Na Quarta Feira de Cinzas, nós, cristãos católicos, começamos a celebrar a Quaresma. Este período é tempo de preparação para a celebração mais importante do cristianismo, que é a Páscoa, ou seja, a Paixão, Morte e Ressurreição de Jesus Cristo. O imperativo é: Arrependei-vos! A fonte do que é proposto tem por base o que a palavra do próprio Jesus, quando ao iniciar a sua missão começa por proclamar que “cumpriu-se o tempo e o Reino de Deus está próximo. Arrependei-vos e crede no Evangelho (Cf. Mc 1,15; Mt 4,17)”.
O espírito próprio deste período é a motivação para que todos os discípulos se convertam. A Quaresma é tempo propício para mudança radical dos nossos modos de pensar e agir nos nossos relacionamentos com Deus, com o próximo e conosco mesmo. Converter-se é mudar de mentalidade, tomar um novo rumo, deixar os desejos que nos escravizam e nos amedrontam, extirpar os ídolos que nós deixamos que ocupem o lugar de Deus em nossas vidas. Jesus mostra qual deve ser a atitude de quem quer continuar sendo fiel ao Senhor (Cf. Mc. 1,12-13; Mt. 4,1-11; Lc. 4,1-13). Como nós somos convidados a nos retirar, Ele antes o fez. Durante quarenta dias permaneceu no deserto. Queria abrir-se plenamente à missão de anunciar o Reino de Deus. Eis o grande projeto Dele e também o nosso. Mas para isso o aprimoramento da nossa opção fundamental deve ser continuamente fortalecido pelos sinais de Deus na nossa história, que só é qualificada pela ação Dele no tempo favorável. Estes quarenta dias que antecedem a Páscoa é o nosso momento. Quais são as nossas atitudes? A pedagogia evangélica nos propõe práticas que, se bem veiculadas, podem ser meios eficazes nos nossos exercícios espirituais. São elas: a) o Jejum; b) a Esmola e c) a oração. Também para os judeus eram os principais gestos que tornam os homens justos diante de Deus (Cf. Mt. 6, 1-18).
a) O Jejum: exercita o nosso eu que se precisa sair de si para encontrar-se com um outro. Só pela humildade isso pode se tornar possível. Por causa das marcas do pecado a nossa individualidade desordenadamente deseja ser absoluta. A tentação do poder que se ramifica em todas as circunstancias de nossas vidas, através dos e nos nossos relacionamentos. Nós queremos ser os nossos únicos senhores. Por isso, há quem tenha dito que “deus morreu”. O que vale é a nossa vontade. Pelo Jejum nós mortificamos os nossos desejos egocêntricos e narcisísticos para que a humildade aconteça.
b) A Esmola: Falar deste exercício é falar da caridade. Esta, segundo madre Tereza de Calcutá é o amor em movimento. Só o amor cristão tonifica a solidariedade. Quem ama não se doa por interesse. A solidariedade cristã não é mera filantropia nem, muito menos, demagógica pilantropia político-partidária. A solidariedade cristã está vinculada totalmente ao que é dos sentimentos de Cristo. A caridade é a maior de todas as virtudes (Cf. 1Cor. 13,13).
c) A Oração: Pela oração nós falamos com Deus e Ele, em segredo, fala conosco. Muito mais que falar para Deus, é importante que deixemos que Ele nos fale. O “Pai Nosso” deve ser uma manifestação do amor gratuito de Deus em nós. Pela intimidade de Jesus como Filho é que Ele fala a Deus como Pai. Precisamos aprender de Jesus como ser um bom filho. Ele é o modelo.
Por fim, a palavra de Deus é o nosso melhor instrumento para as meditações deste tempo quaresmal. Nós podemos nos organizar e ficar em prontidão de corpo e alma para celebrar a nossa Páscoa. Não se conhece vitória sem guerra. Jesus em seu deserto também foi tentado. Contudo, a proposta evangélica deste tempo é: “arrependei-vos e crede no Evangelho”. Assim o seja!