O Santo Padre, Bento XVI, escreveu a sua primeira Encíclica social endereçada aos bispos, presbíteros, diáconos, pessoas consagradas, fiéis leigos e a todos os homens de boa vontade, sobre o desenvolvimento humano integral, na caridade e na verdade. Quem acompanha a trajetória magisterial do atual Pontífice, logo situará esta carta em continuidade com suas primeiras reflexões contidas na “Deus caritas est (Deus é amor)” e na “Spe salvi (salvos pela esperança)”. O amor não dispensa a justiça, que é a porta histórica para o sentido da esperança. “A caridade é o dom maior que Deus concedeu aos homens; é sua promessa e nossa esperança” (Caritas in veritate, n. 2). Assinala que o ensinamento social da Igreja é “único, coerente e simultaneamente sempre novo” (Idem, n. 12). Enfatiza esta relação ao afirmar que “passados mais de quarenta anos da publicação da Populorum progressio, além da sua importante ligação com toda a doutrina social da Igreja, ela está intimamente conexa com o magistério global de Paulo VI e, de modo particular, com o seu magistério social. De grande relevo foi, sem dúvida, o seu ensinamento social: reafirmou a exigência imprescindível do Evangelho para a construção da sociedade segundo liberdade e justiça, na perspectiva ideal e histórica de uma civilização animada pelo amor” (Idem, n. 13).
A caridade é a força que proporciona o verdadeiro desenvolvimento integral e integrante do homem; e sua fonte está em Deus. Ele é amor e é a verdade. Pelo rosto de Cristo nós reconhecemos e nos orientamos para este caminho. Sendo que a caridade é a via mestra da doutrina social da Igreja. O princípio hermenêutico para o aprofundamento do pensamento social católico, neste pontificado, é a clareza da base teológica para uma sensata e universal interpretação da reflexão sobre a conjuntura social (caritas in veritate in re sociali) e as ações humanas que proporcionem a justiça e o bem comum.
Pela sua estreita ligação com a verdade, assinala o Papa, “a caridade pode ser reconhecida como expressão autêntica de humanidade e como elemento de importância fundamental nas relações humanas, nomeadamente de natureza pública. Só na verdade é que a caridade refulge e pode ser autenticamente vivida. A verdade é luz que dá sentido e valor à caridade. Esta luz é simultaneamente a luz da razão e da fé, através das quais a inteligência chega à verdade natural e sobrenatural da caridade: identifica o seu significado de doação, acolhimento e comunhão. Sem verdade, a caridade cai no sentimentalismo” (Idem, n. 3). “Sem verdade, sem confiança e amor pelo que é verdadeiro, não há consciência e responsabilidade social, e a atividade social acaba à mercê de interesses privados numa sociedade em vias de globalização que atravessa momentos difíceis como os atuais” (Idem, n. 5). E mais uma vez a proposta ética da Igreja, que une caridade e verdade, amor e palavra, chama ao testemunho cristão e para aqueles que não o são, para uma tomada de atitude que forme uma mentalidade solidária naqueles que, mesmo anonimamente, portam no coração e na mente as sementes do Verbo absolutamente presentes em todos os homens que, direta ou indiretamente, tendem para Deus.
Por isso, leiamos e pensemos na atualíssima proposta ética que a Igreja apresenta para o mundo. Ela é sacramento universal de salvação. É luz das nações. As angústias e as alegrias da humanidade são objetos da sua maternal atenção. Os princípios vêm ser auxílios para todos aqueles que em meio às crises econômicas, ideológicas, sociais e éticas, permanecem fiéis ao amor na verdade. Assim o seja!