São José de Mipibú - RN / Arquidiocese Natal

sexta-feira, 31 de julho de 2009

A necessidade do esclarecimento humano

O esclerecimento da pessoa é sempre um desafio. Claro que é aí que está a beleza da sua identidade. O desenrolar da história não deixa de ser uma dramatização desta dialética do ser que era, é e será. Nós nos contrapomos constantemente com a nossa subjetividade. Mas o que esta significa para nós? Só uma “forma entis” que diz e não diz o que universalmente dizemos que somos? Ela se diz porque é falada, é vista, é narrada, é sentida, é realizada, é estudada...ela se auto-define ou é definida? De qualquer modo, o que é materializado por ela, só por ela é decodificado. O que dela se predica, só por ela é predicado. Por isso, ela ilustra a história para que, pela mesma, possa ser ilustrada. Só a intelecção do que é harmonizado por esta forma desvela o que é o homem, e, nele, a Humanidade seja definida como universal.

Por que precisamos pensar o individual na sua possibilidade universal? porque sem este último o próprio não se entende. E isto é fundamental para a compreensão do humano como ser de Cultura. Esta é o meio mais significativo para que a Humanidade se corporifique como Civilização que se constitui não de diferentes; mas sim, de diferenças. Onde está a importância da elucubração? A consistência do que seja o diferencial da Humanidade é absolutizada e individualizada pelo próprio homem. Quem exclui o que é peculiar da Humanidade é ela própria. A dialética que possibilita o esclarecimento do homem ao homem só dará passos quando for reconhecida uma norma normativa que abarque o que é de cada homem e de todo homem. Até agora nenhum fenômeno humano o conseguiu; todavia, só um se mostrou. Digo diretamente que este raio transpassante é a Revelação de Deus, que é humano porque é Deus e Deus porque é humano. O que é o esclarecimento sem a possibilidade duma medida de todas as medidas? Se não tivermos a possibilidade do universal, por que entender o particular? Com isto, não se quer dizer que não se busque a valorização do particular e eis o ponto: uma definição implica a outra definição. O processo não é dialético? O que é próprio desta não é a contraposição; mas a complementação. A evolução só é histórica porque antes de sê-la espaço-temporal é, ela, humana. A continuidade deste raciocínio pode ajudar, e muito, às várias tentativas de interação das pessoas, famílias, estados, nações, religiões, filosofias, economias e o próprio mundo. Ou este mundo é compreensível sem aqueles que o entendem e o definem como o que ele é e porque ele é, com suas concepções míticas, filosóficas e científicas?

Os contextos sociais quanto mais globalizados na atualidade, mais se tornam indefinidos. Isto porque tudo é penetrado por tudo e todos por todos. O que é mais interessante é que, em meio a tudo isto, o protagonismo do protagonista se perdeu. Alguém súbito compreenderá que, se isto acontece, é porque o ser humano tem seu limite reconhecido ou não por ele na sua própria imagem. Porém se este entendimento, mesmo que, inconscientemente, não seja aceito por muitos, é porque ainda não chegou à sua meta final e porque, este mesmo fim, não pode depender do homem, nem muito menos, do que ele pode criar. Sendo que, faz parte da essência do Cristianismo, não só como sistema sofisticado de ligação do finito com o infinito, mas como possibilidade de causa primeira e final de satisfação de cada ser humano e da humanidade, esta condição não pode ser inventada pelo homem. O que é inventado por ele é dele; contudo, nunca poderá ser ele. Sendo assim, não pode servir de complemento perfectivo ou totalizador do finito que busca o infinito. Por que o finito deseja infinito? porque o primeiro pertence ao segundo, sendo que, não é ainda o que deseja. Por isso, que, o Cristianismo não é só uma diagramação racionalizada que pode dizer à Humanidade o que só ela tem de humano e divino.

