São José de Mipibú - RN / Arquidiocese Natal

sexta-feira, 6 de fevereiro de 2009

O Poder como arte

O poder acontece como arte. Hoje não se concebe mais o poder como força. Há pessoas que dizem que "manda quem pode, obedece quem tem juízo". Será que, quem pode, manda? O poder bem articulado é comparado ao sangue que corre em nossas veias e que tem no coração o seu motor. Há quem tenha a idéia que o poder se sustenta pela força; porém quem faz a leitura da História logo perceberá que teve o poder quem "coordenou, pelas idéias, o que e quem lhe circundava". O espírito do poder é a ideologia, aqui no sentido de idéia como alma da articulação política. Para os gregos o governante (político) tinha que ter adjunto a figura do filósofo, ou seja, o homem das idéias.

No estado moderno, a força ganhou preponderância como elemento constitutivo do Estado de Direito. Por ela, a lei deve se impor como via de ordenamento social. A microfísica do poder se solidifica pela violência; não pela razão. Contudo, cabe a pergunta: A razão violenta a realidade? Eis, aí, a maior diferença que o próprio Estado precisa reconhecer. Na tecitura da veiculação do poder, a razão tem que ser como o oxigênio que enche os pulmões. As instituições necessitam deste oxigênio. O problema da nossa política atual é que a mediocridade alimenta a mediocridade. Ressalto que esta dificuldade está presente em muitas instancias detentoras das várias atomizações do Estado Democrático de Direito. Triste de quem pensar na gestão do poder isoladamente. Quem centraliza a arte de lhe dá com ele não se sustenta. A sinfonia do poder é uma artimanha, sim, humana; mas porque não pensar que ela só tem consistência no que é divino? Só o poder controla o poder! A própria insistência na permanência duma necessidade da ordem entre os homens, já inquieta as formas efêmeras do poder humano.

Gostaria de confrontar duas realidades que exerceram e ainda exercem maneiras absolutistas de exercício do poder: 1) A ditadura militar, aqui no Brasil e outros países da América Latina e 2) O modo, tanto quanto totalitarista, de atuar o poder, que comanda Cuba. Sem nenhuma apologia a tomada do poder pelos militares, a diferença é que, enquanto os militares viabilizaram a tomada pela força, que violentou os direitos das pessoas; a outra, em contrapartida, adequou a realidade das pessoas à sua ideologia. Por isso que, muitos e muitos anos serão precisos, se for o caso, para que Fidel Castro morra naquela Ilha. Destas experiências, algo nós podemos contemplar: nem sempre quem tem o poder, possui a força que universaliza o particular.

Nas várias instituições esta reflexão precisa ser feita: presidentes, governadores, prefeitos, bispos, juízes, padres, superiores, chefes de repartições etc, quem não entra na lógica interna da administração do poder só fará mal à Sociedade. Ninguém possui o poder fora da comunidade. Mas o que torna forte uma existência humana, em comum, são os ideais concretizados. Qualquer político que costura bem esta dinâmica, se tonifica com e na comunidade.

Por fim, Jesus tem algo a nos dizer. No diálogo com Pilatos ele sentencia: Nenhuma autoridade terias sobre mim, se de 'cima' não te fosse dada; por isso, quem me entregou a ti maior pecado tem (Jo 19,11). Ainda, o servo não é maior do que seu senhor, nem o enviado, maior do que aquele que o enviou (Jo 13,16). Daqui, se infere que, todo poder humano é passageiro e, se executado com dignidade, tem no 'serviço' o seu único fim; "pois aquele que tem mais Poder; deve ter maior Responsabilidade (Jo 13,13-14)". Assim o seja!