São José de Mipibú - RN / Arquidiocese Natal

quinta-feira, 12 de novembro de 2009

Amor à Igreja

Nós devemos amar a nossa Igreja. Ela é a nossa mãe. Por ela nós recebemos a “transfusão do sangue do Cordeiro”(Bento XVI). Por ela nós somos consagrados, no nosso batismo, à Trindade Santa. Por ela nós recebemos a Palavra que foi canonizada pela sua Tradição e confirmada como Verbo de Deus (cf. Jo 1,1-2). “A Igreja é em Cristo como que o sacramento ou sinal e instrumento da união com Deus e da unidade de todo o gênero humano” (cf. Concílio Vat. II. LG, 1). Por ela recebemos os sacramentos que os sinais da graça de Deus na vida dos seus filhos. Ela é o corpo de Cristo. Ela é realidade visível e espiritual da econômica “cristológica” do Filho.

O Concílio fala desta Igreja como “Povo de Deus”. Nós somos a Igreja. Ainda é muito confusa a concepção do que é e quem ela seja, por parte dos seus filhos. Essa verdade vem carregada de responsabilidades. Quem é da Igreja precisa alimentar o seu amor por ela. Como é triste vem um filho da Igreja que a vilipendia. Essa configuração da filiação divina, pela ação criadora, redentora e salvífica do Pai é reconhecida sobrenaturalmente pela ação visível da Igreja símbolo universal da comunhão divina. Esta mesma comunhão só pode realizar-se pela possibilidade da aceitação e conversão dos filhos de Deus, que devem se tornar discípulos do Filho e colaboradores do Espírito Santo na missão de anunciar o Reino de Deus. Neste mesmo, “o mistério da santa Igreja se manifesta, pois, desde sua própria fundação. O Senhor Jesus deu início a sua Igreja pregando a boa nova, isto é, a vinda deste Reino, prometido há séculos pelas Escrituras” (cf. LG, 5).

O maior e mais profundo sinal da comunhão e missão da Igreja é a Eucaristia. Ela é o sinal da unidade da comunidade fiel ao projeto de Jesus Cristo. Ela é o grande Dom do Salvador doado aos seus discípulos, pela sua Igreja. Uma comunidade cristã que não celebra e vive a Eucaristia, não sabe e nem pode experienciar o significado teológico e eclesial do que Jesus rogou ao Pai, a saber: “a fim de que todos sejam um. Como tu, Pai, estás em mim e eu em ti, que eles estejam em nós, para que o mundo creia que me enviaste” (cf. Jo 17,21). Como isto pode acontecer sem a mistagogia eucarística, como Mistério da Fé, para dar sustentação teológica, cristológica, espiritual e eclesial, no tempo de Deus e no espaço dos homens, da integral comunhão entre os fiéis? Por isso que, pensar na possibilidade do ecumenismo, por exemplo, exige da nossa parte a clareza da nossa identidade, que, por sua vez, não nega a necessidade do diálogo com outras comunidades cristãs. Na Igreja católica o sinal visível de unidade e comunhão eclesial é o Papa, que por confirmação do próprio Mestre que disse: “Tu és Pedro, e sobre esta pedra edificarei minha Igreja, e as portas do Hades nunca prevalecerão contra ela. Eu te darei as chaves do Reino dos Céus e o que ligares na terra será ligado nos céus, e o que desligares na terra será desligado nos céus” (cf. Mt 16,18-19).

Por tudo isto e muito mais, a nossa experiência de fé precisa da Igreja como meio objetivo da vinculação ao mistério de Deus que se revela. A Igreja é sujeito e ao mesmo tempo objeto da pregação e comunhão histórica com o que é da Trindade. Por ela o que é da fé e da esperança toma forma para ser amor. Por ela, o mistério da salvação é sempre atual (cf. Ef. 1,3-14). Cristo amou esta Igreja e por ela se entregou (Idem. 5,25). Nós somos chamados a amar esta Igreja que somos nós com nossas culpas e, também, nossa santidade. Cristo confia em nós. Como não amar quem me deu a vida na graça continuada do amor de Deus? Como eu poderia firmemente está com o Senhor sem o amor e a comunhão com esta Igreja? Caros irmãos, amemos a Igreja! Assim o seja!

