São José de Mipibú - RN / Arquidiocese Natal

quarta-feira, 24 de dezembro de 2008

O Natal do Senhor

Certa vez, ouvi um professor fazer uma crítica acefálica ao evento natalício. Claro que percebi que era mais um pobre de espírito que precisava alimentar sua alta suficiência com algo que pudesse fazê-lo sentir-se alguém dotado de 'estórias' para contar. Depois de certo tempo, também cheguei à conclusão que aquele imediatista era um ícone pelo qual se podia comparar a mentalidade anticristã da Pós-modernidade. A sua alegação era o dado de que não se tinha a data certa do nascimento de Jesus Cristo. Ainda, esta era uma data pagã de se celebrar o dia do "rei sol". Muito bem! Quanto a isto, ele falou de algo historicamente reconhecível. Mas, ele esqueceu de dizer, por questão de honestidade intelectual, o que estava sendo pensado pelos cristãos ao resignificar este evento para o enriquecimento da própria tradição, que até hoje vive este momento como algo que faz parte da sua identidade cultural e universal. Há, também, que se afirmar que não existe desonestidade institucional quanto ao fato de que o que se deseja é a celebração do Natal do Filho de Deus, como Dom e Revelação do Infinito que se torna Finito. Não invenção histórica a existência de Jesus de Nazaré.

Hoje constatamos que mais uma vez nos deparamos com um novo paganismo. Os ídolos estão novamente fazendo parte da cultura ocidental, como meio de satisfação do anseio humano de compensação por aquilo que deseja intimamente obter: "o sentido da vida que constantemente precisa ser satisfeito pelo objeto que se deseja". Mas o que é oferecido pela idolatria não preenche a condição humana na sua peleja permanente pela felicidade. Mas daqui surgem algumas inquietações interessantes no confronto com o nosso contexto. Por exemplo: Por quê o natal é vivido como período de consumismo? Por quê a mão invisível do mercado determina as formas de celebração deste momento? O que a sociedade busca no materialismo exacerbado? Como estes comportamentos alimentam a neurose coletiva e a quem isto interessa? Claro que, porque sabemos e temos um referencial, podemos dizer que a idolatria ressurge como meio de dominação duma civilização que tem novos paradigmas e que, mesmo reformulados, têm metas comparadas ao que o paganismo clássico tinha, e, alimentam uma vontade de poder e ter que alimenta um eu inconsciente que subjuga a liberdade a transcendental e para Quem deveria se encaminhar absolutamente. Contudo, há uma diferença relevante: os antigos não conheciam o que era a Verdade; hoje, ao contrário, se conhece e não se quer aceitá-La porque se deseja matar Quem não pode mais morrer.

As formas modernas de experiências natalinas depreciam a dignidade humana. Diferentemente do que é essencial para o cristianismo que, em Cristo, eleva augustamente a forma divina de celebrar o humano. Claro que o entendimento de toda a mística do Natal só pode ser compreendida por quem ler dentro da vida cristã o que representa para os discípulos deste mesmo Filho, que no coração e na consciência acolhem um menino que para aqueles que têm Fé e Esperança significa a certeza do Amor pleno e eterno, em Deus.

Por fim, concluo citando o evangelista que diz: "José subiu da cidade de Nazaré, na Galiléia, para a Judéia, na cidade de Davi, chamada Belém, por ser da casa e da família de Davi, para se inscrever com Maria, sua mulher, que estava grávida. Enquanto lá estavam, completaram-se os dias para o parto, e ela deu à luz o seu filho primogênito, envolvendo-o com faixas e reclinou-o numa manjedoura, porque não havia lugar para eles na sala (Mt 2,4-7)". Nós cristãos, celebramos este único momento no dia 25 de Dezembro que é dia do Nascimento do Nosso Salvador. Feliz Natal e Assim o seja!

quinta-feira, 11 de dezembro de 2008

Os meios de comunicação e ética profissional

Na contemporaneidade os meios de comunicação são de suma importância para a formação da mentalidade de que o mercado liberal e suas adjacências são necessários para a felicidade do homem. Eles fortalecem o sistema e, em contrapartida, são fortalecidos por este. Há uma conveniência de interesses e auto-sustentação. Estes instrumentos influenciam diretamente no poder de consumo da sociedade. Hoje, mais do que nunca, estes veículos, que se distanciam cada vez mais da sua principal finalidade, que é de informar a 'Verdade', enveredam pelas vias dos interesses de grupos empresariais, grupos políticos, especuladores da economia, contadores de 'estórias'etc, ou seja, mostram à sociedade o superficial como se fosse essencial e real.

O Papa João Paulo II, de saudosa memória, quando escreveu aos responsáveis pelas comunicações sociais disse que "o desenvolvimento positivo dos meios de comunicação a serviço do bem comum é uma responsabilidade de todos e de cada um. Pelos fortes laços que os meios de comunicação têm com a economia, com a política e com a cultura, é necessário um sistema de gestão que esteja em condição de salvaguardar a centralidade e a dignidade da pessoa, o primado da família, célula fundamental da sociedade, e a correta relação entre os diversos sujeitos". Mas como essa conciliação vai acontecer se estes meios de comunicação estão se prostituindo cada vez mais, já que normalmente já nascem dentro de esquemas corroídos por muitos que precisam 'disfarçar o real pelo virtual'? Estes dilemas nos impõem uma reflexão. O Papa diz que algumas escolhas são necessárias e são redutíveis a três opções fundamentais: a) formação, b) participação e c) diálogo.

"Em primeiro lugar, é preciso uma vasta obra 'formativa' para fazer com que os meios de comunicação sejam conhecidos e usados consciente e devidamente. As novas linguagens por eles introduzidas modificam os processos de aprendizagem e a qualidade das relações humanas, e, por isso, sem uma formação adequada corre-se o risco de que eles, em vez de estarem a serviço das pessoas, cheguem a instrumentalizá-las e condicioná-las inadequadamente. Em segundo lugar, diz o pontífice, quero chamar a atenção sobre o acesso aos meios de comunicação e sobre a participação co-responsável na sua gestão. Se as comunicações sociais são um bem destinado a toda humanidade, são encontradas formas sempre atualizadas para tornar possível uma participação ampla na sua gestão, também através de oportunas providências legislativas. É preciso fazer crescer a cultura da co-corresponsabilidade. Por último, não são esquecidas as grandes potencialidades que os meios de comunicação têm para favorecer o diálogo, tornando-se veículos de conhecimento recíproco, de solidariedade e de paz (João Paulo II)".

Por fim, estas inquietações podem fazer parte da vida daqueles que ainda tem responsabilidade profissional. Mesmo dentro de estruturas massificantes e permeadas de grandes confrontos morais, ainda há a possibilidade de que a liberdade de consciência ilumine a vida e a dignidade de muitos profissionais amantes da Verdade. Ela tem uma fonte e, esta, é inesgotável. Quando não aparece de um modo, aparece de outro. Os desmandos e estratagemas da mediocridade não podem perpetuar o que é próprio da leviandade. Sendo assim, confiemos que esses maravilhosos mecanismos mostrem ao mundo o que realmente vale a pena ser visto. Assim o seja!

quinta-feira, 4 de dezembro de 2008

Carnatal e questões sociais

Mais uma vez os natalenses, potiguares e vários outros entusiastas de festividades, vindos de várias regiões do Brasil e, quiçá, do mundo, se preparam para o carnatal. Este é um momento caracterizado pelo seu modo de relacionamento imediato, descompromissado, vazio, rebelde, irresponsável, alucinado, despersonalizado, instintivo, utilitarista, sodomônico, ou seja, impossibilitador e atrofiante das perspectivas culturais duma sociedade. Mas é uma forma metodológica de alimento das indústrias das festas de massa que proporcionam aos grandes empresários lucros grandiosos. O carnatal é festa do mercado liberal. Nele estão presentes os traços característicos da pos-modernidade. A pessoa não é fim; mas meio de satisfação de poucos pela degradação da maioria. Observemos a estrutura material e logística do espaço onde acontece o evento. Nos camarotes estão os políticos, os empresários, os artistas da propaganda e da desocupação e outros convidados 'especiais'. Num segundo plano estão os que querem estar no meio e nos solavancos da avenida. Ali ninguém é de ninguém! Os participantes testemunham que quem se lança naquele arrastão se droga muito, se beija muito, se briga muito e segundo o chavão que atualmente se ouve por aí: eu prefiro não comentar! Neste grupo todos estão com os abadás. Estes são uns pedaços de pano com as propagandas dos patrocinadores e que, por sinal, são muito bem vendidos porque são a garantia da participação dos blocos. Numa terceira instância estão os que de fato não têm como participar da elite. Por isso, se contentam com a pipoca, o cachorro quente, com a embriaguês imediata, com o roubo do celular, com o resto de quem nem se lembra destes terceiros, porque se o fizessem, preparariam o mínimo de estrutura para a participação destes que são os maiores marketeiros das propagandas enganosas.

