Atualmente é trivial ouvir-se comentários, debates, conferências, palestras, teleconferências sobre temas concernentes ao argumento no que diz respeito aos atos que influenciam direta ou indiretamente à vida humana e tudo aquilo que salvaguarda o seu pleno desenvolvimento. O significado da vida passa pelo que é natural à própria existência humana. Sobrepondo-se aos outros seres, o homem não só é reconhecido como ser vivente porque se movimenta; mas porque é consciente de ser o que é. Isso o faz nortear-se sempre para um fim. Ele age tendo em vista não só o imediatamente reconhecido. Ele espiritualiza a ação. Subordina o acaso com vista não só ao presente; mas ao futuro. Qualifica o ato porque é potencialmente estruturado para que o único possa ser tão importante quanto o todo. Como é consciente não anula a liberdade para não ser anulado por ela. Reconhece o diferente para adequar o caos. O homem, deste modo, desde a sua concepção é intrinsecamente vitalizado para ser o que deve ser; agir como deve agir; viver como deve viver; sentir porque deve sentir; amar porque é maravilhoso amar; reproduzir-se para completar e ser completado; pensar para descobrir-se e ser descoberto como realidade que existe para ser; mas também é ser para existir.
A filosofia realista clássica, com Aristóteles, Boécio e Santo Tomás, apresentou o conceito de homem de modo unidual; ou seja, ele é pensado como um ser individual de natureza racional. Passando por este último autor, a filosofia cristã acolhe a idéia e com ela embasa racionalmente a sua visão integral do homem dizendo que este é constituído de Corpo e Alma (Cf. Gaudium et spes 14). Desta definição tomamos duas acentuações relevantes: 1) O homem como ser corpóreo tem sua individualidade definida, se socializa, está no mundo, assume um espaço; 2) Como ser animado racionalmente tem sua subjetividade, transcende o imediato, está no tempo. Os dois pólos não se contrapõem; mas, ao contrário, se complementam e mostram que desde a sua concepção o homem tem dignidade emblemática em sua personalidade que deve ser respeitada e digna de direitos próprios de cada ser humano.
O Papa João Paulo II, de saudosa memória, citando o Concílio Vaticano II deplorou fortemente os múltiplos crimes e atentados que vilipendiam este ser humano. Diz ele: “À distância de trinta anos e fazendo minhas as palavras da Assembléia Conciliar, uma vez mais e com idêntica força os deploro em nome da Igreja inteira, com a certeza de interpretar o sentimento autêntico de toda reta consciência: ‘Tudo quanto se opõe à vida, como seja toda espécie de homicídio, genocídio, aborto, eutanásia e suicídio voluntário; tudo o que viola a integridade da pessoa humana, como as mutilações, os tormentos corporais e mentais e as tentativas para violentar as próprias consciências; tudo quanto ofende a dignidade da pessoa humana, como as condições de vida infra-humanas, as prisões arbitrárias, as deportações, a escravidão, a prostituição, o comércio de mulheres e jovens; e também as condições degradantes de trabalho, em que os operários são tratados como meros instrumentos de lucro e não como pessoas livres e responsáveis. Todas estas coisas e outras semelhantes são infamantes; ao mesmo tempo que corrompem a civilização humana, desonram mais aqueles que assim procedem, do que os que padecem injustamente; e ofendem gravemente a honra devida ao Criador’ (Cf. Encíclica Evangelium vitae, 3)”.
Ligado a estas intempéries é atual a questão da relação do ser humano com o ambiente. O tema da Ética Planetária ou Ambiental também já começa a ser discutido como elemento que inflige a relação do homem com os outros seres e com a sua própria qualidade de vida. Por isso, o debate no tocante à vida já se torna preocupante porque os fundamentos para uma respeitosa convivência do homem com o meio ambiente passa, necessariamente, por uma solidária integração do homem com os outros homens. Convertidos ao amor, os homens encontrarão o sentido para tudo o que fazem e descobrirão que é através do seguimento de Jesus Cristo que todos os povos terão vida, porque Ele é a Vida (Jo, 14,6).