“Quem não prezar pela unidade não subsistirá”. Os horizontes que delineiam as construções e reconstruções dos sistemas sociais da modernidade valorizam o individualismo. O capitalismo selvagem e seus vários instrumentos de controle e manipulação direcionam seus estratagemas para fomentar a continuidade e permanência de tudo aquilo que substancia este solipsismo pessoal. A sociedade hodierna é a marionete de quem tem o dinheiro. O predicado que a qualifica de “enferma” não é confrontado pela maioria que não tem uma proposta humanizadora e humanizante para dizer o que e como pode ser feito para curá-la da sua desagregação esquizofrênica.
A palavra que não pode calar do começo ao fim de qualquer relação social é “Unidade”. Não foi em vão que Jesus, que é o Senhor Ressuscitado, pede que todos sejam um como ele e o Pai o são (Jo 17). Aqui não dispenso, para uma encantadora compreensão, todo o capítulo. Só pela unidade e a comunhão a sociedade pode ser reconciliada. Isto serve para todas as células sociais, principalmente as famílias. Mesmo que seja inquietante dizer isto, mas o sinal mais claro de que a sociedade está desorientada é que as famílias estão perdendo a sua identidade. Esta crise surge quando a cultura se tornou “aculturada”. O homem deixou de ser fim e veio a ser meio das artimanhas políticas e econômicas, tendo seu marco significado na revolução industrial (séc. XIX), no momento que passou a ser substituído por aquilo do qual ele deveria ser o senhor.
Apresento a questão de modo geral para instigar a provocação que não deveria ser só teológica e eclesial; mas política e global. Jesus, que de fato é o mestre, disse: “Se um reino se dividir contra si mesmo, tal reino não poderá subsistir. E se uma casa se dividir contra si mesma, tal casa não poderá manter-se (Mc 3,24-25)”. O grande desafio para um possível e justo ordenamento social se encontra, num mundo globalizado, na convivência com o diferente. Como o indivíduo, que pensa que é o senhor da sua história, mas que de fato está cego numa aldeia virtual, perdeu o sentido do ser e do fazer com os outros, o que ficou foi a revolta silenciosa de quem negando o outro não sabe o que fazer, já que não pode ser feliz sem o outro. Por isso, não poderá construir-se no tempo e no espaço. Eis a questão: Os seres humanos, que não assumem a sua condição, não conseguem ser protagonistas da história.
Já que vivemos num Estado Democrático e que, por isso, deve respeitar a liberdade religiosa e de imprensa, me permitam citar novamente, a Sagrada Escritura: “Com toda a humildade e mansidão, suportai-vos uns aos outros com paciência, no amor. Aplicai-vos a guardar a unidade do espírito pelo vínculo da paz. Há um só Corpo e um só Espírito, como também é uma só a esperança à qual fostes chamados. Há um só Senhor, uma só fé, um só batismo, um só Deus e Pai de todos, que reina sobre todos, age por meio de todos e permanece em todos. Motivados pelo amor queremos ater-nos à verdade e crescer em tudo até atingirmos aquele que é a Cabeça, Cristo. Graças a ele, o corpo, o corpo, coordenado e bem unido, por meio de todas as articulações que o servem, realiza o seu crescimento, segundo uma atividade à medida de cada membro, para a sua edificação no amor (Ef 4,2-6.15-16)”. O Cristianismo tem a mensagem. Só o amor é a resposta para a negação do outro e, consequentemente, da unidade. Quem divide e o que divide não é Deus e nem vem de Deus.
Enfim, tenhamos coragem e entusiasmo para fazer uma revolução que brota do coração que ama e que doa a vida. Não nos contentemos com as conseqüências do nihilismo que assassina e que alucina quem foi criado para amar. Sejamos fortes por este amor que nos fortalece. Assim o seja!