Para o sucesso do investimento é imprescindível a mídia. O que a torna sumamente importante é que é próprio dos novos areópagos que eles apresentam um acontecimento social como algo muito maior do que parece ser. Agora se divulga os atos filantrópicos que os carnatalescos estão promovendo. Muito maior do que essas atitudes de marketing que são usadas como máscaras das reais finalidades do carnatal, estão os males e o descaso com as pessoas. Se o evento acontece, porque não tentar humanizá-lo? Claro que muito dinheiro é injetado na economia do Município e do Estado; contudo, as conseqüências e os gastos para que tenha segurança, os vários casos de mortes e acidentes, o comércio de drogas que neste momento se sobrepassa a qualquer outro tipo de comércio, para alegria dos traficantes e desgraça dos aderentes e dependentes químicos. As formas de se ver o carnatal devem ser encaradas de diversos ângulos. O que está em jogo é a vida, a pessoa humana, a sua dignidade, os seus direitos, o modo como é visto uma maioria pela minoria. Quem acompanhou a situação do hospital Walfredo Gurgel vai pensar logo sobre o que estou falando. Os da terceira instância pensem duas vezes antes de precisarem do sistema de saúde que o poder público oferece. Quanto à segurança, a polícia vai vos segurar da aproximação de quem está dentro e nas alturas dos camarotes.

Por fim, o que continua é a certeza de que precisamos ler a história e os fatos que elevam a alegria da humanidade. A nossa mais digna condição é de sermos filhos de Deus. Só no encontro com o Outro, que é objeto do amor, é que a felicidade acontece. Os traços característicos desta sociedade pululante são colocados em dúvida globalmente pela crise econômica. O tempo, com seu desenrolar dialético, nos dará uma resposta para estas questões sociais e humanas. Sendo assim, não desanimemos, pois somos filhos da Esperança. Assim o seja!

quarta-feira, 26 de novembro de 2008

O cego e a cegueira

Quem teve a oportunidade de assistir ao filme 'ensaio sobre a cegueira', deleitar-se-á com uma obra fantástica. Pois, por meio dela, o telespectador terá a oportunidade de sentir o que é a degradação humana. O homem quanto mais se depara com sua miséria, mais mostra a sua verdadeira face. Mas, por quê? O que é que de fato nós precisamos ver, para não ficarmos cego diante deste mundo e neste que nos circunda e no qual nós estamos contidos?

Nós precisamos de luz. A vida do cego de nascença tem o seu sentido porque a totalidade dos seus sentidos só será conhecida por aquilo que ele sentiu ou viu. Ele pode ser considerado como um aético, porque ele pode amadurecer por causa daquilo que lhe é faltoso. Como ele não conhece a luz, a escuridão se torna a sua companheira insossa. Todavia, o que acontece quando a visão é algo que dá sentido à vida e que possibilita a fuga do outro no que concerne aos nossos reais desejos e vontade de exercício de poder diante do outro que é mais fraco do que eu.

O Evangelho de João nos apresenta uma chave de leitura para o significado da verdadeira cegueira do homem. Jesus cura um cego de nascença. No texto citado ele surge como alguém mediante o qual sejam manifestadas as obras de Deus (cf. Jo 9,3). Isto porque Jesus é a luz do mundo (cf. 9,5). Não podemos deixar de pensar que nesta tecitura literária, no conjunto da obra joanina está a convicção de que quem está sem Jesus é como um cego que não conheceu a luz. Neste sentido, de fato, nem ele nem seus pais pecaram; mas tudo o acontece para que se manifeste a glória de Deus que não é condicionado a mostrar a sua verdade por causa daquele que é cego; mas, sim, por meio daquele que teve a oportunidade de conhecer a luz e não deixou de abraçá-la por causa da sua 'indiferença' diante do mundo e da vida.

Podemos ler que só depois que o cego ficou curado é que começou a ser visto pelos outros. Solvente é assim. Nós enxergamos aquilo que queremos ver ou quem queremos. O que nos interessa; o que nos é conveniente; o que nos dá prazer e satisfação pessoal. Estamos deixando de observar a vida e o meio; aqueles que precisam ser vistos por nós, como: nossas famílias, nossos filhos, nossos pais, os idosos, o drogado, o alcoólatra, a prostituta, os jovens desempregados, os famintos, os meninos de rua, os fetos anencéfalos e os que são abortados sem terem seu direito inviolável à vida respeitado etc.

Podemos exercer nosso livre arbítrio. Em meio a tantos cegos, há a esperança do exercício da visão. O nosso mundo pode perder a ordem se se deixar cegar pelo Mal que anima sua existência histórica. A lucidez humana é uma conquista do dia a dia que não dispensa um realismo antropológico. 'O ensaio sobre a cegueira tem por finalidade a mostra que nós não mudaremos enquanto não pararmos de ver as nossas medíocres aparências'. Nós corremos muito para buscar o conhecimento do mundo e esquecemos de nos conhecermos. Por isso, muitas e muitas vezes, estamos dentro da latrina e não nos damos conta que precisamos sair dela. Precisamos ter coragem, ousadia, valentia, determinação, firmeza, caráter, verdade, justiça, respeito, caridade, fidelidade etc.

Enfim, Jesus pode nos tirar desta cegueira que de passageira pode vir a ser eterna. Lembremo-nos que ainda estamos na fase do ensaio. A esperança tem consistência porque o presente não dispensa o futuro. Os que deixaram de enxergar, podem retomar a vista e olhar o seu mundo e o dos outros para que a interação exista, não só por causa da necessidade; mas por causa do amor verdadeiro e vivido. Assim o seja!

quarta-feira, 5 de novembro de 2008

Jesus, político?!

A Política, de fato, é arte e artimanhas humanas. Depois da articulação helênica, que, em Aristóteles ( A Política) e (A Republica) de Platão, dois textos clássicos da filosofia política, ganhou formalidade acadêmica como a "ação humana que tem por fim a harmonia das relações sociais, na Polis". O estagirita diz que o homem é um animal político. Ele é um ser social por excelência e suas atitudes têm implicações relacionais que o envolvem no organismo social como objeto e sujeito de interesses. Uma filósofa judia chamada Hannah Arendt interpretando este período da história política diz que o fim da política era proporcionar aos cidadãos: "a Liberdade". Aqui estão os pressupostos para afirmar que Jesus, pelas suas ações, teve uma postura historicamente política.

O amante (orante) e leitor dos evangelhos sinóticos (Mateus, Marcos e Lucas) vai encontrar logo no início da ação missionária de Jesus a seguinte mensagem: Em Mateus 4,17: A partir de então, Jesus começou a proclamar: "Convertei-vos, o Reinado dos céus aproximou-se"; em Marcos 1,15: "Cumpriu-se o tempo, e o reinado de Deus aproximou-se, convertei-vos e crede no Evangelho"; ainda em Lucas 4,18-19: "O Espírito do Senhor está sobre mim, porque me conferiu a unção para anunciar a boa nova aos pobres. Enviou-me para proclamar aos cativos a libertação e aos cegos, a recuperação da vista, para despedir os oprimidos em liberdade, para proclamar um ano de acolhimento da parte do Senhor". Por fim, pode ser acrescentado o que no evangelho de João Ele diz sobre o seu Reino no seu diálogo com Pilatos: "a minha realeza não é deste mundo. Se a minha realeza fosse deste mundo, os meus guardas teriam combatido para que eu não fosse entregue aos judeus. Mas minha realeza agora não é daqui" E continuam: Pilatos então disse: "Então tu és rei?" Jesus lhe respondeu: "És tu que dizes que eu sou rei. Eu nasci e vim ao mundo para dar testemunho da verdade. Todo aquele que é da verdade escuta a minha voz". E Pilatos lhe disse: "Que é a verdade?" (Jo 18, 36-38). O autor não apresenta uma resposta de Jesus; contudo, quem conferir (Jo 14,6)... Com estes elementos podemos já encontrar uma clara demonstração do que Jesus quer implantar em meio ao povo. Como deixar de lado o que Jesus queria que acontecesse? Em Jesus todas as coisas foram criadas. Nós não podemos imaginar que Jesus não fora um político. Aqui se pode rebuscar os conceitos clássicos para entender que Jesus, na história foi um político.

O que devemos frisar e interpretar é que Jesus tinha por missão a propagação do Reino de Deus, que, por sua, vez, para ser experimentado, exigia a conversão. Torno a repetir: Leiamos o evangelho e entendamos que o reinado de Deus proporciona ao homem a libertação de tudo: das doenças, mazelas, prisões, enfermidades etc, não só no presente; mas acima de tudo, no futuro. A dinâmica política de Jesus abarca todos os tempos porque o seu reinado não é deste mundo. Sendo assim, Ele é o Maior Político que já existiu e existirá, porque Ele é Deus e o seu reinado não terá fim.

