São José de Mipibú - RN / Arquidiocese Natal

quarta-feira, 11 de março de 2009

Por que não se lembram de nós?

Nestes últimos dias, os brasileiros, pelos meios de comunicação, vêm acompanhando o caso da menina de 9 anos que precisou fazer um abortamento de gêmeos. Claro que todos vêem, com perplexidade, o triste acontecimento. Tanto que, os meios de comunicação se lançaram logo na linha de frente para repassar a atitude do Arcebispo de Olinda e Recife quanto ao fato de que ele excomungou aos participantes, diretos e indiretos, do ato realizado. Seria importante informar que a atitude do prelado está embasada na legislação eclesiástica que preceitua o seguinte: "Quem provoca aborto, seguindo-se o efeito, incorre em excomunhão latae sententiae" (CDC, 1398). Ao cânon acrescenta-se o comentário que a mulher, não raramente, não incorrerá na excomunhão, por encontrar-se dentro das circunstâncias atenuantes do cânon 1324, § 1,3° e 5°, que assevera o seguinte: 1,3°- "por forte ímpeto de paixão, que não tenha precedido e totalmente impedido a deliberação da mente e o consentimento da vontade; contanto que a paixão não tenha sido voluntariamente excitada ou alimentada" e 1,5°- "por alguém que foi coagido por medo grave, mesmo que só relativo, ou por necessidade, ou por grave incômodo, se o delito for intrinsicamente mau ou redundar em dano das almas" (cf. CDC). Aqui está, em síntese, a orientação e o porquê da atitude impositiva do Arcebispo.

Devemos também buscar internamente uma análise que nos ajude a entender o por quê da indiferença por parte da mídia ao que concerne à vida dos fetos abortados. Alguém se pergunta pelas crianças que foram também violentadas? Por que ninguém se interessa? Por que essa indiferença? Poderíamos ir mais longe: Por que não nos inquietamos pelo número de violências físicas e psicológicas presentes nas famílias de hoje? Por que estes mesmos 'meios de manipulação' da opinião pública não tratam das questões da realidade social de frente, como por exemplo: A saúde pública, a segurança, a educação, a política? Por que não são apresentadas propostas formadoras de qualidade humana que mostrem a importância do Amor e da Verdade para todos os Seres Humanos? A resposta seria: "Porque esta atitude não alimentaria o 'sistema' que, como um parasita, se fortalece com morte e o aniquilamento da Vida alheia". Aqui a expressão vem carregada de pleno significado; pois quando se perde o horizonte do Amor e da Verdade tudo se torna relativo e passa a ser descartável.

Nós temos consciência do sofrimento daquela menina. Que tristeza! Mas as vítimas que passam pela mesma situação no nosso Brasil são muitas. Ninguém se engane. O que aconteceu nesta situação deve chamar à nossa atenção para a causa mais profunda. Não podemos entrar no sensacionalismo que regozija a mediocridade. Há até jornalistas que se aproveitam do momento para jogar a opinião pública contra o clero. Porém, em meio a todas estas sonorizações, o que devemos desejar é o que e Quem de fato é importante. O que vemos no momento é que a nossa Sociedade está se encaminhando para uma epidemia, que não é só da dengue; mas dum profundo e preocupante relativismo ético. Sendo assim, cabe a questão: Qual seria a felicidade duma Sociedade sem a possibilidade dum Bem Comum?

Por fim, a inquietante preocupação com a pessoa humana não pode desaparecer do nosso código de ética comum. Quem cuidará do futuro daqueles que precisam e que ainda vão nascer? Quem cuidará deles? Alguém antes de mim deve ter feito, também, esta pergunta. Nós precisamos acreditar que é a vida, e não morte, que tem a última palavra. O intento da Igreja não é maltratar os que já estão vivos; mas, salvaguardar os que ainda podem viver. Diante disto, os abortados poderiam nos perguntar: Por que vocês não se lembram de nós? Assim o seja!

domingo, 8 de março de 2009

Mulheres, Dom e Mistério

O que é necessário para que nós possamos falar sobre algo ou alguém? Na dinâmica das relações humanas é imprescindível a experiência. O encontro possibilita a interação e a comunhão, que, por sua vez, viabilizam a realização da nossa condição humana. Nós precisamos da harmonia que concebe, que protege, que acalenta, que é amiga, que é presente, que é delicada, que se preocupa, que unifica, que é singela, que transmite paz, que é amiga, que é filha, que é esposa, que é mãe, que é avó, que é mulher e, que, para a Humanidade será sempre: "Dom e Mistério".

Não vou recorrer a nenhuma outra fonte para dizer, para vós, mulheres, o que representais para todos nós. Sim! Para todos nós. Pois o que somos, o somos com a vossa existência. Desde o princípio, porque foi da vontade Daquele que é Amor (1Jo 4,8), vós fazeis parte da beleza do mundo. Como imaginar a possibilidade de tão grande encantamento sem a mais pura e preciosa pérola que sois para nós, homens, que somos filhos, que somos irmãos, que são namorados, que são esposos, que somos amigos, que somos companheiros, que são amantes e são amados, que somos infinitamente gratos ao Senhor que vos criou a sua imagem e semelhança (Cf. Gn 1,27) para dar sentido às vidas que nasceram para amar e ser amadas.

Diante de tantas significações, porque não pensá-las como dádivas. Vós sois o tesouro que dignifica as nossas vidas. Vós completais com a vossa identidade, o que nós mais queremos de nós e para nós. O que nos faz alegres é a vossa alegria. O que nos torna realmente filhos é o sublime fato de que sois mães. Deveis saber o quanto significais para nós que vos amamos. Vós nos envolveis e nós queremos continuar sendo envolvidos pela vossa imperscrutável e maravilhosa feminilidade. Por serdes diferentes é que percebemos o quanto sois importantes para cada um de nós.

Na Sociedade de hoje muito está se perdendo daquilo que mais se deveria valorizar e esperar de vossas vidas. Por que querer tê-las como objetos, se vois sois as mais belas flores com as quais o Criador ornamentou os nossos jardins? Não deixeis que isso aconteça! Por que matais, se nascestes para fazer viver? Por que odiais, se estais no mundo para amar? Por que desprezais, se vos procuram para dizer o quanto sois especiais? Por que vos embriagais, se deveis portar lucidez? Por que mentis, se sois filhas da Verdade? Por que não confiais, se sois tão necessárias? Por que mendigais, se podeis ter o melhor? Por que chorais, se podeis sorrir? Por que permitis ser consumo, se podeis sentir o que é o amor? Mulheres, se soubésseis quão sois especiais! Reconheçam a vossa dignidade. O que faz com que uma mulher "pense ser indigna" é ela não saber o que significa. A vossa independência e o vosso protagonismo histórico só acontecerá realmente quando fordes consciente e assumirdes de fato a missão que vos foi confiada por quem é a causa da vossa existência.

Por fim, porque sois humanas é que queremos e devemos amá-las e respeitá-las. Todos os dias vos pertencem e a vós nós os dedicamos. Quem não vos ama é porque infelizmente não teve a oportunidade de ser amado(a) por "alguma" de vós. Mas, justamente por isso, eu vos apresento como Dom e Mistério. Porque sois manifestação da insondável bondade de Deus, nós O louvamos e rendemos-Lhe graças porque Ele nos criou livres para podermos admirá-las e querê-las ao nosso lado todos os dias de nossas vidas. Ele também quis que uma Mulher, na plenitude do tempo (Gl 4,4), pudesse fazer parte da Sua augusta História de Amor pela Humanidade. Que Maria, a mulher admirável, rogue por todas as mulheres! Assim o seja!