São José de Mipibú - RN / Arquidiocese Natal

quarta-feira, 26 de março de 2008

Páscoa celebrada, páscoa vivida

Para nós cristãos a Páscoa prolonga-se até a o "Pentecostes", ou seja, a descida do Espírito Santo 50 dias após a Ressurreição. Mas pode surgir a inquietante questão: o evento pascal se delimita ao que é celebrado mediante as expressões litúrgicas tornadas públicas pela Igreja no Tríduo Pascal? A pergunta é importante para a reflexão sobre o entendimento da Páscoa como acontecimento divino, em Cristo, pela ação de Deus, através do seu Espírito; mas que vem a ser humano porque é realizada pela libertação do que é humano.

O evangelista João diz que "ninguém tem maior amor do que aquele que dá a vida pelos amigos" (Jo 15,13); pois bem, seguindo o itinerário de tudo o que vivido pela comunidade cristã como sinal do mistério de Deus que se faz sentir na vida comunitária no decorrer do ano litúrgico. Nesse o que é esperado para o futuro é contemplado agora como meio de ligação entre o finito e o infinito. Tendo como ponto de partida a "Encarnação" que, por sua vez, nos leva ao reconhecimento da "Ressurreição" como acontecimento histórico e divino e ainda, forma universal e continuada da ação amorosa de Deus na vida de todos os homens e, porque não dizer, de toda a criação.

Na filosofia é apresentada a inquietação quanto à questão da liberdade humana. O homem é verdadeiramente livre? Se para a reflexão filosófica esta é uma "questão de disputa", para os cristãos a resposta deveria ser conduzida pelas palavras de Jesus que pelas palavras antes citadas nos mostra o itinerário pedagógico que precisa ser percorrido para a conquista desta vitória. Santo Agostinho (Séc. V) analisando estas palavras me deu fundamentos para poder dizer que a existência cristão precisa ser uma permanente páscoa que celebrada sacramentalmente é mister que seja experimentada historicamente. Nós, cristãos, devemos entender este elemento hermeneutico para o aprofundamento espiritual da realidade pascal. A nossa vida é uma páscoa. Nós cristãos somos chamados a continuar a viver e testemunhar a "Páscoa de Cristo" dia a dia. Os elementos litúrgicos não esgotam a augusta magnitude do acontecimento pascal.

A páscoa humana vivida como tradução permanente da verdadeira e real Páscoa de Jesus ressuscitado, exige uma progressiva adequação do humano ao que é divino. Que o ódio passe a ser perdão, que a injustiça passe a ser justiça, que a mentira passe a ser verdade, que a discórdia passe a ser paz, que e desunião passe a união etc. São Paulo quando escreve à comunidade de Corinto (1 Cor 13,1-13), a luz do mistério pascal, descreve bem como o testemunho cristão plenamente celebrado passa a ser páscoa humana dignamente amada e experienciada.

Os acontecimentos da Civilização, pela falta do referencial transcendental, vivem páscoas despascoalizadas, ou seja, sem reais e profundas mudanças históricas. As pessoas, comunidades, nações e o mundo que é qualificado de globalizado posmoderno retomaram uma concepção cíclica da vida e de tudo aquilo que é realizável até do ponto de vista científico. Um progresso que dispensa o transcendente do seu desenrolar fenomênico tende a esgotar-se por aquilo que imediatamente lhe dar consistência. A forma própria do desvendar-se de Deus na História possibilita ao próprio homem o contínuo desenvolvimento das suas ações culturalmente manifestadas.

Enfim, pensar e apresentar a Páscoa de Jesus como páscoa humana cotidianamente celebrada e vivida é ir ao encontro de Deus como Aquele que no seu tempo torna possível a comunhão do humano com o divino. Por isso, caros cristãos, continuemos a celebrar nossa Páscoa na vida e na Liturgia!