São José de Mipibú - RN / Arquidiocese Natal

sábado, 20 de novembro de 2010

Uma visita à Assembléia Legislativa

Sempre ouvi pessoas dizendo que a casa onde os representantes do legislativo exercem seu poder de delegados do povo, pertencia a esse mesmo povo. Ainda, estão por lá, os vários funcionários de plantão que são pagos com o dinheiro deste povo para atenderem às pessoas que são seus reais empregadores. Tudo isto é tão lindo! Parece que a ilha utópica de Tomas More por lá chegou, mas reluta em não ficar. Os leitores logo acharão engraçado. Eu também. Pois é mais uma piada da dita, democracia brasileira. Estava lendo que as instituições de maior credibilidade da sociedade brasileira são as Forças Armadas e a Igreja Católica (Cf. Instituto Getúlio Vargas) Por que será? Basta uma simples visita a uma destas casas. Quando não está do lado deles, criticam a mídia por causa desta falta de crédito da comunidade na sua classe. Mas não é! Os meios de comunicação, quando exercem com seriedade seu múnus, reproduzem o que é latente à realidade. Os políticos não estão nem querem se preparar para ser servidores dos cidadãos na justiça e na verdade. Preferem enganar e mentir com seus desvios de conduta e de honradez. No Brasil hodierno, ser político, parece mais coisa de vagabundo e gente vaidosa. Para os pobres que se candidatam é porque querem se promover mais facilmente, e para os ricos é pura vaidade. O poder é uma tentação de todos. Nem sempre, quem tem dinheiro, o tem. Como a massa se corrompe porque não tem educação, nem saúde, nem segurança etc, então os corruptores se aproveitam, como sanguessugas, das misérias sociais dos mais pobres. Lá, nestas casas, também percebemos esta tendência. As pessoas são maltratadas porque, para eles, todos vão lá para pedir um dinheirinho. Como eles são, como são, os demais cidadãos também o sejam. Existem, ainda, pessoas, que têm ciência que aquela instancia é bem público e que aqueles outros cidadãos que estão ali têm a obrigação de tratar respeitosamente às pessoas. Será que eles se esquecem de receber seus salários no final do mês? Claro que eu me refiro aos que, mesmo desastrosamente, fazem alguma atividade! Pois nem falamos nos parasitas que nem lá aparecem, mas recebem as moedas por causa dos acordões dos tempos da campanha. Será que não há possibilidade de limpar aquele almoxarifado da prodigalidade, daquele que deveria ser o espaço da ação democrática por excelência?

Os deputados não são encontrados. Os atendentes mentem mais que animal ruim de preá. Com certeza, poucos têm formação e condições de trabalhar ali, porque, se o tivessem, estavam num lugar que oferecesse mais estabilidade empregatícia e econômica. E muitos que hoje têm alguma seguridade é porque entraram antes da obrigação concursal tipificada pela Constituição de 1988. Será que não há reciclagem para os funcionários? Pode ter certeza que estão precisando! Até para mentir tem que haver alguma artimanha. Se os senhores que deveriam estar para atender aos seus empregadores não estão, ao menos que colocassem gente mais idônea para receber os cidadãos!

Mesmo sabendo que a culpa é nossa, que ainda não aprendemos a votar, vale a deixa que uma casa se caracteriza como espaço de acolhimento; por isso, aquela que é do povo, em hipótese alguma pode ser diferente. Caros políticos, como dizem os simples: “falta de aviso não foi!” a pesquisa poderia nos apontar para uma necessária reflexão, a saber: Que tipo de democracia nós ainda estamos vivendo e malevolamente celebrando? A política deveria nos levar ao verdadeiro exercício da liberdade. O que ela é muitos sabem, mas o que de fato significa, muitos ainda estão precisando descobrir. Assim o seja!

