Nestes últimos dias surgiram divulgações e comentários jornalísticos em torno da resposta do Santo Padre, O Papa Bento XVI, o qual ao ser indagado sobre a questão do uso dos preservativos declara: “É obvio que ela (a Igreja) não os vê como uma solução real e moral. Não obstante, em um ou outro caso, podem ser, ‘na intenção de reduzir o perigo de contágio’, um primeiro passo no caminho rumo a uma sexualidade mais humana” (cf. Zenit). Contudo, muito mais relevante para compreensão do pensamento do Pontífice é o que ele afirma sobre o significado da sexualidade: “O importante é que o homem é alma e corpo, que ele é ele mesmo enquanto corpo e que, por isso, é possível conceber o corpo de forma positiva e a sexualidade como um dom positivo. Através dela, o homem participa da condição criadora de Deus. Encontrar esta concepção positiva e cuidar desse tesouro que nos foi dado é uma grande tarefa” (Idem). Estas questões podem ser lidas no livro “Luz do Mundo”, que segundo o autor, Peter Seewald, o papa apresenta um amplo “panorama”, em seis horas de entrevista realizadas em junho passado, em Castel Gandolfo, na residência de verão dos pontífices.
O que o papa disse em hipótese alguma fere o que é magistério eclesiástico. O bombardeio jornalístico focou a atenção muito mais no uso da camisinha do que na afirmação do pontífice sobre o sentido da sexualidade. Sem dúvida, com um teor de ideologia da ditadura do relativismo Posmoderno, foi imediatamente traçado uma massificação das palavras do pontífice para que o uso das “sacolas de plástico” possa passar a ser visto, paulatinamente, como a solução para os reais problemas que afligem a vivência da sexualidade, que “é uma componente fundamental da personalidade, um modo de ser, de se manifestar, de se comunicar com os outros, de sentir, de expressar e de viver o amor humano. Esta capacidade de amor como dom de si tem, por isso, uma encarnação no caráter esponsal do corpo, no qual se inscreve a masculinidade e a feminilidade da pessoa. (...) A sexualidade deve ser orientada, elevada e integrada pelo amor, que é o único a torná-la verdadeiramente humana. Quando tal amor se realiza no matrimônio, o dom de si exprime, por intermédio do corpo, a complementaridade e a totalidade do dom; o amor conjugal torna-se, então, força que enriquece e faz crescer as pessoas e, ao mesmo tempo, contribui para alimentar a civilização do amor; quando pelo contrário falta o sentido e o significado do dom na sexualidade, acontece uma civilização das coisas e não das pessoas; uma civilização onde as pessoas se usam como se usam as coisas. No contexto da civilização do desfrutamento, a mulher pode tornar-se para o homem um objeto, os filhos um obstáculo para os pais” (cf. sexualidade humana: verdade e significado, 10).
A assertiva do pontífice deverá ser interpretada tendo-se em vista questões urgentes e circunstanciais. A sexualidade não perde sua finalidade de ser meio de realização da pessoa humana. A vivência da sexualidade implica doação e integração total. Por sinal, uma das características de pessoas que vivem uma sexualidade desumanizada é desequilíbrio psicossocial. Basta conversarmos com pessoas que têm esta vivência. Mas não deveria ser o contrário!? Só que não é. Pela sua significância para realização humana, a sexualidade só é meio de satisfação psicoafetivamente e conseqüentemente, potencialidade criadora da Civilização quando tem sua intenção finalística plenamente respeitada.
Por fim, que a experiência do amor seja a qualidade inerente às relações sexuais e que, assim sendo, tudo possa ser um sinal deste amor do Criador. Assim o seja!