Nestes últimos dias, os brasileiros, pelos meios de comunicação, vêm acompanhando o caso da menina de 9 anos que precisou fazer um abortamento de gêmeos. Claro que todos vêem, com perplexidade, o triste acontecimento. Tanto que, os meios de comunicação se lançaram logo na linha de frente para repassar a atitude do Arcebispo de Olinda e Recife quanto ao fato de que ele excomungou aos participantes, diretos e indiretos, do ato realizado. Seria importante informar que a atitude do prelado está embasada na legislação eclesiástica que preceitua o seguinte: "Quem provoca aborto, seguindo-se o efeito, incorre em excomunhão latae sententiae" (CDC, 1398). Ao cânon acrescenta-se o comentário que a mulher, não raramente, não incorrerá na excomunhão, por encontrar-se dentro das circunstâncias atenuantes do cânon 1324, § 1,3° e 5°, que assevera o seguinte: 1,3°- "por forte ímpeto de paixão, que não tenha precedido e totalmente impedido a deliberação da mente e o consentimento da vontade; contanto que a paixão não tenha sido voluntariamente excitada ou alimentada" e 1,5°- "por alguém que foi coagido por medo grave, mesmo que só relativo, ou por necessidade, ou por grave incômodo, se o delito for intrinsicamente mau ou redundar em dano das almas" (cf. CDC). Aqui está, em síntese, a orientação e o porquê da atitude impositiva do Arcebispo.
Devemos também buscar internamente uma análise que nos ajude a entender o por quê da indiferença por parte da mídia ao que concerne à vida dos fetos abortados. Alguém se pergunta pelas crianças que foram também violentadas? Por que ninguém se interessa? Por que essa indiferença? Poderíamos ir mais longe: Por que não nos inquietamos pelo número de violências físicas e psicológicas presentes nas famílias de hoje? Por que estes mesmos 'meios de manipulação' da opinião pública não tratam das questões da realidade social de frente, como por exemplo: A saúde pública, a segurança, a educação, a política? Por que não são apresentadas propostas formadoras de qualidade humana que mostrem a importância do Amor e da Verdade para todos os Seres Humanos? A resposta seria: "Porque esta atitude não alimentaria o 'sistema' que, como um parasita, se fortalece com morte e o aniquilamento da Vida alheia". Aqui a expressão vem carregada de pleno significado; pois quando se perde o horizonte do Amor e da Verdade tudo se torna relativo e passa a ser descartável.
Nós temos consciência do sofrimento daquela menina. Que tristeza! Mas as vítimas que passam pela mesma situação no nosso Brasil são muitas. Ninguém se engane. O que aconteceu nesta situação deve chamar à nossa atenção para a causa mais profunda. Não podemos entrar no sensacionalismo que regozija a mediocridade. Há até jornalistas que se aproveitam do momento para jogar a opinião pública contra o clero. Porém, em meio a todas estas sonorizações, o que devemos desejar é o que e Quem de fato é importante. O que vemos no momento é que a nossa Sociedade está se encaminhando para uma epidemia, que não é só da dengue; mas dum profundo e preocupante relativismo ético. Sendo assim, cabe a questão: Qual seria a felicidade duma Sociedade sem a possibilidade dum Bem Comum?
Por fim, a inquietante preocupação com a pessoa humana não pode desaparecer do nosso código de ética comum. Quem cuidará do futuro daqueles que precisam e que ainda vão nascer? Quem cuidará deles? Alguém antes de mim deve ter feito, também, esta pergunta. Nós precisamos acreditar que é a vida, e não morte, que tem a última palavra. O intento da Igreja não é maltratar os que já estão vivos; mas, salvaguardar os que ainda podem viver. Diante disto, os abortados poderiam nos perguntar: Por que vocês não se lembram de nós? Assim o seja!