Em Jerusalém encontra-se a complexa relação das três religiões monoteístas do mundo, a saber, o Islamismo, o Judaísmo e o Cristianismo. A Cidade Santa representa, para as três, as formas históricas do divino falar ao humano. Aqui, estão os ícones do mistério. Para os muçulmanos, é a cidade da qual o profeta Maomé foi levado para o céu por Allah. Por isso, é a terceira cidade santa depois de Mecca e Medina; para os hebreus, é a cidade de Abraão, Davi, dos profetas e do templo, morada de Deus por excelência; e para nós, discípulos de Jesus Cristo, é a cidade onde Ele realizou a nossa redenção, venceu a morte e nos abriu o caminho para Deus. Cidade da fundação da Eucaristia, do sacerdócio e da Igreja.
Já ao fazer ‘check in’ para tomar o avião até Israel já se depara como o povo desta região não vive em paz. Por sinal, eis uma das carências deste lugar: falta harmonia entre as pessoas e entre os povos. Já se tornou mesmo uma questão cultural. O medo conduz as relações sociais de modo clarividente. Da parte de Israel porque quer preservar o estado judeu e da parte islamica porque quer que seja reconhecido um estado palestinense com suas respectivas intencionalidades políticas, econômicas e religiosas. A Palestina como não é reconhecida internacionalmente como estado, não possui um exército e, ainda, como povo dentro do seu pequeno território tem a já incoveniente presença, em suas cercanias, de acampamentos judeus. Políticamente a situação é uma bola de neve. Para ambas as etnias, a terra, o espaço são de fundamental relevância. Nestes espaços a relação destes povos com Deus acontece. Talvez para um ocidental de mentalidade racionalista isto seja uma alienação; no entanto, só estando aqui, sentido e observando o contexto, para tentar entender o que tudo isto significa para estes povos. O fator determinante da dinâmica civilizatória daqui continua sendo a religião; mesmo com a influência dos americanos para os judeus e, negativamente, para os mulçumanos, a religião continua sendo fator determinante no processo dialógico.
Andando pelas vielas de Jerusalém a tensão nas construções, a espessura dos portões; a agressividade na fala de cada pessoa; o armamento pesado dos policiais israelenses, a incomunicabilidade deles para com os estrangeiros, a não ser os comerciantes, que por sinal exploram demais, já que, o turismo é uma das suas principais fontes de renda; as poucas mulheres que são vistas pelas ruas da cidade; os judeus ortodoxos que, em seus adereços, portam a simbologia que ilustram o significado do ‘sacramento’ do Deus da lei e dos profetas; os mulçumanos com as suas aparências bizarras e cabisbaixas ao movimentar-se para seus afazeres e louvações nos vários momentos do dia e da semana etc.
Para quem estiver lendo vai logo surgir a questão: E os cristãos, como estão em meio a esta situação? meus irmãos, sei que é difícil ser cristão em todos os lugares; mas tenhamos a certeza que, em alguns, mais do que em outros. Aqui, neste território muito mais! Como é atual a passagem do evangelho de Marcos (6,1-6) quando Jesus se admira da incredulidade daqueles que mais deveriam reconhecer-lhe ao ouvir suas palavras e ver suas obras. Em Jerusalém mesmo, o número de cristãos é ínfimo. Em Belém o número é maior e chega a um percentual de 35-40 %. Há que ser testificado o testemunho dos franciscanos como presença da Igreja, por aqui. Eles são os guardiões dos lugares cristãos-católicos aqui da Terra Santa. As suas presenças em meio a tudo isto, já é um grande testemunho. Quem já conheceu saberá logo porque digo isto.
Sendo assim, concluo dizendo que é uma graça, para nós ocidentais, depositarmos nossa confiança Naquele que é o Senhor da paz (Jo 20,19) . Como o ocidente deve ao cristianismo. Não só religiosamente; mas também politicamente. A paz é fruto da justiça; mas muito mais o é do amor. Só quem ama a Deus e ao irmão a ponto de dar a vida permanece em Deus e Deus permanece Nele (1Jo 4,7). Assim o seja!