Por isso, caros políticos, aprendam de Jesus, o Justo e Santo, o que significa ser político. Sejam políticos da verdade, da justiça e da paz. Não o sejam da corrupção, da mentira, da desgraça, da ganância, da discórdia, da injustiça etc. Aprendam de Jesus que é manso e humilde de coração! Os que o seguiram se tornaram os maiores políticos que já existiram e continuam a existir; mas porque viveram e amaram a Verdade. Assim o seja!

quinta-feira, 11 de setembro de 2008

No princípio era a Palavra...(Jo 1,1).

Em Outubro acontecerá o Sínodo dos Bispos. Nesta XII Assembléia Geral Ordinária a Palavra de Deus na vida e na missão da Igreja será o tema tratado pelos sucessores dos Apóstolos. Por isso e porque estamos no mês da Bíblia, vos apresentaremos três breves chaves de leitura, tendo por base o 'Instrumentum Laboris' (instrumento de trabalho), que serve de subsídios para as discussões que preparam o documento final. Já no início o texto pondera que a 'perspectiva cristológica é necessariamente acompanhada da pneumatológica, que juntas permitem descobrir a dimensão trinitária da revelação.

No n. 4 já se apresenta qual é a finalidade do Sínodo que vem dedicar-se ao tema da Palavra, com a qual "Deus invisível (cf. Col 1,15; 1 Tm 1,17), no seu grande amor, fala aos homens como a amigos (cf. Ex 33,11; Jo 15,14-15) e Se entretém com eles (cf. Bar 3,38), para convidá-los e admiti-los à comunhão com Ele (idem. DV 2)". O Sínodo propõe-se, entre os seus objetivos, ajudar a esclarecer melhor os aspectos fundamentais da verdade sobre a Revelação, como são a Palavra de Deus, a fé, a Tradição, a Bíblia e o Magistério, que motivam e garantem um caminho de fé válido e eficaz; estimular um profundo amor à Sagrada Escritura, para que "os fiéis tenham largo acesso" á mesma (idem. DV 22), sublinhando a unidade entre o pão da Palavra e o pão do Corpo de Cristo, para o pleno alimento da vida dos cristãos. A estrutura do instrumento articula-se em três partes: 1ª) põe em foco a identidade da Palavra de Deus segundo a fé da Igreja; 2ª) trata da Palavra de Deus na vida da Igreja; 3ª) reflete sobre a Palavra de Deus na missão da Igreja. A seguir vamos, sinteticamente, tratar da primeira.

O texto, citando a DV 2 (Documento do Concílio, sobre a Revelação), propõe uma teologia dialógica da manifestação de Deus. Nesse diálogo, há três aspectos que estão intrinsecamente ligados: a amplidão de significado que o termo 'Palavra de Deus assume na Revelação divina; o mistério de Cristo, expressão plena e perfeita da Palavra de Deus; o mistério da Igreja, sacramento da Palavra de Deus. Ainda assevera que os cristãos, em geral, apercebem-se da centralidade da pessoa de Jesus Cristo na Revelação de Deus, mas nem sempre sabem captar as razões dessa importância e compreender em que sentido Jesus é o coração da Palavra de Deus; daí que também lhes custe fazer uma leitura cristã da Bíblia (cf. n.11). Esta relação substancial entre a Palavra de Deus e o mistério de Cristo configura-se, assim, na Revelação como anúncio e, depois na história da Igreja, como aprofundamento inesgotável. A Igreja, porque é mistério do Corpo de Jesus, acaba por ter na Palavra o anúncio da sua identidade, a graça da sua conversão, o mandato da sua missão, a fonte da sua profecia e a razão da sua esperança (cf. n. 12).

Por fim, a clareza sobre quem a plenitude da Revelação, para a Teologia e para o sentido da vida cristão, é fundamental para uma séria hermenêutica da Palavra de Deus na vida da Igreja e no coração do Povo de Deus. Essa palavra que, porque é divina, vem para a 'conversão' de todos e para todos. Cada ser humano, já que é imagem e semelhança de Deus (cf. Gn 1, 26-27) tem direito a ela para que através dela, pelo amor, se converta e viva. Por isso, sejamos todos amantes e vivenciadores Daquela que é o princípio de Tudo. Assim o seja!

quarta-feira, 3 de setembro de 2008

A Igreja, o STF e o aborto de anencéfalos

No momento está sendo abordado, pelo Supremo Tribunal Federal, o tema pela Argüição de Descumplimento de Preceito Fundamental (ADPF) 54, que tramita na máxima corte do País. A ADPF foi ajuizada em 2004 pela Confederação Nacional dos Trabalhadores na Saúde (CNTS), com o objetivo de descriminalizar o aborto de fetos anencéfalos. Estes são tidos como seres "sem futuro" porque apresentam mal-formações e que por isso devem ser descartados. No momento a questão é que há ilegalidade deste tipo de infanticídio por ainda o feto ser considerado uma pessoa. O que está sendo discutido, como a própria argüição já o diz, é a possibilidade deste direito do nascituro não ser mais reconhecido.

Muito bem! Mas o que a Igreja vem coerentemente defender é o supremacia da Vida. O feto anencéfalo é Vida! Para os cristãos e para um sério Estado Democrático de Direito, o que deve estar em jogo é a "Dignidade Humana" desde a sua concepção até a sua morte natural. Neste caso, não é cabível nem as pelejas entre a ciência, a filosofia, o direito e a religião; porque mesmo com suas dificuldades na formação encefálica, o feto deve ter sua dignidade salvaguardada livre de qualquer tentativa da prática do "aborto- eugênico". Segundo o Texto-Base da CF/2008, após grande pressão, se tem obtido autorização no Brasil para realizar aborto de fetos que apresentam mal-formações, embora seja ilegal. São rejeitados os fetos "imperfeitos". É usado também para diminuir a rejeição da opinião pública ao procedimento, uma vez que todos reconhecem o grande sofrimento dos pais. Entretanto, disfarçadamente, já se fazem no Brasil abortos por problemas que não são incompatíveis com a vida, notando-se uma relativização do respeito pelo ser humano até sua morte natural e uma justificativa indevida no conceito de "doença incompatível com a vida". Verifica-se, ao mesmo tempo, a desvalorização da própria dignidade da mãe pela maneira como profissionais de saúde e até a mídia se referem a ela, ao chamá-la de "caixão ambulante". Além disso, ocorre a grave infração ética de negar o direito à vida a uma criança doente ou deficiente (cf. n.79).

Pela negação ou pelo desconhecimento duma séria concepção sobre a condição humana se nega a sua "forma intelectiva e relacional" quando são tratados estes temas de suma delicadeza. Esta estruturação envolve toda a pessoa e a pessoa toda. Ainda, se percebe uma estratégia de ser paulatinamente infiltrada na mentalidade da sociedade uma futura abertura para a descriminalização do aborto. Com o empenho imediato, deve ser tonificada uma Campanha de Conscientização junto às comunidades sobre o sentido e o valor da Vida em todas as situações. O Poder positivado existe para estar em função da vida e da sua dignidade.

Por fim, sejamos corajosos e conscientes acerca da responsabilidade que todos nós temos. Nos organizemos! Busquemos a Verdade e sirvamos a ela; pois só por ela é que somos livres. O Caos se manifesta como pseudônimo do Mal. A Pessoa deve ser sempre o fim da técnica e da ciência. O que aconteceu na II Guerra Mundial não está distante de nós. Depois que ninguém venha perguntar: Onde estava Deus que deixou tudo isto acontecer?! A liberdade é nossa. O que estamos fazendo com ela? Será que estamos escolhendo a Vida ou a Morte? Por Amor, escolhamos, pois, a Vida!

quarta-feira, 13 de agosto de 2008

O Cristão e a Depressão

Na experiência pastoral de hoje, nos deparamos com uma questão preocupante, não só para os psicólogos e psicanalistas, mas também, como servidores do Povo de Deus, para nós presbíteros (Padres). Constantemente, encontramos casos e queixas das pessoas que dizem ou pensam estar com depressão, que, segundo estudiosos, é tida como um dos grandes da era pos-moderna.