segunda-feira, 9 de novembro de 2009

Um Projeto Pastoral Arquidiocesano

A Arquidiocese de Natal se prepara para celebrar o seu Centenário. Toda uma programação foi delineada para que o ápice das justas comemorações pudessem se realizar. Claro que nós como filhos e amantes desta igreja particular estamos felizes porque já são 100 anos de ação pastoral, evangelizando em comunhão e missão. Os elementos históricos são rememorados para que os homens e as mulheres de boa vontade possam ser, tanto quanto, reconhecidos como protagonistas de uma história feita de grandes testemunhas de amor a Jesus Cristo e à sua Igreja. Muito bem! Mas essa história precisa continuar sendo sempre antiga e, outrossim, sempre nova. O elemento que configura essa tradição é a mensagem da Palavra que se fez carne e habitou entre nós (cf. Jo 1,14). A Encarnação do Filho de Deus qualifica a história dos homens. Este mesmo homem que é o construtor da cultura, convertido ao Mistério do Reino que se manifestou em Jesus Cristo, pode ser “sinal de Jesus Cristo” vivendo plenamente a sua consagração, que acontece no Batismo, quando ele(a) assume o seu discipulado e a sua missionariedade.

Para o ano de 2010 a igreja particular precisa pensar um projeto formativo e missionário para toda a Arquidiocese. O documento de Aparecida diz que “a Diocese, presidida pelo Bispo, é o primeiro espaço da comunhão e da missão. O Bispo deve estimular e conduzir uma ação pastoral orgânica renovada e vigorosa, de maneira que a variedade de carismas, ministérios, serviços, e organizações se orientem no mesmo projeto missionário para comunicar vida no próprio território. Esse projeto, que surge de um caminho de variada participação, torna possível a pastoral orgânica, capaz de dar resposta aos novos desafios. Porque um projeto só é eficiente se cada comunidade cristã, cada paróquia, cada comunidade educativa, cada comunidade de vida consagrada, cada associação ou movimento e cada pequena comunidade se inserem ativamente na pastoral orgânica de cada diocese. Cada uma é chamada a evangelizar de modo harmônico e integrado no projeto pastoral da Diocese (DA, n.169)”. Se tomarmos as linhas mestras do documento, veremos que tudo está orientado para formação e a missão. A partir do encontro pessoal com Jesus é que se pode falar nestas duas necessidades da ação evangelizadora. Tendo em vista esta mesma proposta para cada Diocese é que nós devemos e precisamos pensar urgentemente em projetos (formativos-missionários) paroquiais. Podemos aproveitar as estruturas já instituídas com as quais contamos. Os organismos diocesanos, zonais, colégios católicos, santuários e claro que de um modo muito particular as paróquias, que neste contexto são apresentadas como “células vivas da Igreja e o lugar privilegiado no qual a maioria dos fiéis tem uma experiência concreta de Cristo e a comunhão eclesial. São chamadas a ser casas e escolas de comunhão (DA, n. 170)”. Como estruturas físicas e territorial onde estão os cristãos/discípulos torna-se necessário que para cada Paróquia seja pensado o seu “projeto formativo e missionário paroquial”, pois a ação missionária, mesmo não dispensando a confiança na ação do Espírito de Senhor presente no coração de cada fiel (cf. At 2,1-41;Rm 5,5), não pode prescindir duma atuação permanente, sistemática, metodológica e perseverante da ação evangelizadora que veja, julgue e haja através de modos instrumentos e atitudes que contemplem os desafios da Posmodernidade, que se tivéssemos parado para refletir é a grande tentativa da proposta do documento de Aparecida.

Por fim, queridos amigos e fieis deste Jesus que nos trouxe a grande “Revolução” da Humanidade, traçada e apresentada como o projeto do “Reino de Deus” (cf. Mc 1,15; Mt 4,17) tenhamos coragem e reflitamos sobre esta possibilidade que nas atuais circunstanciais é condição sem a qual as nossas ações pastorais serão muito mais “programações e ativismos” do que um sinal da comunhão e da missão por causa da Pessoa de Jesus Cristo, através da sua Igreja. Assim o seja!

domingo, 8 de novembro de 2009

E se o Magistério da Igreja mudasse?!

