Em setembro, a Igreja celebra o Mês da Bíblia. Para os crentes, ou seja, para todos os que têm fé em Deus, nela está contida a história da salvação. Esta aparece como acontecimento interativo entre a ação amorosa de Deus que é Amor (cf. 1Jo 4,8) e a liberdade humana que, como ato da vontade, veícula o conhecimento e plenitude da própria vida. Esta forma de personalização da realidade divina é elementar para o próprio discernimento interpretativo do que seja essa vida de Deus, que acontece no tempo e no espaço da comunidade fiel que acolhe a sua fala como palavras de vida segura, comunicativa, justa, fiel, alegre (cf. Dt 4,13-14; Sl 119). Já no Antigo Testamento são encontradas palavras, normas, estatuto, orientações (decálogo: dez palavras; Torah: instrução) dadas por Deus como meio vinculante de relação entre os homens e destes com Deus, tendo em vista uma crescente conscientização da aliança feita (cf. Gn 15,1).
A categorização da palavra como meio comunicativo da revelação é bem relevante para qualificação divina que, no Verbo e pelo Verbo (Palavra), acontece de modo gradual até chegar à plenitude (cf. Jo 1, 1-2). Pela palavra fala-se do divino que toma sua forma humana. Por ela, o que é divino se aproxima do humano e, em contrapartida, o humano se aproxima do divino. Ela integra e possibilita a interpretação do que está na mente de Deus e foi doado ao homem como símbolo do que é princípio, meio e fim da vida humana (cf. Jo 1,2-3). A leitura inteligente da Sagrada Escritura, tendo em vista os seus pressupostos teológicos, é sempre atual para o encontro e realização de todos os anseios da humanidade. Isto porque, nela, a mensagem divina é testificada como palavras (Decálogo) e Palavra (Logos. Idem, Jo 1,1), Jesus Cristo, o Verbo feito carne (cf. Jo 1,14), elemento interpretativo norteador da personificação da Palavra de Deus.
Por isso, a comunidade pode fazer a seguinte pergunta: a quem iremos Senhor, só tu tens palavras de vida eterna? (cf. Jo 6,68-69). Elas são de vida porque dizem ao homem o que ele mais deseja ouvir sobre si mesmo acerca do seu mistério, do seu fim, do seu ser, da sua existência, do seu tudo. Por ela, é dito que o Reino de Deus está próximo (cf. Mc 1,15). Por ela, se torna sempre presente que o amor pode ser vivido na história humana, apesar do seu pecado. Por ela, este Reino é de “verdade e de vida, reino de santidade e de graça, reino de justiça, de amor e de paz. Sobre a terra, o reino já está misteriosamente presente. Quando o Senhor vier, atingirá a perfeição (cf. GS 39)”. Quando se fala sobre esse mistério, deve ser lembrado que, hoje, este Reino acontece quando os Discípulos de Jesus, seguindo o exemplo do Mestre, tomam atitudes dignas de verdadeiros anunciadores da palavra que leram e ouviram. Estes “escritos mostram que Jesus é o Cristo, o Filho de Deus, para que, crendo, tenhais vida em seu nome (cf. Jo 20,31)”. Desta forma, é necessário que a Bíblia seja lida com o mesmo espírito com o qual foi escrita.
Na condição de discípulos e missionários de Cristo, faz-se importante que, em nossas comunidades cristãs, seja fomentada, em todas as pessoas, uma séria e profunda espiritualidade bíblica. A Igreja reitera este convite a todos os cristãos. Caríssimos, vamos ler a Sagrada Escritura! Pois, “Ignorar as Sagradas Escrituras é ignorar o próprio Cristo”, disse São Jerônimo (Séc. IV). A Igreja acredita na importância da utilização da catequese bíblica em sua ação missionária (cf. DV,VI). Esta palavra deve ser o fundamento de todo anúncio. Por isso, que seja lida e amada a Palavra de Deus.