Hoje o mundo globalizado vive a Era da dinamicidade. E se existe uma característica desta rotatividade de todos em tudo e tudo em todos é a superficialidade. Como não pensar na existência de Algo que vincule a possibilidade de falar numa Humanidade, que não pode ser confundida só com a Civilização? Desta, a cultura é a alma (Marcuse); da primeira a realidade fundante são o homem e a mulher. Para o Magistério da Igreja que, por sua vez, “tem o ofício de interpretar autenticamente a Palavra de Deus escrita ou transmitida, e cuja autoridade se exerce em nome de Jesus Cristo, existe a preocupação com a Verdade, pois Jesus Cristo, o Verbo encarnado (cf. Jo 1,14), é a verdade e o amor (idem). Por isso, tal Magistério não pode estar acima da Palavra de Deus, mas a serviço dela, não ensinando senão o que foi transmitido, no sentido de que, por mandato divino, com assistência do Espírito Santo, piamente ausculta aquela palavra, santamente a guarda e fielmente a expõe, e deste único depósito de fé tira o que nos propõe para ser crido como divinamente revelado” (cf. DV, 10. Obs. Documento do Concílio, como a Gaudium et Spes). Cabe aqui uma reflexão, filosoficamente feita pelo filósofo, Gadamer, no seu livro Verdade e Método, no VIII capítulo, onde o autor faz a reflexão da importância da “tradição como algo que se enriquece no e com tempo” como conseqüência da ação do sujeito, sem perder seus elementos vinculativos. Para o cristianismo, a revelação é o “fundamento” temporal, este, no sentido agostiniano (cf. Confissões, IX-X) e que este mesmo Magistério da Igreja deve e pode salvaguardar.
Depois pensemos na possibilidade da dinamicidade do Magistério: Se este fosse a favor da morte de inocentes, sendo a favor do aborto? Se não pensasse na dignidade das mulheres, dentre as quais, uma delas teve a honra de ser a Mãe de Deus e que, mesmo assim, não tem prestada a devida veneração por muitos cristãos? Se o Magistério da Igreja mudasse, só permitindo a ordenação de mulheres, como se a dignidade delas, que são “Dom e Mistério”, estivesse dependente só das suas ordenações presbiterais? Se o Magistério da Igreja mudasse e não visse a beleza intrínseca do amor entre homem e mulher como forma mais humana de contribuir para realização dos mesmos e para o bem da Humanidade? Se o Magistério da Igreja mudasse e deixasse de acolher as pessoas com desvios de personalidade e ressentidas que tanto a expõe; mas que nunca deixam de sugar do leite que ela como Mãe que acolhe, apesar das ofensas recebidas, sempre está disposta a doar? Se o Magistério da Igreja mudasse e não aceitasse pessoas que, porque não têm opção de vida, vivem escandalizando os seus filhos, por simples vaidade e egocentrismo? Se o Magistério da Igreja mudasse e não fosse sinal profético diante das ações ideológicas e práticas que não respeitam o verdadeiro valor da dignidade humana, que tem por pressuposto a sua filiação divina? Se o Magistério da Igreja mudasse e não tivesse mais disposta acolher os padres anglicanos que, livremente desejam a comunhão com esta Igreja Católica? Se o Magistério da Igreja mudasse e não tivesse no Papa o sinal visível da fé e da comunhão dos fiéis católicos? Como seria o retrocesso ao feudalismo, diferente duma eclesiologia de comunhão tão bem arquitetada no Concílio? Se o Magistério da Igreja mudasse e não assumisse a possibilidade de se adaptar aos sinais dos tempos e não tivesse celebrado o Vaticano II, Medellín, Puebla, Santo Domingo, Aparecida etc?
Por fim, o que nos fortalece é a comunhão. A presença do Espírito na comunidade eclesial é a grande força que anima todo o Povo de Deus. O cristão, pelo sacramento do Batismo, é consagrado a Deus através desta Igreja que sempre percebeu no Magistério da Igreja uma possibilidade do reconhecimento que porta identidade cristológica e eclesial a quem livremente deseja e é confirmado a fazer parte desta Igreja, respeitando e querendo também a liberdade de ser, no tempo de Deus e no espaço dos homens, Luz dos Povos. Assim o Seja!