Hoje o mundo globalizado vive a Era da dinamicidade. E se existe uma característica desta rotatividade de todos em tudo e tudo em todos é a superficialidade. Como não pensar na existência de Algo que vincule a possibilidade de falar numa Humanidade, que não pode ser confundida só com a Civilização? Desta, a cultura é a alma (Marcuse); da primeira a realidade fundante são o homem e a mulher. Para o Magistério da Igreja que, por sua vez, “tem o ofício de interpretar autenticamente a Palavra de Deus escrita ou transmitida, e cuja autoridade se exerce em nome de Jesus Cristo, existe a preocupação com a Verdade, pois Jesus Cristo, o Verbo encarnado (cf. Jo 1,14), é a verdade e o amor (idem). Por isso, tal Magistério não pode estar acima da Palavra de Deus, mas a serviço dela, não ensinando senão o que foi transmitido, no sentido de que, por mandato divino, com assistência do Espírito Santo, piamente ausculta aquela palavra, santamente a guarda e fielmente a expõe, e deste único depósito de fé tira o que nos propõe para ser crido como divinamente revelado” (cf. DV, 10. Obs. Documento do Concílio, como a Gaudium et Spes). Cabe aqui uma reflexão, filosoficamente feita pelo filósofo, Gadamer, no seu livro Verdade e Método, no VIII capítulo, onde o autor faz a reflexão da importância da “tradição como algo que se enriquece no e com tempo” como conseqüência da ação do sujeito, sem perder seus elementos vinculativos. Para o cristianismo, a revelação é o “fundamento” temporal, este, no sentido agostiniano (cf. Confissões, IX-X) e que este mesmo Magistério da Igreja deve e pode salvaguardar.

Depois pensemos na possibilidade da dinamicidade do Magistério: Se este fosse a favor da morte de inocentes, sendo a favor do aborto? Se não pensasse na dignidade das mulheres, dentre as quais, uma delas teve a honra de ser a Mãe de Deus e que, mesmo assim, não tem prestada a devida veneração por muitos cristãos? Se o Magistério da Igreja mudasse, só permitindo a ordenação de mulheres, como se a dignidade delas, que são “Dom e Mistério”, estivesse dependente só das suas ordenações presbiterais? Se o Magistério da Igreja mudasse e não visse a beleza intrínseca do amor entre homem e mulher como forma mais humana de contribuir para realização dos mesmos e para o bem da Humanidade? Se o Magistério da Igreja mudasse e deixasse de acolher as pessoas com desvios de personalidade e ressentidas que tanto a expõe; mas que nunca deixam de sugar do leite que ela como Mãe que acolhe, apesar das ofensas recebidas, sempre está disposta a doar? Se o Magistério da Igreja mudasse e não aceitasse pessoas que, porque não têm opção de vida, vivem escandalizando os seus filhos, por simples vaidade e egocentrismo? Se o Magistério da Igreja mudasse e não fosse sinal profético diante das ações ideológicas e práticas que não respeitam o verdadeiro valor da dignidade humana, que tem por pressuposto a sua filiação divina? Se o Magistério da Igreja mudasse e não tivesse mais disposta acolher os padres anglicanos que, livremente desejam a comunhão com esta Igreja Católica? Se o Magistério da Igreja mudasse e não tivesse no Papa o sinal visível da fé e da comunhão dos fiéis católicos? Como seria o retrocesso ao feudalismo, diferente duma eclesiologia de comunhão tão bem arquitetada no Concílio? Se o Magistério da Igreja mudasse e não assumisse a possibilidade de se adaptar aos sinais dos tempos e não tivesse celebrado o Vaticano II, Medellín, Puebla, Santo Domingo, Aparecida etc?

Por fim, o que nos fortalece é a comunhão. A presença do Espírito na comunidade eclesial é a grande força que anima todo o Povo de Deus. O cristão, pelo sacramento do Batismo, é consagrado a Deus através desta Igreja que sempre percebeu no Magistério da Igreja uma possibilidade do reconhecimento que porta identidade cristológica e eclesial a quem livremente deseja e é confirmado a fazer parte desta Igreja, respeitando e querendo também a liberdade de ser, no tempo de Deus e no espaço dos homens, Luz dos Povos. Assim o Seja!