,6) e o seu Espírito é o Espírito da Verdade (Jo 14,17). Nós acreditamos nesta Verdade! Ela é uma Pessoa. Ela não se confunde com a “adequação do intelecto a coisa”, mas do intelecto, do coração e do espírito à Pessoa, que é a própria manifestação de Deus amor (1 Jo 4,8). Por isso, o nosso diálogo com o mundo não pode ser somente “apologético”, pois, isto significa em dizer que o outro é para a gente só uma ameaça. O próprio Jesus disse: “Eu vim chamar não os justos, mas os pecadores, para que eles se convertam (Lc 5,32)”. Não esqueçamos que se converter é mudar de mentalidade por causa do encontro pessoal com Jesus.

O Respeito: O respeito pelo “Outro” é indispensável para o entendimento do significado do diálogo na Cultura pós-moderna. Isto implica dizer que a identidade de cada um seja respeitada. Esta responsabilidade, cada indivíduo, como ser pensante, deve ter e esforçar-se para mantê-la. A Igreja, que tem como Protótipo a Trindade, precisa lançar-se para dizer isto ao Mundo. Os pressupostos inerentes pela própria ordem sistêmica (Niklas Luhmann) possibilitam um lúcido envolvimento com as diversas institucionalizações de “verdades”. Estas não falam de uma verdade decorrente e, por isso, contradizem o que é próprio dela. Não existe forma ingênua de dizer a verdade quando o “Outro é respeitado”. O que falta na civilização neurótica de hoje é a busca do conhecimento da verdade do “Outro” que é a via de encontro sem a qual não se conhece a “Verdade”.

O Evangelho: poderia ser dito que falta conhecimento da Palavra. Jesus é a Palavra(Jo 1,1). O Evangelho possibilita o diálogo com todas as culturas. O importante é o esforço e a coragem de estar no mundo. Pregar e falar do Evangelho é falar de Jesus. A categoria “Reino de Deus” pode ser colocada como princípio hermenêutico na realização deste projeto, que é Dele. A defesa só acontece diante do inimigo. Para o Cristão o “Outro” não pode ser inimigo. Ele é imagem e semelhança de Deus (Gn 1,27). A apologética pré-conciliar não tem lugar numa Igreja que tem consciência da sua identidade missionária. Aprofundemos o espírito de Aparecida e as diretrizes da ação evangelizada traçadas pela última reunião dos Bispos, em Itaici. Esta Igreja ou assume sua postura evangélica e missionária ou estará pecando contra o mandado de Jesus, que envia (Mt 28,19-20).

Por fim, o esforço espiritual e intelectual vem a ser, hoje, algo urgente, tendo em vista os desafios atuais. A coragem não dispensa a sabedoria e a inteligência. O amor àqueles que são carentes da Verdade não dispensa a seriedade das nossas atitudes e nosso testemunho. O diálogo autêntico e evangélico da Igreja com o mundo só vai acontecer quando o cristão assumir como precisa viver, para que todos os povos tenham vida Nele.