A Solidariedade é um dos princípios da Doutrina Social da Igreja, que segundo o Papa Bento XVI, é “caritas in veritate in re sociali”, ou seja, proclamação da verdade do amor de Cristo na sociedade; é serviço da caridade, mas na verdade (cf. Caritas in Veritate, n. 5). “Os problemas sócio-economicos só podem ser resolvidos com o auxílio de todas as formas de solidariedade; solidariedade dos pobres entre si, dos ricos e dos pobres, dos trabalhadores entre si, dos empregadores e dos empregados na empresa, solidariedade entre as nações e entre os povos. A Solidariedade internacional é uma exigência de ordem moral. Em parte é da solidariedade que depende a paz mundial (cf. CIC, n. 1941)”.
Os fundamentos epistêmicos e ativos do real significado da Solidariedade, no Ocidente, são cristãos (cf. Lc 10,30-37; Mt 14,14-21; Jo 6,1-13). Mesmo havendo uma apropriação indevida e burguesa deste conceito, na modernidade, depois da Revolução francesa (1789), sua sustentabilidade é movediça; pois esta é delegada ao Estado. As críticas feitas pela filosofia moderna a este princípio são equivocadas, já que o ponto de partida para a compreensão da Solidariedade como prática cristã é “animada e fortalecida”, universal e categoricamente, pelo(s) gesto(s) e palavras de Cristo. Para o Cristianismo a Solidariedade se alicerça no amor que se doa completamente. Não se trata de discurso filantrópico, sem comprometimento com o outro. Muitas associações surgidas no iluminismo fazem retórica duma fraternidade cósmica sem um comprometimento integral e permanente do amor ágape (cf. 1Cor 13,1-13). A Solidariedade cristã se tonifica diariamente do mistério pascal de Cristo.
O verdadeiro profetismo do Cristianismo na Posmodernidade passa necessariamente pela vivência da Solidariedade. Sem esta, a própria convivência humana se torna infrutífera e delirante. Ela nos convoca ao Outro que tem um rosto e um nome. Para que o mais pobre dos pobres seja objeto da nossa solidariedade, ele precisa ser conhecido e reconhecido como pessoa. A Solidariedade deve ser acompanhada da gratuidade que se oferece sem violentar a liberdade do Outro que se encontra na linha da pobreza, não só material; mas também, psicológica e espiritual. A Solidariedade tem que percorrer as veias individuais e institucionais da Sociedade. São louváveis as atitudes dos países, artistas e outros, que se condoeram com a triste situação dos haitianos; contudo, não pode ser só em tempos de catástrofes, como estes, que a Solidariedade passa a ser vista como um bem humanitário! Os haitianos, como muitos outros países da África e América, vivem em situação de extrema pobreza, mas só depois do desastre natural e midiático, é que houve o despertar da sensibilidade dos outros países para suprimento da miséria. Isto é mais uma prova de que a Solidariedade é um meio eficiente e eficaz de aprimoramento das relações pessoais e globais. O cuidado dos seres humanos pelos seus semelhantes é a salvação da Humanidade e da Criação. Converter-se a esta proposta com sua referência teológica não é alienante e ilusória. Uma prática da Solidariedade circunstanciada e temporal pode estar conjugada com o ideal duma ética solidária e universal. O que continua faltando nos lineamentos positivados é o conteúdo que dê primazia à vida de todos os seres humanos desde a sua concepção até o seu fim natural.
Sem o Cristianismo, a Solidariedade é um corpo sem alma. Ela é a esperança do futuro da Humanidade; é necessária em nossos corações, para que exista em nossas famílias e, consequentemente, reluza no mundo. Assim o seja!