Inicialmente já constatamos que o problema não atinge uma casta ou camada seleta da Sociedade. Escutamos pobres, ricos, estudiosos, analfabetos, profissionais, religiosos que se lamuriam de estar com depressão. Isso aparece como fenômeno que relaciona muitos elementos desde a ordem material até as questões espirituais. Contudo, é notório encontrarmos um elemento mais imediato que surge como determinante para a pessoa que se diz depressiva: "ela perde o sentido e o encantamento da própria vida". Por trás deste dado psicológico e existencial, encontram-se "perdas" das mais variadas formas: falimentos nos negócios; traições; problemas familiares; violência doméstica; desempregos; abusos sexuais na infância; 'manipulação do mercado neoliberal que massifica o inconsciente coletivo induzindo-o a colocar o sentido da felicidade no ter, no poder e no prazer'; e, enfim, o indiferentismo, a manipulação e a comercialização do real e plenificador sentido do Amor de Deus pelo Homem. Quando nos referimos ao religioso, estou muito distante do modo como estar sendo inescrupulosamente usado o sagrado com fins lucrativos e empresariais, com a coisificação dos sofrimentos das pessoas. As seitas e as budegas do sagrado estão fazendo com as pessoas chagadas por todos estes infortúnios sociais se tornem objeto de charlatanismo e curandeirismo.

Um teólogo católico refletindo sobre a angústia (ou depressão) cristã, como fruto do pecado, diz que o "Cristianismo quer e pode redimir o homem da angustia do pecado, se o homem se abre à redenção e se submete às suas condições; em lugar da angústia do pecado, ele dá-lhe acesso a Deus sem angústia, na fé, na caridade (amor) e na esperança; as quais, derivando da cruz, podem por si mesmas provocar uma nova, carismática, coexpiante forma de angústia, no âmbito da solidariedade universal (Balthasar, O Cristão e a Angústia, pág. 51)". Lendo o texto, entendemos porque o autor faz a afirmação ao da 'solidariedade universal' por causa da cruz de Cristo, que nos reúne como objeto do Amor universal de Deus. "O Homem moderno e alienado da sua verdade fundamental não está sabendo como direcionar os seus sofrimentos e como transformar o sentimento de morte que é próprio dele, porque começou a iludir-se que poderia vir a ser o super-homem só pela vontade forte". Aqui podemos instigar a atenção para um diálogo interdisciplinar que chame em causa o aprofundamento do que é a essência do Mal e, por conseguinte, a verdade sobre o Pecado... Os males presentes nas relações humanas merecem também esta reflexão. O Cristianismo como religião do Deus Amor continua sendo a Resposta Última para o que as pessoas mais estão buscando, muito inconscientemente ainda, para as suas vidas agitadas e caóticas.

Enfim, para nós Cristãos, a certeza de que Cristo e a sua vida é o Razão de tudo o que existe sobre o céu e a terra deve inquietar-nos a buscar Nele o sentido para tudo o que nós buscamos fora e que nunca encontraremos se antes não buscarmos em nós mesmo. Os nossos corações estarão sempre inquietos enquanto não repousarmos Nele (Santo Agostinho). A proposta da Palavra de Deus sempre será atual porque fala ao homem o que ele quer mais saber sobre ele mesmo. Sejamos Cristãos conscientes da Verdade que nos liberta e do Amor que nos encanta. Assim o seja!

quarta-feira, 30 de julho de 2008

O Mal não tem o que perder!

Eu penso que muitos amantes do cinema já viram o filme: "Batman, o cavaleiro das sombras". Longe de fazer uma leitura imediatamente lúdica da criação, seria interessante pensá-la como instrumento que possibilita uma realística interpretação da nossa sociedade, comunidade etc. O enredo é muito bem situado no modo de conceber a vilania, a corrupção, o sofrimento e, enfim, como estes ciclicamente se voltam para as próprias relações de buscas, vontades, vinganças, ódios, desordens, que estão intrinsecamente enxertados na holística estruturação humana. Existe na pessoa uma tendência ao Mal. O personagem, o Coringa, que, por sinal interpretado brilhantemente, aposta na ação malévola e animalesca dos seres humanos. Ele concebe, por uma transferência doentia, que todos os homens são maus e que, por isso, não há esperança para as reais possibilidades da feliz proporção do bem.

Em meio a tudo isto está a teleologia da justiça. Ela pode ser a esperança dos cidadãos para a realização e harmonia e a prática destes? Ela é constituída para os homens e por estes ou vice-versa? Se trouxermos e analisarmos a nossa conjuntura tendo-a como meio de interpretação, encontraremos muitos elementos do filme inseridos nas nossas instituições. Num dos diálogos do Coringa com o personagem principal, o vilão se mostra como alguém que diante da satisfação de instigar o caos, usa como argumento o fato de que ele não tem o que perder, ou seja, ele é vazio de tudo que possa ser objeto de afeição. O mal é o nada que quer o esvaziamento daqueles que buscam ou desejam o "tudo"! Onde está presente o caos não há felicidade. O trivial desta é a integração. O bem é a conseqüência necessária das ações dos que amam. Quem ama e é amado promove o bem e é feliz! O Mal vomita a desordem e se regozija com a confusão. Com isto, quero dizer que a questão do Mal, por ser também uma questão antropológica de suma importância e que se supera constantemente, não pode ter uma resolução imediata porque ele é fruto do contingente. A reflexão sobre o significado e sentido dele poderia ser, mesmo na sociedade pos-moderna, pensado para a melhor instrumentalização da lei como meio de organização da ordem social. O homem tem pavor do caos. Mas por que? Batman, como muitos outros "super-herois" do cinema, nos mostra esta 'verdade' constantemente: "as pessoas querem líderes que deveras sejam sinais de esperança de vida plena, porque todos anseiam, mesmo que protegidas por alguém tão obscuro, pelo bem absoluto".

Um olhar sociológico e de analista político será oportuno quando os telespectadores estiverem a deleitar-se com a película. Os fantasmas do Batman, como bem observa o Coringa, são necessários para a própria compreensão do morcego bilionário. Ele apesar de tantos sofrimentos, ainda assim, passa como figura que faz dos infortúnios, molas motrizes para edificação da justiça e acredita neste projeto até o fim. Então, se pode diametralmente afirmar que o meio não pode ser tido como elemento determinante para aqueles que vivem da injustiça e promovendo a discórdia em detrimento dos demais seres humanos.

Mesmo que o horizonte finito dos que esbofeteiam com a indiferença a esperança dum mundo justo e solidário, é mister que o Mal não ofusque a Bondade. A justiça humana não será suficiente para responder as inquietações humanas porque o homem se supera cotidianamente. A razão não violenta a realidade porque esta tende a organizar o que a define como essência absoluta do homem. Só Ela como Logos de Deus dado ao homem, totaliza o que é caótico do homem e do mundo. Assim o seja!

quinta-feira, 17 de julho de 2008

As escolas e as famílias

Na experiência pastoral, como sacerdote e pastor duma comunidade paroquial, escuto constantemente os depoimentos de diretores e professores de escolas que estão detectando a séria e problemática relação que atualmente está existindo entre as escolas e as famílias. As questões são múltiplas e variadas e envolvem dificuldades de ordem materiais, psicológicas e espirituais.
Os depoimentos apresentam atitudes de alunos que trivialmente vem de famílias desestruturadas. Pais alcoólatras, desempregados, com dificuldades de relacionamento, indiferentes à dimensão espiritual, sem engajamento em grupos sociais, com baixo nível de educação, com crises existenciais, enfim, carências múltiplas concernentes à dimensão antropológica. Os questionamentos dos gestores da educação são: o que fazer? Por que no ambiente escolar, às vezes, muita coisa parece estar tão caótico? Por que as nossas crianças e jovens parecem ser tão mau amadas? Professores despreparados e mau remunerados, estruturas físicas de péssima qualidade Etc.

Como sacerdote disse e tenho convicção disso, que o que está faltando é amor na vida das pessoas. Qualquer psicólogo ou psicopedagogo observará esta dificuldade. Um ambiente familiar no qual não há harmonia entre pais e filhos não conseguirá enviar para as escolas alunos equilibrados, e, para sociedade bons cidadãos. Não é uma questão só sociológica; mas posso afirmar que é também transcendental. O descaso com o valor da pessoa humana que é imagem e semelhança de Deus, está levando ao total indiferentismo por parte dos próprios seres humanos da necessidade de valorizar a família como célula mais importante para a sadia e progressiva realização de cada membro de qualquer outra instituição. Observando os ambientes escolares percebemos esta 'verdade'. Há uma tentativa de reinvenção de paradigmas, porém o que está sendo para assumir essa realidade fundante da estrutura social? Nas escolas, sem deixar de refletir sobre as dificuldades sistêmicas, pode-se perguntar acerca da visão que temos da necessidade de fazer um intercâmbio permanente das vivências das famílias e das escolas. Estas precisam fazer de modo continuado um diagnóstico das reais condições familiares existentes em cada meio no qual a instituição está funcionando. Partindo de cada caso e situação concreta traçar metas que centralizem a pessoa em todo o processo educativo, que, por sua vez, tanto epistemológico quanto contextualmente auxiliem no bom desenrolar do processo pedagógico.

