São José de Mipibú - RN / Arquidiocese Natal

quarta-feira, 9 de dezembro de 2009

O Natal e o consumismo

A Igreja, através da sua Liturgia, está celebrando o Advento, que é um período de quatro semanas, cuja finalidade é preparar a comunidade cristã para viver a mística e a comemoração do nascimento de Jesus Cristo, o Filho de Deus e nosso Salvador. Neste tempo, “nós cristãos somos chamados a tomar consciência da nossa dignidade” (São Leão Magno, Papa, séc. V). E esta consiste no fato de que Deus nos deu uma prova de amor: “Sermos chamados filhos de Deus. E nós o somos! Se o mundo não nos conhece, é porque não o conheceu” (cf. 1Jo 3,1). Mas só somos filhos no Filho, graças à encarnação de Jesus, nascido de uma mulher, na plenitude do tempo (cf. Gl 4,4-7). A salvação de Deus abarca todos os tempos e lugares. Por isso que, a experiência do nascimento de Jesus Cristo na mente e coração de cada cristão vai além do dia 25 de Dezembro. Nós cristãos devemos lembrar antes de tudo que o Natal é momento de saber com quem precisamos estar e o que podemos ter pela encarnação da Palavra de Deus, em nossas humanidades (cf. Jo 1,14).

Na modernidade, depois da Revolução Industrial (séc. XIX) e mais radicalmente na Posmodernidade com indústria da cultura alimentada principalmente pelos meios de comunicação, o sagrado também está sendo meio de instrumentalização do transcendente, agora visto como transcendental. E aqui há uma sutil, porém, fundamental diferença que possibilita a interpretação do fenômeno do consumismo que escraviza as pessoas de modo silencioso e objetual. Enquanto que no período clássico o transcendente tinha seus fundamentos na realidade, na reviravolta da modernidade o conteúdo para a estruturação do conhecimento e do ser ficou por conta do sujeito. E eis a inquietação que precisa ser respondida: Quem vai ser o sujeito de quem? O mercado, que é esta mão invisível (Adam Smith), mediante seus muitos suportes econômicos, soube e continua sabendo, como utilizar e direcionar às pessoas para o objeto que não satisfaz e nunca satisfará, pois o transcendental não pode ter objeto, e assim ditar as liberdades individuais e coletivas que com suas vontades de poder eclipsam as verdadeiras potencialidades do ser. O consumismo é um dos sinais mais contundentes do fracasso da falaciosa felicidade do homem posmoderno. A revista Isto É (18 Nov/2009, ano 32, No 2088, pág. 70-71) trouxe uma matéria sobre consumo que afirma que “o endividamento crônico atinge milhões de brasileiros e pode ser uma porta de entrada para o vício do consumismo compulsivo” e apresenta 4 tipos de consumidores, a saber: 1) O equilibrado: Gasta menos do que ganha e economiza para poder comprar o que precisa. Evita dívidas cheque especial; 2) O neurótico: Passa horas no shopping, entra em diversas lojas, experimenta os produtos e não compra nada; 3) O primitivo: Compra com freqüência produtos repetidos e inúteis. Tende a acumular supérfluos em casa; e 4) O psicótico: Gasta mais do que ganha. Acumula dívidas, compromete o orçamento familiar e tem problemas legais. Por isso que cabe perguntarmo-nos em qual estágio estamos e se estamos, que é o caso dos mais pobres? A quem interessa de fato esta situação? O consumismo nos faz felizes e equilibrados ou é mais um sinal do vazio existencial? Qual é a realidade transcendente que, nós cristãos devemos querer e doar neste Natal que se aproxima?

