São José de Mipibú - RN / Arquidiocese Natal

quarta-feira, 29 de junho de 2011

O profetismo e a cultura posmoderna

Um dos temas mais abordados pelos pensadores sociais da atualidade é a Posmodernidade. Diria até que é um tema transversal. Filósofos, sociólogos, psicólogos e antropólogos, o vêem como a questão que coloca o humano diante do dilema de quem ele é e que papel ocupa na nova ordem civilizatória. Digo nova porque, mesmo sem definição e fronteira históricas, tem elementos idiossincráticos ao seu dinamismo, como por exemplo a força e o poder avassaladores que têm hoje os “meios de comunicação sociais”. Com a reviravolta epistemológica orquestrada por René Descartes e aprofundada por Kant, a Modernidade lançará suas redes no individuo como sujeito-objeto e objeto-sujeito de tudo que o rodeia e que está sob seu jugo. Este dado é suficiente para o direcionamento racional da propositiva.

As instituições estão a passar também por uma crise de identidade. Os estados entram na armadilha de querer agradar a todos. A crise política do Oriente Médio, com toda sua tradição teocrática, instigou as movimentações de grupos nos outros recantos do mundo. Aí eclodem as variadas formas de pressão da opinião pública e da classe política para que tantos direitos, e espero que deveres, sejam reconhecidos. Transparece uma insatisfação com o já existente e o desejo de que novas ordens sistêmicas sejam institucionalizadas. No entanto, a discussão de maior relevância ainda não foi chamada em causa, que é a urgente e necessária existência da Tolerância. Mesmo sendo uma temática abordada na modernidade, fruto da reflexão política e filosófica sobre o estado moderno; ela continua fundamental para que a maturação das decisões, presentes e futuras, cheguem a bom termo de eficiência e eficácia.

Uma impostação que não considero, em hipótese alguma ingênua e a mais necessária de todas e, por isso, profundamente profética na Posmodernidade, é a máxima de Jesus: “o que vocês desejam que os outros lhes façam, também vocês devem fazer a eles” (cf. Lc 6,31). Eis um ensinamento que configura e sintetiza que tipo de profetismo pode ser anunciado na Posmodernidade. Esta cultura não pode querer ser só institucional nem só individual; mas sim relacional, que, por sua, vez só será possível se existir respeito mútuo entre as pessoas, as instituições e os povos. Para aqueles que fogem do discurso religioso esta Tolerância pode soar como via alienadora e alienante que precisa ser superada e abolida pelo dogmático e absolutista estado laico. Para estes a luta estratificada e revoltosa é que trará concretização das tantas e minoritárias buscas dos componentes dos grupos. Neste cenário, vem o “Homem Revoltado” de Albert Camus. O indignado com a injustiça do real. Isto particularmente deveria nos chamar à atenção, sendo que, nas religiões monoteístas o profeta também era este inquieto que representava os interesses de grupos não atendidos pela religião dominante institucionalizada (cf. Pierre Bourdieu).

O profetismo para o mundo de hoje continua sendo necessário; mas sem os embasamentos ideológicos e relativistas, que violentam a realidade e as pessoas. A orientação de Jesus Cristo é a mais profética e atual de todos os tempos, pois não violenta o pessoal nem o coletivo. Mudemos os nossos corações e conseguiremos redirecionar nossas atitudes para que haja convivência pacífica e respeitosa de todos os Seres Humanos. Assim o seja!