Há ainda que lembrar que infelizmente os investimentos na educação são poucos. Estes, ainda, são desviados, pelos gestores públicos, da sua finalidade precípua. Para as escolas e famílias faltam o acompanhamento psicopedagógico, a merenda escolar que é de má qualidade, o pagamento de funcionários da educação que não atinge o piso salarial e, outrossim, saem atrasados, a formação permanente que não acontece na maioria das escolas por falta de preparo e perspectivas dos próprios professores; a obrigação de trabalhar na educação por muitos destes por não ter outra opção de trabalho, gerando assim a infeliz e desgastante ação profissional.

Por fim, com força de vontade, parcerias como: família, escola, igreja e outras entidades não governamentais podem fazer a diferença nos municípios, pode-se fazer muito pelo bem das nossas queridas crianças e adolescentes. Quem ama a vida e reconhece o valor de cada ser humano vai estar sempre aberto para promover a felicidade e o preenchimento dos mais belos e universais anseios daqueles que na família, pela escola e na comunhão com o amor verdadeiro de Deus, serão o futuro da humanidade. Assim o seja!

quinta-feira, 10 de julho de 2008

Uma espiritualidade que acontece no encontro

Nós, os padres da Arquidiocese de Natal, estamos no nosso retiro anual. Juntamente com o nosso Arcebispo, D. Matias Patrício de Macedo, fazemos a experiência da comunhão presbiteral. Para nós é tempo de graça, ou seja, da manifestação da presença de Jesus que nos diz, pela Palavra "Não rogo somente por eles, mas pelos que, por meio de sua palavra, crerão em mim: a fim de que todos sejam um (Cf. Jo 17,20-21a)". A nossa espiritualidade cristã passa necessariamente pelo encontro. Nós presbíteros devemos dar este testemunho ao mundo. O Documento de Aparecida nos convoca novamente a esta atitude. Para que esta palavra aconteça se faz mister o 'encontro pessoal com Jesus, que acontece na comunidade, alimentado pelos sinais manifestadores da real presença de Deus em nosso meio. A comunhão presbiteral é um dos meios pelos quais nós dizemos ao querido Povo de Deus que nós acreditamos no que pregamos. Não esqueçamos que é oração do próprio Jesus que todos sejam um (Idem). No nosso retiro, mais do que reunir-nos para ouvir as palavras do pregador, que este ano é o D. José Maria Pires, Arcebispo emérito de João Pessoa, nos encontramos como Presbitério para experienciar a unidade. Nós não podemos pecar contra a unidade da Igreja. Seria uma indiferença às palavras do próprio Jesus.

Às nossas queridas comunidades: rezem pelo clero! Apóiem os presbíteros na missão, que por sinal é de todos os cristãos. Aqui, onde se realiza o retiro, nós rezamos por todos vós. A razão de ser do nosso ministério sois vós. O coração do presbítero que tem consciência da sua identidade alegra-se com o vosso bem. O nosso encanto deve voltar-se para o que de fato vós esperais de nós. Esse encontro da espera e da doação deve acontecer sempre. Certamente, o sentido do retiro tem a ver com a preocupação da Igreja com cada filho seu. O Presbítero deve ser um homem de relação com Deus. Por isso, a comunhão que possibilita que todos sejam um, como o Pai e o Filho, precisa ser a nossa meta.

Infelizmente, alguns irmãos no ministério, por causas justificáveis, não puderam estar conosco. Por motivos diversos: saúde, idade, questões acadêmicas etc. Contudo, a certeza de formamos um só corpo nos une pela oração. Presbítero que se isola da missão comum da Igreja e da comunhão com seu Bispo atrofia a causa imediata do seu ser sacerdotal. Mesmo participando do Único Sacerdócio de Cristo, é pela comunhão que se materializa a unidade sob a ação do Espírito de Deus em nosso meio. Nenhum outro retiro substitui este momento de encontro do clero da Igreja particular. Quando nos encontramos somos fortalecidos e nos animamos para a Missão.

Por fim, o testemunho deixado a todos os cristãos é que nos consagramos para vossa felicidade. O Presbítero que não nutre esta perspectiva ministerial, normalmente se frustra. Então, mesmo como vossos servidores não esqueçam da humanidade do presbítero. A vida cristã vive e acontece pela caridade. A espiritualidade do Presbítero está vinculada de forma intrínseca à mística cristã. Mais uma vez no nosso retiro queremos tonificar esse propósito para nossas vidas. A oração sacerdotal de Jesus (Cf. Jo 17) é um ótimo instrumento de reflexão para o aprofundamento do sentido do sacerdócio. Às nossas comunidades a confirmação de que estamos e somos felizes porque nos consagramos a vós e a todos nós presbíteros da Arquidiocese de Natal que alimentemos, pelo encontro com Jesus na face do irmão presbítero, o nosso propósito de promover a unidade para que o mundo creia (Cf. Jo 17,21b).

domingo, 25 de maio de 2008

A Igreja e o Diálogo com a Cultura Pós-Moderna

Depois do Concílio Vaticano II e a sua mentalidade que é notoriamente dialógica e renovadora, um novo espírito surge no interior da Igreja. Basta que seja lido o seu integrado e integralizador documento: Gaudium et Spes. A lógica deste maravilhoso texto ainda não foi absorvida por muitos cristãos católicos. Ela nos coloca diante do grande desafio da Igreja, que deve ser, para a Humanidade, o “Universal Sacramento de Salvação”. Observando a realidade e embasado por aquilo que é magistralmente apresentado por esta Igreja pós-conciliar, o que é urgente é o diálogo respaldado por três vias, a saber: 1º) - Verdade; 2º) - Respeito; e o 3º) - Evangelho.

A Verdade: O evangelista João apresenta Jesus como a Verdade (Jo 14,6) e o seu Espírito é o Espírito da Verdade (Jo 14,17). Nós acreditamos nesta Verdade! Ela é uma Pessoa. Ela não se confunde com a “adequação do intelecto a coisa”, mas do intelecto, do coração e do espírito à Pessoa, que é a própria manifestação de Deus amor (1 Jo 4,8). Por isso, o nosso diálogo com o mundo não pode ser somente “apologético”, pois, isto significa em dizer que o outro é para a gente só uma ameaça. O próprio Jesus disse: “Eu vim chamar não os justos, mas os pecadores, para que eles se convertam (Lc 5,32)”. Não esqueçamos que se converter é mudar de mentalidade por causa do encontro pessoal com Jesus.

O Respeito: O respeito pelo “Outro” é indispensável para o entendimento do significado do diálogo na Cultura pós-moderna. Isto implica dizer que a identidade de cada um seja respeitada. Esta responsabilidade, cada indivíduo, como ser pensante, deve ter e esforçar-se para mantê-la. A Igreja, que tem como Protótipo a Trindade, precisa lançar-se para dizer isto ao Mundo. Os pressupostos inerentes pela própria ordem sistêmica (Niklas Luhmann) possibilitam um lúcido envolvimento com as diversas institucionalizações de “verdades”. Estas não falam de uma verdade decorrente e, por isso, contradizem o que é próprio dela. Não existe forma ingênua de dizer a verdade quando o “Outro é respeitado”. O que falta na civilização neurótica de hoje é a busca do conhecimento da verdade do “Outro” que é a via de encontro sem a qual não se conhece a “Verdade”.

O Evangelho: poderia ser dito que falta conhecimento da Palavra. Jesus é a Palavra(Jo 1,1). O Evangelho possibilita o diálogo com todas as culturas. O importante é o esforço e a coragem de estar no mundo. Pregar e falar do Evangelho é falar de Jesus. A categoria “Reino de Deus” pode ser colocada como princípio hermenêutico na realização deste projeto, que é Dele. A defesa só acontece diante do inimigo. Para o Cristão o “Outro” não pode ser inimigo. Ele é imagem e semelhança de Deus (Gn 1,27). A apologética pré-conciliar não tem lugar numa Igreja que tem consciência da sua identidade missionária. Aprofundemos o espírito de Aparecida e as diretrizes da ação evangelizada traçadas pela última reunião dos Bispos, em Itaici. Esta Igreja ou assume sua postura evangélica e missionária ou estará pecando contra o mandado de Jesus, que envia (Mt 28,19-20).

