São José de Mipibú - RN / Arquidiocese Natal

quinta-feira, 17 de julho de 2008

As escolas e as famílias

Na experiência pastoral, como sacerdote e pastor duma comunidade paroquial, escuto constantemente os depoimentos de diretores e professores de escolas que estão detectando a séria e problemática relação que atualmente está existindo entre as escolas e as famílias. As questões são múltiplas e variadas e envolvem dificuldades de ordem materiais, psicológicas e espirituais.
Os depoimentos apresentam atitudes de alunos que trivialmente vem de famílias desestruturadas. Pais alcoólatras, desempregados, com dificuldades de relacionamento, indiferentes à dimensão espiritual, sem engajamento em grupos sociais, com baixo nível de educação, com crises existenciais, enfim, carências múltiplas concernentes à dimensão antropológica. Os questionamentos dos gestores da educação são: o que fazer? Por que no ambiente escolar, às vezes, muita coisa parece estar tão caótico? Por que as nossas crianças e jovens parecem ser tão mau amadas? Professores despreparados e mau remunerados, estruturas físicas de péssima qualidade Etc.

Como sacerdote disse e tenho convicção disso, que o que está faltando é amor na vida das pessoas. Qualquer psicólogo ou psicopedagogo observará esta dificuldade. Um ambiente familiar no qual não há harmonia entre pais e filhos não conseguirá enviar para as escolas alunos equilibrados, e, para sociedade bons cidadãos. Não é uma questão só sociológica; mas posso afirmar que é também transcendental. O descaso com o valor da pessoa humana que é imagem e semelhança de Deus, está levando ao total indiferentismo por parte dos próprios seres humanos da necessidade de valorizar a família como célula mais importante para a sadia e progressiva realização de cada membro de qualquer outra instituição. Observando os ambientes escolares percebemos esta 'verdade'. Há uma tentativa de reinvenção de paradigmas, porém o que está sendo para assumir essa realidade fundante da estrutura social? Nas escolas, sem deixar de refletir sobre as dificuldades sistêmicas, pode-se perguntar acerca da visão que temos da necessidade de fazer um intercâmbio permanente das vivências das famílias e das escolas. Estas precisam fazer de modo continuado um diagnóstico das reais condições familiares existentes em cada meio no qual a instituição está funcionando. Partindo de cada caso e situação concreta traçar metas que centralizem a pessoa em todo o processo educativo, que, por sua vez, tanto epistemológico quanto contextualmente auxiliem no bom desenrolar do processo pedagógico.

Há ainda que lembrar que infelizmente os investimentos na educação são poucos. Estes, ainda, são desviados, pelos gestores públicos, da sua finalidade precípua. Para as escolas e famílias faltam o acompanhamento psicopedagógico, a merenda escolar que é de má qualidade, o pagamento de funcionários da educação que não atinge o piso salarial e, outrossim, saem atrasados, a formação permanente que não acontece na maioria das escolas por falta de preparo e perspectivas dos próprios professores; a obrigação de trabalhar na educação por muitos destes por não ter outra opção de trabalho, gerando assim a infeliz e desgastante ação profissional.

Por fim, com força de vontade, parcerias como: família, escola, igreja e outras entidades não governamentais podem fazer a diferença nos municípios, pode-se fazer muito pelo bem das nossas queridas crianças e adolescentes. Quem ama a vida e reconhece o valor de cada ser humano vai estar sempre aberto para promover a felicidade e o preenchimento dos mais belos e universais anseios daqueles que na família, pela escola e na comunhão com o amor verdadeiro de Deus, serão o futuro da humanidade. Assim o seja!