São José de Mipibú - RN / Arquidiocese Natal

quinta-feira, 11 de setembro de 2008

No princípio era a Palavra...(Jo 1,1).

Em Outubro acontecerá o Sínodo dos Bispos. Nesta XII Assembléia Geral Ordinária a Palavra de Deus na vida e na missão da Igreja será o tema tratado pelos sucessores dos Apóstolos. Por isso e porque estamos no mês da Bíblia, vos apresentaremos três breves chaves de leitura, tendo por base o 'Instrumentum Laboris' (instrumento de trabalho), que serve de subsídios para as discussões que preparam o documento final. Já no início o texto pondera que a 'perspectiva cristológica é necessariamente acompanhada da pneumatológica, que juntas permitem descobrir a dimensão trinitária da revelação.

No n. 4 já se apresenta qual é a finalidade do Sínodo que vem dedicar-se ao tema da Palavra, com a qual "Deus invisível (cf. Col 1,15; 1 Tm 1,17), no seu grande amor, fala aos homens como a amigos (cf. Ex 33,11; Jo 15,14-15) e Se entretém com eles (cf. Bar 3,38), para convidá-los e admiti-los à comunhão com Ele (idem. DV 2)". O Sínodo propõe-se, entre os seus objetivos, ajudar a esclarecer melhor os aspectos fundamentais da verdade sobre a Revelação, como são a Palavra de Deus, a fé, a Tradição, a Bíblia e o Magistério, que motivam e garantem um caminho de fé válido e eficaz; estimular um profundo amor à Sagrada Escritura, para que "os fiéis tenham largo acesso" á mesma (idem. DV 22), sublinhando a unidade entre o pão da Palavra e o pão do Corpo de Cristo, para o pleno alimento da vida dos cristãos. A estrutura do instrumento articula-se em três partes: 1ª) põe em foco a identidade da Palavra de Deus segundo a fé da Igreja; 2ª) trata da Palavra de Deus na vida da Igreja; 3ª) reflete sobre a Palavra de Deus na missão da Igreja. A seguir vamos, sinteticamente, tratar da primeira.

O texto, citando a DV 2 (Documento do Concílio, sobre a Revelação), propõe uma teologia dialógica da manifestação de Deus. Nesse diálogo, há três aspectos que estão intrinsecamente ligados: a amplidão de significado que o termo 'Palavra de Deus assume na Revelação divina; o mistério de Cristo, expressão plena e perfeita da Palavra de Deus; o mistério da Igreja, sacramento da Palavra de Deus. Ainda assevera que os cristãos, em geral, apercebem-se da centralidade da pessoa de Jesus Cristo na Revelação de Deus, mas nem sempre sabem captar as razões dessa importância e compreender em que sentido Jesus é o coração da Palavra de Deus; daí que também lhes custe fazer uma leitura cristã da Bíblia (cf. n.11). Esta relação substancial entre a Palavra de Deus e o mistério de Cristo configura-se, assim, na Revelação como anúncio e, depois na história da Igreja, como aprofundamento inesgotável. A Igreja, porque é mistério do Corpo de Jesus, acaba por ter na Palavra o anúncio da sua identidade, a graça da sua conversão, o mandato da sua missão, a fonte da sua profecia e a razão da sua esperança (cf. n. 12).

Por fim, a clareza sobre quem a plenitude da Revelação, para a Teologia e para o sentido da vida cristão, é fundamental para uma séria hermenêutica da Palavra de Deus na vida da Igreja e no coração do Povo de Deus. Essa palavra que, porque é divina, vem para a 'conversão' de todos e para todos. Cada ser humano, já que é imagem e semelhança de Deus (cf. Gn 1, 26-27) tem direito a ela para que através dela, pelo amor, se converta e viva. Por isso, sejamos todos amantes e vivenciadores Daquela que é o princípio de Tudo. Assim o seja!

quarta-feira, 3 de setembro de 2008

A Igreja, o STF e o aborto de anencéfalos

No momento está sendo abordado, pelo Supremo Tribunal Federal, o tema pela Argüição de Descumplimento de Preceito Fundamental (ADPF) 54, que tramita na máxima corte do País. A ADPF foi ajuizada em 2004 pela Confederação Nacional dos Trabalhadores na Saúde (CNTS), com o objetivo de descriminalizar o aborto de fetos anencéfalos. Estes são tidos como seres "sem futuro" porque apresentam mal-formações e que por isso devem ser descartados. No momento a questão é que há ilegalidade deste tipo de infanticídio por ainda o feto ser considerado uma pessoa. O que está sendo discutido, como a própria argüição já o diz, é a possibilidade deste direito do nascituro não ser mais reconhecido.

Muito bem! Mas o que a Igreja vem coerentemente defender é o supremacia da Vida. O feto anencéfalo é Vida! Para os cristãos e para um sério Estado Democrático de Direito, o que deve estar em jogo é a "Dignidade Humana" desde a sua concepção até a sua morte natural. Neste caso, não é cabível nem as pelejas entre a ciência, a filosofia, o direito e a religião; porque mesmo com suas dificuldades na formação encefálica, o feto deve ter sua dignidade salvaguardada livre de qualquer tentativa da prática do "aborto- eugênico". Segundo o Texto-Base da CF/2008, após grande pressão, se tem obtido autorização no Brasil para realizar aborto de fetos que apresentam mal-formações, embora seja ilegal. São rejeitados os fetos "imperfeitos". É usado também para diminuir a rejeição da opinião pública ao procedimento, uma vez que todos reconhecem o grande sofrimento dos pais. Entretanto, disfarçadamente, já se fazem no Brasil abortos por problemas que não são incompatíveis com a vida, notando-se uma relativização do respeito pelo ser humano até sua morte natural e uma justificativa indevida no conceito de "doença incompatível com a vida". Verifica-se, ao mesmo tempo, a desvalorização da própria dignidade da mãe pela maneira como profissionais de saúde e até a mídia se referem a ela, ao chamá-la de "caixão ambulante". Além disso, ocorre a grave infração ética de negar o direito à vida a uma criança doente ou deficiente (cf. n.79).

Pela negação ou pelo desconhecimento duma séria concepção sobre a condição humana se nega a sua "forma intelectiva e relacional" quando são tratados estes temas de suma delicadeza. Esta estruturação envolve toda a pessoa e a pessoa toda. Ainda, se percebe uma estratégia de ser paulatinamente infiltrada na mentalidade da sociedade uma futura abertura para a descriminalização do aborto. Com o empenho imediato, deve ser tonificada uma Campanha de Conscientização junto às comunidades sobre o sentido e o valor da Vida em todas as situações. O Poder positivado existe para estar em função da vida e da sua dignidade.

Por fim, sejamos corajosos e conscientes acerca da responsabilidade que todos nós temos. Nos organizemos! Busquemos a Verdade e sirvamos a ela; pois só por ela é que somos livres. O Caos se manifesta como pseudônimo do Mal. A Pessoa deve ser sempre o fim da técnica e da ciência. O que aconteceu na II Guerra Mundial não está distante de nós. Depois que ninguém venha perguntar: Onde estava Deus que deixou tudo isto acontecer?! A liberdade é nossa. O que estamos fazendo com ela? Será que estamos escolhendo a Vida ou a Morte? Por Amor, escolhamos, pois, a Vida!