Por fim, o esforço espiritual e intelectual vem a ser, hoje, algo urgente, tendo em vista os desafios atuais. A coragem não dispensa a sabedoria e a inteligência. O amor àqueles que são carentes da Verdade não dispensa a seriedade das nossas atitudes e nosso testemunho. O diálogo autêntico e evangélico da Igreja com o mundo só vai acontecer quando o cristão assumir como precisa viver, para que todos os povos tenham vida Nele.

terça-feira, 29 de abril de 2008

A unidade nos fortalece

“Quem não prezar pela unidade não subsistirá”. Os horizontes que delineiam as construções e reconstruções dos sistemas sociais da modernidade valorizam o individualismo. O capitalismo selvagem e seus vários instrumentos de controle e manipulação direcionam seus estratagemas para fomentar a continuidade e permanência de tudo aquilo que substancia este solipsismo pessoal. A sociedade hodierna é a marionete de quem tem o dinheiro. O predicado que a qualifica de “enferma” não é confrontado pela maioria que não tem uma proposta humanizadora e humanizante para dizer o que e como pode ser feito para curá-la da sua desagregação esquizofrênica.

A palavra que não pode calar do começo ao fim de qualquer relação social é “Unidade”. Não foi em vão que Jesus, que é o Senhor Ressuscitado, pede que todos sejam um como ele e o Pai o são (Jo 17). Aqui não dispenso, para uma encantadora compreensão, todo o capítulo. Só pela unidade e a comunhão a sociedade pode ser reconciliada. Isto serve para todas as células sociais, principalmente as famílias. Mesmo que seja inquietante dizer isto, mas o sinal mais claro de que a sociedade está desorientada é que as famílias estão perdendo a sua identidade. Esta crise surge quando a cultura se tornou “aculturada”. O homem deixou de ser fim e veio a ser meio das artimanhas políticas e econômicas, tendo seu marco significado na revolução industrial (séc. XIX), no momento que passou a ser substituído por aquilo do qual ele deveria ser o senhor.

Apresento a questão de modo geral para instigar a provocação que não deveria ser só teológica e eclesial; mas política e global. Jesus, que de fato é o mestre, disse: “Se um reino se dividir contra si mesmo, tal reino não poderá subsistir. E se uma casa se dividir contra si mesma, tal casa não poderá manter-se (Mc 3,24-25)”. O grande desafio para um possível e justo ordenamento social se encontra, num mundo globalizado, na convivência com o diferente. Como o indivíduo, que pensa que é o senhor da sua história, mas que de fato está cego numa aldeia virtual, perdeu o sentido do ser e do fazer com os outros, o que ficou foi a revolta silenciosa de quem negando o outro não sabe o que fazer, já que não pode ser feliz sem o outro. Por isso, não poderá construir-se no tempo e no espaço. Eis a questão: Os seres humanos, que não assumem a sua condição, não conseguem ser protagonistas da história.

Já que vivemos num Estado Democrático e que, por isso, deve respeitar a liberdade religiosa e de imprensa, me permitam citar novamente, a Sagrada Escritura: “Com toda a humildade e mansidão, suportai-vos uns aos outros com paciência, no amor. Aplicai-vos a guardar a unidade do espírito pelo vínculo da paz. Há um só Corpo e um só Espírito, como também é uma só a esperança à qual fostes chamados. Há um só Senhor, uma só fé, um só batismo, um só Deus e Pai de todos, que reina sobre todos, age por meio de todos e permanece em todos. Motivados pelo amor queremos ater-nos à verdade e crescer em tudo até atingirmos aquele que é a Cabeça, Cristo. Graças a ele, o corpo, o corpo, coordenado e bem unido, por meio de todas as articulações que o servem, realiza o seu crescimento, segundo uma atividade à medida de cada membro, para a sua edificação no amor (Ef 4,2-6.15-16)”. O Cristianismo tem a mensagem. Só o amor é a resposta para a negação do outro e, consequentemente, da unidade. Quem divide e o que divide não é Deus e nem vem de Deus.

Enfim, tenhamos coragem e entusiasmo para fazer uma revolução que brota do coração que ama e que doa a vida. Não nos contentemos com as conseqüências do nihilismo que assassina e que alucina quem foi criado para amar. Sejamos fortes por este amor que nos fortalece. Assim o seja!

Arrependei-vos!

Na Quarta Feira de Cinzas, nós, cristãos católicos, começamos a celebrar a Quaresma. Este período é tempo de preparação para a celebração mais importante do cristianismo, que é a Páscoa, ou seja, a Paixão, Morte e Ressurreição de Jesus Cristo. O imperativo é: Arrependei-vos! A fonte do que é proposto tem por base o que a palavra do próprio Jesus, quando ao iniciar a sua missão começa por proclamar que “cumpriu-se o tempo e o Reino de Deus está próximo. Arrependei-vos e crede no Evangelho (Cf. Mc 1,15; Mt 4,17)”.

O espírito próprio deste período é a motivação para que todos os discípulos se convertam. A Quaresma é tempo propício para mudança radical dos nossos modos de pensar e agir nos nossos relacionamentos com Deus, com o próximo e conosco mesmo. Converter-se é mudar de mentalidade, tomar um novo rumo, deixar os desejos que nos escravizam e nos amedrontam, extirpar os ídolos que nós deixamos que ocupem o lugar de Deus em nossas vidas. Jesus mostra qual deve ser a atitude de quem quer continuar sendo fiel ao Senhor (Cf. Mc. 1,12-13; Mt. 4,1-11; Lc. 4,1-13). Como nós somos convidados a nos retirar, Ele antes o fez. Durante quarenta dias permaneceu no deserto. Queria abrir-se plenamente à missão de anunciar o Reino de Deus. Eis o grande projeto Dele e também o nosso. Mas para isso o aprimoramento da nossa opção fundamental deve ser continuamente fortalecido pelos sinais de Deus na nossa história, que só é qualificada pela ação Dele no tempo favorável. Estes quarenta dias que antecedem a Páscoa é o nosso momento. Quais são as nossas atitudes? A pedagogia evangélica nos propõe práticas que, se bem veiculadas, podem ser meios eficazes nos nossos exercícios espirituais. São elas: a) o Jejum; b) a Esmola e c) a oração. Também para os judeus eram os principais gestos que tornam os homens justos diante de Deus (Cf. Mt. 6, 1-18).

a) O Jejum: exercita o nosso eu que se precisa sair de si para encontrar-se com um outro. Só pela humildade isso pode se tornar possível. Por causa das marcas do pecado a nossa individualidade desordenadamente deseja ser absoluta. A tentação do poder que se ramifica em todas as circunstancias de nossas vidas, através dos e nos nossos relacionamentos. Nós queremos ser os nossos únicos senhores. Por isso, há quem tenha dito que “deus morreu”. O que vale é a nossa vontade. Pelo Jejum nós mortificamos os nossos desejos egocêntricos e narcisísticos para que a humildade aconteça.

b) A Esmola: Falar deste exercício é falar da caridade. Esta, segundo madre Tereza de Calcutá é o amor em movimento. Só o amor cristão tonifica a solidariedade. Quem ama não se doa por interesse. A solidariedade cristã não é mera filantropia nem, muito menos, demagógica pilantropia político-partidária. A solidariedade cristã está vinculada totalmente ao que é dos sentimentos de Cristo. A caridade é a maior de todas as virtudes (Cf. 1Cor. 13,13).

c) A Oração: Pela oração nós falamos com Deus e Ele, em segredo, fala conosco. Muito mais que falar para Deus, é importante que deixemos que Ele nos fale. O “Pai Nosso” deve ser uma manifestação do amor gratuito de Deus em nós. Pela intimidade de Jesus como Filho é que Ele fala a Deus como Pai. Precisamos aprender de Jesus como ser um bom filho. Ele é o modelo.

Por fim, a palavra de Deus é o nosso melhor instrumento para as meditações deste tempo quaresmal. Nós podemos nos organizar e ficar em prontidão de corpo e alma para celebrar a nossa Páscoa. Não se conhece vitória sem guerra. Jesus em seu deserto também foi tentado. Contudo, a proposta evangélica deste tempo é: “arrependei-vos e crede no Evangelho”. Assim o seja!

Discípulos formados, comunidade forte

“Só uma comunidade de discípulos bem formados, transforma uma comunidade cristã”. Santo Agostinho diz que “no crente, Cristo se forma, pela fé, no homem interior, chamado à liberdade da graça, manso e humilde de coração, que não se envaidece pelos méritos de suas obras, que são nulas. Se ele começa a ter algum mérito, deve-o à própria graça. A este pode chamar seu mínimo e identifica-lo consigo aquele que disse: ‘O que fizestes a um dos mínimos meus, a mim o fizestes. Cristo é formado naquele que recebe a forma de Cristo. Recebe a forma de Cristo quem adere a Cristo com espiritual amor (PL 35,2131-2132)”.

