São José de Mipibú - RN / Arquidiocese Natal

domingo, 30 de agosto de 2009

Caritas in veritate (V)

Esta semana introduziremos o V capítulo. Este trata da “colaboração da família humana”. Logo inferimos que é no desenvolvimento dos povos. Para o Pontífice “uma das pobrezas mais profundas que o homem pode experimentar é a solidão” (n. 53). Chama a atenção para a falta de amor. Principalmente do amor de Deus. O homem pela sua natureza espiritual precisa do relacionamento com o outro e com Deus. E reflete teologicamente que “esta perspectiva encontra um decisivo esclarecimento na relação entre as Pessoas da Trindade na única Substância divina. A Trindade é absoluta unidade, enquanto as três Pessoas divinas são pura relação. (...) A Igreja é sinal e instrumento desta unidade” (n. 54). Para ele a “revelação cristã sobre a unidade do gênero humano pressupõe uma interpretação metafísica do ‘humanum’ na qual a relação seja elemento essencial” (n. 55).

“A religião cristã e as outras religiões, diz o Papa, só podem dar o seu contributo para o desenvolvimento, se Deus encontrar lugar também na esfera pública, nomeadamente nas dimensões cultural, social, econômica e particularmente política. A Doutrina social da Igreja nasceu para reivindicar este ‘estatuto de cidadania da religião cristã’. A negação do direito de professar publicamente a própria religião e de fazer com que as verdades da fé moldem a vida pública, acarreta conseqüências negativas para o verdadeiro desenvolvimento. (...) E acrescenta que a razão tem sempre necessidade de ser purificada pela fé; e isto vale também para a razão política, que não se deve crer omnipotente. A religião, por sua vez, precisa sempre de ser purificada pela razão, para mostrar o seu autêntico rosto humano” (n. 56). “A subsidiariedade é, antes de mais nada, uma Judá à pessoa, na autonomia dos corpos intermédios. Tal ajuda é oferecida quando a pessoa e os sujeitos sociais não conseguem operar por si sós, e implica sempre finalidades emancipativas, porque favorece a liberdade e a participação enquanto assunção de responsabilidades. (...) O governo da globalização deve ser de tipo subsidiário” (n. 57). Adiante escreve “que o princípio de subsidiariedade há de ser mantido estritamente ligado com o princípio de solidariedade e vice-versa, porque a subsidiariedade sem a solidariedade decai no particularismo social, a solidariedade sem a subsidiariedade decai no assistencialismo que humilha o sujeito necessitado” (n. 58).

Por fim, o encontro cultural e humano, a ajuda ao desenvolvimento dos países pobres, o maior acesso à educação, atenção ao fenômeno das migrações, o problema do desemprego, a violação da dignidade do trabalho humano, o empenho das organizações sindicais, a nova responsabilidade social do consumidor, a urgência de uma reforma quer da Organização das Nações Unidas quer da arquitetura econômica e financeira internacional, a presença de uma Autoridade que possa comprometer-se na realização de um autêntico desenvolvimento humano integral inspirado nos valores da caridade na verdade, são fatores que devem possibilitar o desenvolvimento da família humana. O VI capítulo, sobre o “desenvolvimento dos povos e a técnica”, infelizmente, não será introduzido. Mas, desde já, vos auguramos uma boa leitura da encíclica. Assim o seja!

domingo, 9 de agosto de 2009

Quantas pessoas!

Quantas pessoas não passam pela nossa passageira vida?! São os transeuntes dos quais, na grande maioria das vezes, não nos apercebemos o quanto são importantes. Elas vêm e vão cotidianamente. Do nascer ao morrer da nossa existência estão, como que, a minimizar e engrandecer o que já somos. Isto porque nos constituimos nas pessoas dos nossos pais, dos nossos demais parentes, dos amigos, dos professores, dos catequistas, dos amores, dos formadores, dos desafetos, dos que nos fazem o bem, dos que nos fazem mal, dos que dizem sim aos nossos desejos, dos que dizem não aos nossos sonhos, dos que elevam nosso bem estar, dos que tentam vilipendiar a nossa auto-estima, dos nos dignificam com suas presenças, dos que nos contentam com suas ausências, dos que nos enchem de esperança, dos que dificultam a nossa alegria, dos nos amam pelo que somos, dos que fingem nos amar pelo que temos... e quantas mais não poderiam ser elecandas aqui! Mas cada um fará sua imagem dos vários tipos que passam pelas suas vivências querendo simplesmente, e, mais que maravilhosamente, ser feliz.

