Mais uma vez os natalenses, potiguares e vários outros entusiastas de festividades, vindos de várias regiões do Brasil e, quiçá, do mundo, se preparam para o carnatal. Este é um momento caracterizado pelo seu modo de relacionamento imediato, descompromissado, vazio, rebelde, irresponsável, alucinado, despersonalizado, instintivo, utilitarista, sodomônico, ou seja, impossibilitador e atrofiante das perspectivas culturais duma sociedade. Mas é uma forma metodológica de alimento das indústrias das festas de massa que proporcionam aos grandes empresários lucros grandiosos. O carnatal é festa do mercado liberal. Nele estão presentes os traços característicos da pos-modernidade. A pessoa não é fim; mas meio de satisfação de poucos pela degradação da maioria. Observemos a estrutura material e logística do espaço onde acontece o evento. Nos camarotes estão os políticos, os empresários, os artistas da propaganda e da desocupação e outros convidados 'especiais'. Num segundo plano estão os que querem estar no meio e nos solavancos da avenida. Ali ninguém é de ninguém! Os participantes testemunham que quem se lança naquele arrastão se droga muito, se beija muito, se briga muito e segundo o chavão que atualmente se ouve por aí: eu prefiro não comentar! Neste grupo todos estão com os abadás. Estes são uns pedaços de pano com as propagandas dos patrocinadores e que, por sinal, são muito bem vendidos porque são a garantia da participação dos blocos. Numa terceira instância estão os que de fato não têm como participar da elite. Por isso, se contentam com a pipoca, o cachorro quente, com a embriaguês imediata, com o roubo do celular, com o resto de quem nem se lembra destes terceiros, porque se o fizessem, preparariam o mínimo de estrutura para a participação destes que são os maiores marketeiros das propagandas enganosas.
Para o sucesso do investimento é imprescindível a mídia. O que a torna sumamente importante é que é próprio dos novos areópagos que eles apresentam um acontecimento social como algo muito maior do que parece ser. Agora se divulga os atos filantrópicos que os carnatalescos estão promovendo. Muito maior do que essas atitudes de marketing que são usadas como máscaras das reais finalidades do carnatal, estão os males e o descaso com as pessoas. Se o evento acontece, porque não tentar humanizá-lo? Claro que muito dinheiro é injetado na economia do Município e do Estado; contudo, as conseqüências e os gastos para que tenha segurança, os vários casos de mortes e acidentes, o comércio de drogas que neste momento se sobrepassa a qualquer outro tipo de comércio, para alegria dos traficantes e desgraça dos aderentes e dependentes químicos. As formas de se ver o carnatal devem ser encaradas de diversos ângulos. O que está em jogo é a vida, a pessoa humana, a sua dignidade, os seus direitos, o modo como é visto uma maioria pela minoria. Quem acompanhou a situação do hospital Walfredo Gurgel vai pensar logo sobre o que estou falando. Os da terceira instância pensem duas vezes antes de precisarem do sistema de saúde que o poder público oferece. Quanto à segurança, a polícia vai vos segurar da aproximação de quem está dentro e nas alturas dos camarotes.
Por fim, o que continua é a certeza de que precisamos ler a história e os fatos que elevam a alegria da humanidade. A nossa mais digna condição é de sermos filhos de Deus. Só no encontro com o Outro, que é objeto do amor, é que a felicidade acontece. Os traços característicos desta sociedade pululante são colocados em dúvida globalmente pela crise econômica. O tempo, com seu desenrolar dialético, nos dará uma resposta para estas questões sociais e humanas. Sendo assim, não desanimemos, pois somos filhos da Esperança. Assim o seja!