Um cristão que faz a experiência com o mistério do ressurreto, no tempo qualificado pela presença de Deus, se torna, na comunidade, um ser com Cristo, vinculado à sua Igreja. Essa proposta não perde seu encanto em meio aos tantos desa fios da Posmodernidade. O que era próprio do cristianismo da Igreja primitiva, continua sendo atual, aqui e agora. A formação dos discípulos missionários é justamente a tentativa de potencializar uma mentalidade atualizada do que é peculiar a Cristo, no tempo de Deus. Este horizonte, pelo tempo e no espaço, por meio de toda a simbologia divina, dinamizada na história, pela e na Igreja de Cristo, dá as condições necessárias e integrais para que o discípulo tome as estruturas humanas e testemunhe, no mundo, a verdade e o amor que é Deus e só é de Deus, revelado plenamente em Jesus Cristo (Cf. Jo 1,1-18).

A proposta eclesial e bem contextualizada desta meta teológica e pastoral está contida e lançada para a Igreja latino-americana no documento de Aparecida. A tentativa da V Conferência não pode ser ‘atrofiada’. É um convite para todos os fiéis batizados e em função de todos os cristãos. A Igreja tem que estar em estado permanente de Missão. A característica desta realidade humana e divina é o seu hoje projetado para o futuro. Esta forma histórica da presença do divino na História da Humanidade só é forte quando é bem estruturada pelos sentimentos presentes no coração de Cristo, que diz o que é de Deus. O Espírito de Deus, e só por Ele a comunidade cristã se caracteriza e é caracterizada pela vida e missão de Jesus para a salvação do gênero humano e glorificação de Deus.

Em todas as instancias das estruturas temporais, nós somos convidados a dizer e viver a verdade e anunciar o reino de Deus (Cf. Mc 1,15). Não só em meio aos pobres, mesmo tendo a convicção que nossa opção preferencial e não excludente é por eles, mas em todos os lugares nos quais nós estejamos atuando e cumprindo os nossos afazeres. Todos têm direito à comunhão com a pessoa de Jesus, porque todos somos filhos de Deus. Precisamos reconhecer e discernir que a nossa pecaminosidade pessoal é causa dos males sociais, principalmente no confronto com tantas injustiças existentes; contudo, o encontro pessoal com Jesus, pelo qual a graça se nos foi concedida (Cf. Jo 1,17), é uma possibilidade humana e uma garantia divina.

Enfim, o que o doutor da graça nos escreve continua sendo atualíssimo. A formação dos discípulos missionários é o meio sem o qual a unidade de espírito e de corpo da comunidade cristã, em Cristo e através da Igreja, tem que ser continuada e permanente. O paradigma teológico e metodológico do intento de Aparecida ainda não foi compreendido pela maioria dos cristãos católicos. Mas a Fé não dispensa a Esperança. Assim o seja!

segunda-feira, 28 de abril de 2008

Igreja, Afetividade e Sexualidade

Não deve ser estranho, para nós cristãos, falarmos sobre essa dimensão fundamental do homem. Nós, á luz do mistério de Cristo, precisamos ser peritos em humanidade, como bem o disse o Papa Paulo VI. O medo do que é humano não pode fazer parte da existência cristã. Nós nascemos para o amor porque somos fruto do amor de Deus, pois Ele é Amor (cf. 1Jo 4,8). Santo Agostinho diz que "não há ninguém que não ame. A questão é saber o que se deve amar. Não somos, por conseguinte, convidados a não amar, mas sim a escolher o que havemos de amar" (Cf. Sermão 34). A Igreja considera a simétrica compreensão da genuína e cristalizada manifestação da afetividade e sexualidade humana considerando sempre este paradigma antropológico.

Na perspectiva cristã falar sobre o sentido duma sexualidade que é sempre afetiva, remete-nos às bases da antropologia bíblica que desde o "início" da criação, depois de criar o homem e a mulher, Deus disponibilizará tudo para integração deles tendo em vista que "tudo era bom" (Cf. Gn 1,27-31). Portanto, considerar a perspectiva antropocêntrica totalizante da criação é considerar a sexualidade humana como meio bom e divino de revelar a afetividade que instiga os seres humanos a viverem como seres humanos, ou seja, que suas relações afetivas e sexuais vividas plenamente com amor, no amor e pelo amor. Num certo momento da história da Igreja, principalmente por causa da influência da filosofia platônica, que considera o corpo como cárcere da alma e, que, de certo modo embasou uma visão dualista em alguns padres da Igreja dos primeiros séculos do cristianismo, em alguns ambientes se estigmatiza ainda essa acepção que não tem base na Revelação bíblica, como já foi visto. Vale ressaltar que é uma acepção isolada de facções existentes no interior de comunidades cristãs.

Na modernidade, Sigmund Freud, "o principal introdutor do tema, considerava o ser humano como movido por uma série de impulsos (biológicos/corporais) que se orientam para a satisfação de suas necessidades e de seu prazer. Para ele, haveria constante duelo entre a força do impulso sexual (libido) e a força repressora cultural, social, moral e religiosa (super-ego). Embora Freud reconhecesse que os desejos sexuais não poderiam ser satisfeitos imediatamente em qualquer contexto ou condição quando as pessoais convivem em sociedade, concluiu que a grande maioria dos problemas psicológicos viria de impulsos reprimidos. Vamos constatar, na sociedade atual, dois entendimentos que foram gerados a partir dessa visão freudiana da sexualidade. Ambos estão equivocados em sua base, porque partem de concepção errada de pessoa, reduzida apenas à dimensão corpórea e psíquica (Cf. Texto base, CF 2008, n.56)".

O modo como está sendo falado e vivido a sexualidade na sociedade contemporânea é desligado daquilo que subjetivamente é inerente ao sentido da sexualidade. Ela está manca do seu aspecto espiritual. A Igreja deseja e, por isso, forma os cristãos para que a vivam de modo afetuoso. Ela é elemento integrador e integrante da mais pura essência do homem e da mulher. Ela existe para que estes sejam colaboradores sublimes Daquele que é o Amor, através da união conjugal e da procriação que se realiza pelo amor. A coerência interna sobre o significado que tem a sexualidade para a Igreja é importante para que seja possível a compreensão da sua ética sexual e como a experiência mostra que ela está em mais profunda sintonia com verdadeiro desejo da vivência humana da sexualidade afetuosa e não afetada pela falta de amor que está presente na civilização neurótica porque não está amando o que deve amar. Assim o seja!

quarta-feira, 26 de março de 2008

Páscoa celebrada, páscoa vivida

Para nós cristãos a Páscoa prolonga-se até a o "Pentecostes", ou seja, a descida do Espírito Santo 50 dias após a Ressurreição. Mas pode surgir a inquietante questão: o evento pascal se delimita ao que é celebrado mediante as expressões litúrgicas tornadas públicas pela Igreja no Tríduo Pascal? A pergunta é importante para a reflexão sobre o entendimento da Páscoa como acontecimento divino, em Cristo, pela ação de Deus, através do seu Espírito; mas que vem a ser humano porque é realizada pela libertação do que é humano.

O evangelista João diz que "ninguém tem maior amor do que aquele que dá a vida pelos amigos" (Jo 15,13); pois bem, seguindo o itinerário de tudo o que vivido pela comunidade cristã como sinal do mistério de Deus que se faz sentir na vida comunitária no decorrer do ano litúrgico. Nesse o que é esperado para o futuro é contemplado agora como meio de ligação entre o finito e o infinito. Tendo como ponto de partida a "Encarnação" que, por sua vez, nos leva ao reconhecimento da "Ressurreição" como acontecimento histórico e divino e ainda, forma universal e continuada da ação amorosa de Deus na vida de todos os homens e, porque não dizer, de toda a criação.

Na filosofia é apresentada a inquietação quanto à questão da liberdade humana. O homem é verdadeiramente livre? Se para a reflexão filosófica esta é uma "questão de disputa", para os cristãos a resposta deveria ser conduzida pelas palavras de Jesus que pelas palavras antes citadas nos mostra o itinerário pedagógico que precisa ser percorrido para a conquista desta vitória. Santo Agostinho (Séc. V) analisando estas palavras me deu fundamentos para poder dizer que a existência cristão precisa ser uma permanente páscoa que celebrada sacramentalmente é mister que seja experimentada historicamente. Nós, cristãos, devemos entender este elemento hermeneutico para o aprofundamento espiritual da realidade pascal. A nossa vida é uma páscoa. Nós cristãos somos chamados a continuar a viver e testemunhar a "Páscoa de Cristo" dia a dia. Os elementos litúrgicos não esgotam a augusta magnitude do acontecimento pascal.

A páscoa humana vivida como tradução permanente da verdadeira e real Páscoa de Jesus ressuscitado, exige uma progressiva adequação do humano ao que é divino. Que o ódio passe a ser perdão, que a injustiça passe a ser justiça, que a mentira passe a ser verdade, que a discórdia passe a ser paz, que e desunião passe a união etc. São Paulo quando escreve à comunidade de Corinto (1 Cor 13,1-13), a luz do mistério pascal, descreve bem como o testemunho cristão plenamente celebrado passa a ser páscoa humana dignamente amada e experienciada.