quinta-feira, 4 de novembro de 2010

O Pároco

No código de Direito Canônico, art. 519, está codificado que o pároco é o pastor próprio da paróquia a ele confiada; exerce o cuidado pastoral da comunidade que lhe foi entregue, sob a autoridade do Bispo diocesano, em cujo ministério de Cristo é chamado a participar, a fim de exercer em favor dessa comunidade o múnus de ensinar, santificar e governar, com a cooperação dos fiéis leigos, de acordo com o direito. A experiência parocal é muito exigente. As relações estabelecidas envolvem muitas pessoas. Há um dinamismo muito enriquecedor, quando vivido com responsabilidade e testemunho, de ambas as partes, ou seja, a pessoa do pároco e dos paroquianos. Um texto de leitura satisfatória e deleitosa, para qualquer bibliófilo, é o “Diário de um pároco de aldeia” de Bernanos (escritor francês). O mesmo, ao iniciar sua genial obra, diz “minha paróquia, parafraseando o pároco, é uma paróquia como todas as outras. Todas as paróquias se parecem. As paróquias de hoje, naturalmente. Eu dizia ontem ao pároco de Nerofontes: o bem e o mal devem ficar em equilíbrio nelas, só que o centro de gravidade está lá embaixo, bem lá embaixo”. Como escritor, não teólogo, este centro não vem tão bem elucidado pelo autor, que, se o fosse, deveria dizer que este centro de gravidade é o mistério pascal de Cristo, que é força motriz e vencedora do mal que assola muitas vezes às paróquias. Mas porque nela estão presentes pessoas, que por mais pecadores que o sejam, são filhos de Deus, apesar de muitas vezes se comportarem como filhos da mentira.

O tipo de relação que o pároco, mistagogicamente, deve ter com a paróquia é a mesma que Cristo teve com sua Igreja (Ef. 5,25), ou seja, ele se consagra e a ela se doa. Vale tomar a metáfora e dizer que a paróquia para o pároco é como uma esposa para a qual o “padre homem e o homem padre” está permanentemente a dedicar-se. Com fidelidade e respeito, amando e respeitando-a até que providencialmente Deus os separe. O equilíbrio humano, refletido na postura de quem está apto a ser Pater família” (Pai de família), é algo a ser atualmente zelado por quem tem a responsabilidade de formar futuros sacerdotes. O escritor tem razão quando diz que sua paróquia é como as outras, mas o ponto de equilíbrio será aquele que agirá “in persona Christi”. Um pároco de uma cabeça bagunçada, faz muito mal a sua paróquia. Um padre, que não dá testemunho e que não tem uma identidade sacerdotal que se define diariamente para Cristo, vicia e tenderá os fiéis para o mal. O múnus de ensinar, santificar e governar a paróquia será responsabilidade deste pastor próprio, em comunhão com o Bispo. O papa João Paulo II afirmou que o padre de ontem, de hoje e de amanhã deve se configurar a Cristo (Pastores dabo vobis, 5). A cultura da mediocridade que impulsiona a muitos serem amantes do luxo, do materialismo, do carreirismo, da sexualidade doentia e do laxismo moral precisa ser superada. O Papa Bento XVI afirmou que os piores inimigos da Igreja estão dentro da própria Igreja.

Tomando o outro lado, lembro aos fiéis leigos que estes também são responsáveis pelo bem da vossa paróquia. O pároco precisa trabalhar com pessoas de amor a Cristo e a sua Igreja. Esta não pode ser usada para promoções individuais, no campo econômico, político e social. É a comunidade dos fiéis batizados. Com eles e o pároco deve haver parceria e consciência de pertença a Cristo, marcada pelo Batismo. Este sacramento os faz participarem de um único Povo, que é o de Deus. Jesus no capítulo 17 de João nos dá a pista para o tipo de relação entre este Povo e o seu sacerdote.

Por fim, o amor não dispensa a justiça. O pároco e os fiéis não podem esquecer destas atitudes. O pároco ensina o amor que santifica e que se santifica e age com a justiça que não perde nem é perdida. O mesmo Cristo que perdoa é o mesmo que diz que não peques mais. Amor sem justiça é alimento que cria sanguessugas. Hoje a maior proposta é que todos se tornem discípulos missionários para renovação de todas as estruturas, individuais e coletivas. Assim o seja!