Jesus um dia disse que nosso “Pai do céu sabe que temos necessidade de todas essas coisas” (cf. Mt 6,32); contudo afirmou: “buscai, em primeiro lugar, o Reino de Deus e a sua justiça, e todas essas coisas vos serão acrescentadas” (cf. Mt 6,33). Que o Natal do Menino Deus nos ajude a entender o significado destas palavras! Assim o seja!

sexta-feira, 4 de dezembro de 2009

Os amantes do Caos

O caos é a expressão humana e natural da desordem. Tudo se configura na falta de adequação da realidade. O homem necessita da harmonia circunstancial para viver o presente. Quem tenta proporcionar e fomentar o caos, nele se perde. Ele é forma a visível e imanente do Mal. O contentamento que há por parte de quem busca este tipo de desencontro nunca é duradouro. Uma das tantas características dos amantes da confusão é a infelicidade. São pessoas profundamente insatisfeitas com a vida e com o mundo. O sentimento de angústia permeia sua existência. Há um “não senso” para o que estas pessoas fazem. Elas não consideram as conseqüências de suas ações. Elas relativizam tudo. Elas não se amam. Quiçá, venha aqui outra peculiaridade destas personalidades, que é a falta de reflexão sobre a finalidade ética de cada ação. A bipolaridade entre o que é o ser humano e suas atitudes não é encarada em sua totalidade interna e relacional. Uma das grandes questões “revoltantes” da Posmodernidade é esta falta de “pré-visão” dos bens e dos males que podem advir como fruto das nossas atitudes revoltantes no futuro, profetizava Camus (cf. O Homem Revoltado). Por sinal, estão a confundir o que seja o revoltado e o revolucionário. “Todo homem revoltado pode vir a ser um revolucionário; mas, nem todo revolucionário é um revoltado”. Vale a pena ler e pensar sobre esta questão; pois, o humano Hipermoderno, principalmente, depois dos anos sessenta, veio a ser revolucionário; mas, não ainda, revoltado, sendo este um amante do Bem.

Os amantes do caos estão em todos os lugares. Na família, na escola, na igreja, no estado e na sociedade. Estas instituições são constituídas pelo homem e devem estar a serviço do mesmo. Aqui vemos uma tensão dialógica que internamente questiona a própria existência e externamente o que e quem pode limitá-la. As comunidades humanas reconhecidas podem “esclarecer” o que é o homem? Se podem, por que o caos, em todos os espaços e tempos, ganha poder e existência através das várias frustrações e depressões que assolam a condição humana? Os responsáveis pelo real Bem Comum precisam repensar as intenções e metodologias das ações que elevem a Vida à sua Plenitude. Para que a felicidade das pessoas não seja denegrida pelos que desejam o mal, um passo muito importante a ser dado é a comunhão entre o que é estético e o bem. Um dos grandes dilemas epistemológicos e práticos da Era nihilista é a separação entre ambos. Nem tudo que é belo é bom e nem tudo que é bom é belo. Prefiro deixar a assertiva no geral para que ela possa ser configurada em todos os tempos. Quando é inteligida a História Universal, se constata que os amantes do caos estiveram presentes em todos os espaços. Por isso que a possibilidade de pensar o belo, sem esperar a realização total do bem é uma das grandes loucuras do demasiado humano. Com a afirmação da morte de Deus no ethos ocidental, os amantes do caos tiveram e têm a delicada incumbência de viver com o eclipse de valores universais das várias instâncias absolutistas do poder temporal, a começar pelo próprio estado. Daí também se questionar sobre a aceitação das conseqüências antropológicas e cosmológicas desta falta dum poder que deve limitar outro poder?!

Por fim, façamos a experiência do encontro pessoal com a situação concreta, a saber: O que nós somos? Como nos comportamos diante do sofrimento? Nós temos respostas para ele em nossas vidas e em tudo que tem vida? As pessoas que dão sentido ao mal com suas liberdades, valorizam mais a infelicidade do que a felicidade. Para se sentirem alguém precisam viver em função do mal e com o mal. Jesus diz: “Ó Pai! Tudo é possível para ti: afasta de mim este cálice; porém, não o que eu quero, mas o que tu queres (cf. Mc 14,36)”. Ele quer o belo e bem. Ele deseja a comunhão. Assim o seja!