Por fim, a resposta está mesmo na capacidade que o homem tem de amar. Só Deus é amor. Esta certeza é própria do Cristianismo. Nenhuma outra religião monoteísta pode dizer ao ser humano esta Verdade ontem, hoje e sempre. Algumas só esperam, outras só acreditam; mas só em Jesus Cristo, o único e eterno Salvador, nós esperamos, acreditamos porque somos amados. Ele é o eterno amor. A possibilidade deste esclarecimento dialético e absoluto é o horizonte pelo qual, só por Ele, o homem se auto-definirá na Humanidade e com a Humanidade. Assim o seja!

quinta-feira, 9 de julho de 2009

Caritas in veritate

O Santo Padre, Bento XVI, escreveu a sua primeira Encíclica social endereçada aos bispos, presbíteros, diáconos, pessoas consagradas, fiéis leigos e a todos os homens de boa vontade, sobre o desenvolvimento humano integral, na caridade e na verdade. Quem acompanha a trajetória magisterial do atual Pontífice, logo situará esta carta em continuidade com suas primeiras reflexões contidas na “Deus caritas est (Deus é amor)” e na “Spe salvi (salvos pela esperança)”. O amor não dispensa a justiça, que é a porta histórica para o sentido da esperança. “A caridade é o dom maior que Deus concedeu aos homens; é sua promessa e nossa esperança” (Caritas in veritate, n. 2). Assinala que o ensinamento social da Igreja é “único, coerente e simultaneamente sempre novo” (Idem, n. 12). Enfatiza esta relação ao afirmar que “passados mais de quarenta anos da publicação da Populorum progressio, além da sua importante ligação com toda a doutrina social da Igreja, ela está intimamente conexa com o magistério global de Paulo VI e, de modo particular, com o seu magistério social. De grande relevo foi, sem dúvida, o seu ensinamento social: reafirmou a exigência imprescindível do Evangelho para a construção da sociedade segundo liberdade e justiça, na perspectiva ideal e histórica de uma civilização animada pelo amor” (Idem, n. 13).

A caridade é a força que proporciona o verdadeiro desenvolvimento integral e integrante do homem; e sua fonte está em Deus. Ele é amor e é a verdade. Pelo rosto de Cristo nós reconhecemos e nos orientamos para este caminho. Sendo que a caridade é a via mestra da doutrina social da Igreja. O princípio hermenêutico para o aprofundamento do pensamento social católico, neste pontificado, é a clareza da base teológica para uma sensata e universal interpretação da reflexão sobre a conjuntura social (caritas in veritate in re sociali) e as ações humanas que proporcionem a justiça e o bem comum.

Pela sua estreita ligação com a verdade, assinala o Papa, “a caridade pode ser reconhecida como expressão autêntica de humanidade e como elemento de importância fundamental nas relações humanas, nomeadamente de natureza pública. Só na verdade é que a caridade refulge e pode ser autenticamente vivida. A verdade é luz que dá sentido e valor à caridade. Esta luz é simultaneamente a luz da razão e da fé, através das quais a inteligência chega à verdade natural e sobrenatural da caridade: identifica o seu significado de doação, acolhimento e comunhão. Sem verdade, a caridade cai no sentimentalismo” (Idem, n. 3). “Sem verdade, sem confiança e amor pelo que é verdadeiro, não há consciência e responsabilidade social, e a atividade social acaba à mercê de interesses privados numa sociedade em vias de globalização que atravessa momentos difíceis como os atuais” (Idem, n. 5). E mais uma vez a proposta ética da Igreja, que une caridade e verdade, amor e palavra, chama ao testemunho cristão e para aqueles que não o são, para uma tomada de atitude que forme uma mentalidade solidária naqueles que, mesmo anonimamente, portam no coração e na mente as sementes do Verbo absolutamente presentes em todos os homens que, direta ou indiretamente, tendem para Deus.

Por isso, leiamos e pensemos na atualíssima proposta ética que a Igreja apresenta para o mundo. Ela é sacramento universal de salvação. É luz das nações. As angústias e as alegrias da humanidade são objetos da sua maternal atenção. Os princípios vêm ser auxílios para todos aqueles que em meio às crises econômicas, ideológicas, sociais e éticas, permanecem fiéis ao amor na verdade. Assim o seja!