Nós precisamos da igreja para estar em comunhão com Deus? Me parece na atualidade um questionamento de suma importância. Cada vez mais as pessoas criam ou são levadas a criar "imagens de deus". Hoje existe um deus para curas, para mediador da prosperidade, vigilante de todos os males, pai de santo e infortúnios, apagão de pseudo-intelectuais, pois estar virando moda o desrespeito aos acadêmicos que professam a sua fé, um deus que se combate entre irmãos que dizem acreditar num único senhor etc...
A crítica feita por Ludwig Feuerbach, infelizmente ou felizmente, devemos reconhecer, está ganhando materialidade. Segundo ele, "a essência do homem, em contraste com a do animal, não é apenas o fundamento, mas também o objeto da religião... que é a consciência que o homem tem do infinito" (Essência do cristianismo, cap. I). Claro que o referencial do infinito aqui não é Deus, mas a potencialidade do humano pensar como perfeito e divino o que existe em função de simesmo (Idem). As formas relativistas e babélicas das varias comunidades religiosas estão nesta linha de raciocínio. A Igreja no momento não está sendo mediadora fundante das experiências religiosas. As tendências são individuais e por incrível que pareça, despersonalizadas. O conceito de doutrina se tornou confuso e caótico.
Cada um prega o que e como quer. Basta vermos os pregadores de plantão nos meios de comunicação. Ninguém sabe o que se diz. Basta que seja dito. Como as pessoas foram e continuam sendo levadas a não acolher ou mais propriamente se converter a Deus pela mediação objetiva da Igreja, desde a reforma protestante, então cada um tem a liberdade para interpretar o que não se ver e o que ninguém mais testemunhou. Eis à nossa frente o triste fenômeno da manipulação do sagrado como forma aberrante de tornar, de fato, a religião um "ópio do povo".
Em outro momento, afirmei que "a Páscoa é a metáfora imanente do humano transcendente". Nós, cristãos, católicos precisamos entender e acreditar que mediante a liturgia, fazemos memória dos acontecimentos históricos da ação de Deus na vida dos homens e mulheres que se converteram a Ele. Por isso que, não podemos confundir manifestações tradicionais da mitologia com as demonstrações culturais das Tradições salvíficas do Senhor. Nas conversas e direções espirituais com pessoas que se afastaram da Igreja, lanço uma pergunta que sempre deixam as pessoas um pouco inquietas: Depois que deixou de celebrar a sua fé, você veio a ser mais feliz?
A resposta, até o momento, foi negativa. Jesus é a nossa Páscoa. Ele é o humano no qual nossa transcendência ou a nossa capacidade de Deus se torna acontecimento real e esperançoso da Vida plena. Já estar morto quem não está na presença de Deus! A Igreja, santa e pecadora que é, continua sendo necessária para o fortalecimento objetivo da nossa "carência" Dele. Pela falta de conversão pode ser apagado o humano que é divino; mas nunca poderemos destruir o divino que é humano.
Por fim, a Páscoa de Cristo é sempre um convite para que os cristãos repensem o sentido da vida. Ele é o Ícone de Deus manifestado ao mundo para que todos, que Nele acreditarem, possam ter a Vida eterna, que consiste no conhecimento do único Deus verdadeiro, e aquele que por Ele foi enviado, Jesus Cristo (cf. Jo 17,3). Assim o seja!
sexta-feira, 9 de abril de 2010
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