São José de Mipibú - RN / Arquidiocese Natal

sexta-feira, 9 de abril de 2010

Quem se afasta da igreja...

Nós precisamos da igreja para estar em comunhão com Deus? Me parece na atualidade um questionamento de suma importância. Cada vez mais as pessoas criam ou são levadas a criar "imagens de deus". Hoje existe um deus para curas, para mediador da prosperidade, vigilante de todos os males, pai de santo e infortúnios, apagão de pseudo-intelectuais, pois estar virando moda o desrespeito aos acadêmicos que professam a sua fé, um deus que se combate entre irmãos que dizem acreditar num único senhor etc...

A crítica feita por Ludwig Feuerbach, infelizmente ou felizmente, devemos reconhecer, está ganhando materialidade. Segundo ele, "a essência do homem, em contraste com a do animal, não é apenas o fundamento, mas também o objeto da religião... que é a consciência que o homem tem do infinito" (Essência do cristianismo, cap. I). Claro que o referencial do infinito aqui não é Deus, mas a potencialidade do humano pensar como perfeito e divino o que existe em função de simesmo (Idem). As formas relativistas e babélicas das varias comunidades religiosas estão nesta linha de raciocínio. A Igreja no momento não está sendo mediadora fundante das experiências religiosas. As tendências são individuais e por incrível que pareça, despersonalizadas. O conceito de doutrina se tornou confuso e caótico.

Cada um prega o que e como quer. Basta vermos os pregadores de plantão nos meios de comunicação. Ninguém sabe o que se diz. Basta que seja dito. Como as pessoas foram e continuam sendo levadas a não acolher ou mais propriamente se converter a Deus pela mediação objetiva da Igreja, desde a reforma protestante, então cada um tem a liberdade para interpretar o que não se ver e o que ninguém mais testemunhou. Eis à nossa frente o triste fenômeno da manipulação do sagrado como forma aberrante de tornar, de fato, a religião um "ópio do povo".

Em outro momento, afirmei que "a Páscoa é a metáfora imanente do humano transcendente". Nós, cristãos, católicos precisamos entender e acreditar que mediante a liturgia, fazemos memória dos acontecimentos históricos da ação de Deus na vida dos homens e mulheres que se converteram a Ele. Por isso que, não podemos confundir manifestações tradicionais da mitologia com as demonstrações culturais das Tradições salvíficas do Senhor. Nas conversas e direções espirituais com pessoas que se afastaram da Igreja, lanço uma pergunta que sempre deixam as pessoas um pouco inquietas: Depois que deixou de celebrar a sua fé, você veio a ser mais feliz?

A resposta, até o momento, foi negativa. Jesus é a nossa Páscoa. Ele é o humano no qual nossa transcendência ou a nossa capacidade de Deus se torna acontecimento real e esperançoso da Vida plena. Já estar morto quem não está na presença de Deus! A Igreja, santa e pecadora que é, continua sendo necessária para o fortalecimento objetivo da nossa "carência" Dele. Pela falta de conversão pode ser apagado o humano que é divino; mas nunca poderemos destruir o divino que é humano.

Por fim, a Páscoa de Cristo é sempre um convite para que os cristãos repensem o sentido da vida. Ele é o Ícone de Deus manifestado ao mundo para que todos, que Nele acreditarem, possam ter a Vida eterna, que consiste no conhecimento do único Deus verdadeiro, e aquele que por Ele foi enviado, Jesus Cristo (cf. Jo 17,3). Assim o seja!