As nossas relações sempre são pessoais ou impessoais. Quando tidas diretamente são meios de alegrias e satisfações, tristezas e incompreensões, concórdia e paz, mentiras e injustiças, valores e amores, sofrimentos e covardias etc. Em meio ao vai e vem de cada tempo presente estão as escolhas que nos afinam com as várias propostas que nós, como sujeitos, oferecemos; e como objetos, recebemos. Os intercâmbios de dons e gratuidades que são agregados é que firmarão as nossas personalidades. Estas, por sua vez, se forem ornamentadas com os obséquios que engrandecem às nossas almas, nossas existências.

Para nós, latino-americanos, estas atitudes ainda estão presentes. Nós somos mais livres nos nossos relecionamentos. Temos calor humano, nos preocupamos mais com nossos vizinhos, somos mais solidários e gratos pelo dom e o amor recebidos, vivemos mais a comunidade e a alegria de estar junto, perfuramos os invólucros da indiferença, que é o pior desestimulo para aqueles que muitas vezes esperam muito mais uma atenção e um gesto de carinho do que uma moeda dada sem um olhar afetuoso e amigo. Em visita a um país europeu senti de perto como é o estilo de vida de quem se aprisiona naquilo que os bens materiais podem oferecer. Não é a toa que nestes paises há um grande índice de jovens que se suicidam. Os jovens são o simbolo humano do sentido da vivacidade. Tirar a possibilidade que eles têm de poderem manifestar a alegria é querer atrofiá-los. Por isso, valorizemos o que é próprio de cada fase da vida humana: as crianças, os jovens, os adultos e os idosos. Não o fazemos, o que resta de possibilidade de compreensão da psicologia humana, em suas várias etapas de desenvolvimento? Nós fazemos parte da história quando deixamos que ela também faça parte de nós. E isto só acontece quando nos relacionamos e deixamos que cada um possa ser aquilo que é e como gostaria de ser. Sendo assim, visualizemos cada pessoa que passa pelas nossas efêmeras e insastifeitas vidas. Ai de nós se não valorizarmos e não nos deixarmos valorizar por todos estes que sorriem, que choram, que gritam, ou seja, que demonstram que conosco estão vivendo! Seja nos amando, seja nos odiando, seja querendo a nossa felicidade ou não querendo-a; enfim, as pessoas estão aí e como nós as tratamos? Nós as vemos como imagem e semelhança de Deus? Reconhecê-las como tais é poder nos envolvermos com aquilo que é delas e que, na interação, passa a ser nosso. Caros irmãos, cuidemos das pessoas que passam, a cada momento, pelas nossas vidas!

Por fim, Jesus olhava com amor a todas as pessoas que se aproximaram Dele. Basta que leiamos os evangelhos com atenção. Jesus não discriminava ninguém. Jesus acolhia a todos. Mesmo quem diz que não O aceita, deve a este Salvador, o modo mais sublime de amar o Outro. Quem não quer vê-Lo na cruz nem mesmo em repartições públicas vai tirar da sua frente a Única pessoa que sempre passa por sua vida e você ainda não A amou. Ele olha por nós porque sem Ele não temos resposta para o que mais queremos saber de nós mesmos. Não perceberemos o significado e o valor dos outros se não tivermos em nós os mesmos sentimentos de Cristo (Fl 2,5). Assim o seja!