Os acontecimentos da Civilização, pela falta do referencial transcendental, vivem páscoas despascoalizadas, ou seja, sem reais e profundas mudanças históricas. As pessoas, comunidades, nações e o mundo que é qualificado de globalizado posmoderno retomaram uma concepção cíclica da vida e de tudo aquilo que é realizável até do ponto de vista científico. Um progresso que dispensa o transcendente do seu desenrolar fenomênico tende a esgotar-se por aquilo que imediatamente lhe dar consistência. A forma própria do desvendar-se de Deus na História possibilita ao próprio homem o contínuo desenvolvimento das suas ações culturalmente manifestadas.

Enfim, pensar e apresentar a Páscoa de Jesus como páscoa humana cotidianamente celebrada e vivida é ir ao encontro de Deus como Aquele que no seu tempo torna possível a comunhão do humano com o divino. Por isso, caros cristãos, continuemos a celebrar nossa Páscoa na vida e na Liturgia!

domingo, 16 de março de 2008

CF 2008 e Manipulação do Embrião

A Igreja do Brasil está em plena Campanha da Fraternidade. Esta quer ser mais um momento forte que motive a conversão dos cristãos ao amor de Deus que é o Senhor da vida. Por isso, a Palavra de Deus deve ser o primeiro e imprescindível instrumento utilizado para a formação dos ideais da comunidade humana. A Evangelização é sempre a meta primordial da Igreja, pois, ela é o Sinal Universal da presença atual do Reino de Deus na vida humana. Ela em nenhum momento pode estar a favor da morte. Por ela Deus continua pedindo que seja escolhida a Vida (Dt 30,19). Para este ano foi escolhido o tema “Fraternidade e defesa da vida” e o lema, “Escolhe, pois, a vida. O nosso Deus é o Deus da Vida porque Ele é a Vida (Jo 14, 6). Por acaso seria possível uma igreja de deus que estivesse a favor da morte?!

No dia 05 de Março STJ analisará a possibilidade de se tornar possível legalmente a pesquisa utilizando os embriões congelados com fins terapêuticos. Com isso, será possível serem utilizadas as Células-tronco que têm capacidade de se transformar em células de qualquer tecido do nosso corpo: músculos, ossos etc (Cf. Texto Base CF, 101). Porém, para uma séria análise ética da questão é importante saber que existem dois tipos de células-tronco: 1) as células embrionárias são encontradas no embrião (CTE) são totipotenciais; 2) as células tronco adultas podem ser encontradas depois do nascimento. São multipotenciais (Cf. Texto-base, 102). Experiências realizadas em ratos ou camundongos com células-tronco embrionárias têm demonstrado que, ao serem injetadas em outro organismo, elas produzem, em cerca de 50% dos casos, tumores, chamados teratomas, que muito facilmente se transformam em tumores cancerosos. Estas células são também rejeitadas pelo organismo que recebe o transplante. O uso das células-tronco adultas, por outro lado, já tem alcançado resultados comprovados de melhora ou cura de doenças em seres humanos. Exemplos: uso para regenerar células lesadas do coração, como no caso de enfarte; para melhora de lesões da medula nervosa na paraplegia ou tetraplegia etc. Uma limitação de seu uso é que a técnica do autotransplante (a pessoa recebe suas próprias células-tronco no local afetado) não pode ser indicada para pessoas com doenças genéticas. Contudo, recentemente foram obtidos resultados que permitiram que as células-tronco adultas se comportassem como células-tronco embrionárias, ganhando a capacidade da totipotência, reprogramação celular (Cf. Texto-base, 103).

Através destas observações pode-se bem afirmar que a Igreja não contrapõe-se à ciência. O discurso demagógico e falacioso de alguns cientistas, salientando que não são todos, não encontra respaldo pelas ações e o discurso da Igreja. A preocupação existe tendo-se em vista o bem que pode ser feito às pessoas portadoras de doenças. Mas os fins não justificam os meios. A questão ética não pode ser abandonada pela ciência. Sem um sério embasamento ético a ciência pode vir a torna-se um perigoso meio de coisificação do próprio homem. Ele não pode ser visto como um meio (Kant). Ele é pessoa desde sua concepão e tem por direito inviolável e inalienável o direito à vida garantido pela Carta Magna do País (Constituição Federal, art. 5 e Código Civil, art. 2).

Por fim, o que a Igreja deseja é o bem da pessoa humana. Não é periférico a saúde e bem estar de tantas pessoas que têm doenças e que passam por sérias dificuldades terminais. Mas seria muito importante que a Sociedade exigisse do Estado mais seriedade nas políticas públicas que beneficiasse a todos e se investisse nas pesquisas que considerassem a Dignidade Humana e as suas necessidades desde o ventre materno. Sendo assim, caros juizes, escolhamos, pois, a Vida!

sábado, 8 de março de 2008

Mulheres, vós sois dádivas de Deus!

Como é encantador contemplar o significado das Mulheres. Falar sobre elas é maravilhoso. Podemos dizer “elas” porque são várias que fazem parte das nossas vidas. Temos nossas Mães, Irmãs, Amigas e tantas outras que são inspiradoras de muitas outras emoções. Elas dignificam a Humanidade. Por elas, a forma humana é progressivamente continuada. Nelas, a estruturação do belo é concretizada e só por elas o que não é do Homem é necessitado por ele. Elas configuram o arrebatamento do ser de cada ente da Humanidade, pois sem elas o que existe de humano não poderia vir a ser divino. Somos loucamente voltados para seus encantos porque o mistério também por elas envolveu-se. Por acaso existe um compasso humano que dispense o sentimento de pertença à integral Beleza das Mulheres?

Poderíamos nos perguntar: quantas e quão qualificadas mulheres não fizeram e, graças ao maravilhoso Deus, não fazem parte de nossas vidas? Nós reconhecemos os vossos valores, vossa dignidade indiscutível, vossa vitalidade sublime, vossa ternura extasiante, vossa feminilidade radiante, vossa antropologia integral e integrante, vosso olhar intimista e penetrante, vossa sensibilidade frondosa, vossa doçura confortante, vossa intrínseca vocação maternal etc. Há mulheres! Nós as amamos porque vós sois o que sois. Não se nos é permitido pensar que vós sejais diferentes ou, mais propriamente, não queremos pensar num melhor mundo possível, pelo simples e milagroso fato de que o nosso mundo é completado pelo vosso. A Razão, não violenta a realidade como, tampouco, o vosso amor que nos acompanha do início ao fim de nossas vidas. Porque sois o que sois, é que todos nós nos encaminhamos para a arriscada, mas, divina campanha da vida. Se há a fantástica experiência da existência humana é porque o vosso ser finito está potencializado para o infinito.

Pensá-las de modo imediato é pensar no que fazeis como Mães de família, como trabalhadoras do lar, como educadoras, como previdentes de um mundo mais justo e solidário, como profissionais, como políticas, como protagonistas da História, como conquistadoras de Direitos, como formadoras de opinião, como feministas que são femininas, como amantes que são amadas. Nós esperamos de vós o que na verdade vós quereis verdadeiramente e desejais esperar de vós mesmas. O nosso modo de tratá-las sempre será motivado pelo que todos nós sabemos, que só vós sois capazes de doar. A nossa mais genuína alegria de tê-las como jóias preciosas é, sobretudo, porque vós sois o que são desde o princípio. Nós queremos que a harmonia presente em vós faça parte da nossa mais pura ânsia de felicidade. Estamos prontamente dispostos a celebrar a memória tornada presente e este, por sua vez, tornado futuro da vossa Humanidade em nós e para nós como dádiva. Os sujeitos deste encontro simplesmente humano devemos ser todos nós. Não as dispensamos deste projeto porque sois indispensáveis para o embrião que torna-se feto, que vem a ser criança, que torna-se adolescente, que vem a ser jovem que torna-se adulto que chega à velhice e naturalmente morre para completar a vida daquele que outrora era filho ou filha, menino ou menina, esposo ou esposa, Pai ou Mãe, Consagrado ou Consagrada, Homem ou Mulher.

Caríssimas e amadas Mulheres, por fim, por vós, fazemos, a nossa Ação de Graças a Deus, por Jesus Cristo, mediante o Qual todos nós viemos a ser filhos no Filho. Ele tem a Mulher como Mãe, Maria Santíssima. Se pelo seu “sim” Ele toma forma humana, ela pode ser considerada, pela Humanidade, como aquela que é ícone feminino por meio do qual podemos dizer: Queridas Mulheres, vós sois dádivas de Deus. Nós as amamos!