quinta-feira, 6 de agosto de 2009

A Terra Santa e a sua complexidade religiosa

Em Jerusalém encontra-se a complexa relação das três religiões monoteístas do mundo, a saber, o Islamismo, o Judaísmo e o Cristianismo. A Cidade Santa representa, para as três, as formas históricas do divino falar ao humano. Aqui, estão os ícones do mistério. Para os muçulmanos, é a cidade da qual o profeta Maomé foi levado para o céu por Allah. Por isso, é a terceira cidade santa depois de Mecca e Medina; para os hebreus, é a cidade de Abraão, Davi, dos profetas e do templo, morada de Deus por excelência; e para nós, discípulos de Jesus Cristo, é a cidade onde Ele realizou a nossa redenção, venceu a morte e nos abriu o caminho para Deus. Cidade da fundação da Eucaristia, do sacerdócio e da Igreja.

Já ao fazer ‘check in’ para tomar o avião até Israel já se depara como o povo desta região não vive em paz. Por sinal, eis uma das carências deste lugar: falta harmonia entre as pessoas e entre os povos. Já se tornou mesmo uma questão cultural. O medo conduz as relações sociais de modo clarividente. Da parte de Israel porque quer preservar o estado judeu e da parte islamica porque quer que seja reconhecido um estado palestinense com suas respectivas intencionalidades políticas, econômicas e religiosas. A Palestina como não é reconhecida internacionalmente como estado, não possui um exército e, ainda, como povo dentro do seu pequeno território tem a já incoveniente presença, em suas cercanias, de acampamentos judeus. Políticamente a situação é uma bola de neve. Para ambas as etnias, a terra, o espaço são de fundamental relevância. Nestes espaços a relação destes povos com Deus acontece. Talvez para um ocidental de mentalidade racionalista isto seja uma alienação; no entanto, só estando aqui, sentido e observando o contexto, para tentar entender o que tudo isto significa para estes povos. O fator determinante da dinâmica civilizatória daqui continua sendo a religião; mesmo com a influência dos americanos para os judeus e, negativamente, para os mulçumanos, a religião continua sendo fator determinante no processo dialógico.

Andando pelas vielas de Jerusalém a tensão nas construções, a espessura dos portões; a agressividade na fala de cada pessoa; o armamento pesado dos policiais israelenses, a incomunicabilidade deles para com os estrangeiros, a não ser os comerciantes, que por sinal exploram demais, já que, o turismo é uma das suas principais fontes de renda; as poucas mulheres que são vistas pelas ruas da cidade; os judeus ortodoxos que, em seus adereços, portam a simbologia que ilustram o significado do ‘sacramento’ do Deus da lei e dos profetas; os mulçumanos com as suas aparências bizarras e cabisbaixas ao movimentar-se para seus afazeres e louvações nos vários momentos do dia e da semana etc.

Para quem estiver lendo vai logo surgir a questão: E os cristãos, como estão em meio a esta situação? meus irmãos, sei que é difícil ser cristão em todos os lugares; mas tenhamos a certeza que, em alguns, mais do que em outros. Aqui, neste território muito mais! Como é atual a passagem do evangelho de Marcos (6,1-6) quando Jesus se admira da incredulidade daqueles que mais deveriam reconhecer-lhe ao ouvir suas palavras e ver suas obras. Em Jerusalém mesmo, o número de cristãos é ínfimo. Em Belém o número é maior e chega a um percentual de 35-40 %. Há que ser testificado o testemunho dos franciscanos como presença da Igreja, por aqui. Eles são os guardiões dos lugares cristãos-católicos aqui da Terra Santa. As suas presenças em meio a tudo isto, já é um grande testemunho. Quem já conheceu saberá logo porque digo isto.

Sendo assim, concluo dizendo que é uma graça, para nós ocidentais, depositarmos nossa confiança Naquele que é o Senhor da paz (Jo 20,19) . Como o ocidente deve ao cristianismo. Não só religiosamente; mas também politicamente. A paz é fruto da justiça; mas muito mais o é do amor. Só quem ama a Deus e ao irmão a ponto de dar a vida permanece em Deus e Deus permanece Nele (1Jo 4,7). Assim o seja!