Como sacerdote, percebo pelas conversas com casais de namorados, noivos, cônjuges de longa vivência matrimonial, grupos de casais da pastoral familiar, e, claro, amigos e amigas que partilham suas experiências e anseios existenciais, que o amor precisa se nutrir e ser nutrido pela amizade. Na direção espiritual e no contato com aqueles que me buscam para recepcionarem o sacramento da misericórdia, sinto que a harmonia daqueles que se dizem enamorados acontece pela correspondência de quem acolhe e é acolhido no, e, pelo relacionamento que se identifica por amoroso.
Mas alguém poderia perguntar, quando é que se encontra o verdadeiro amigo ou amiga, ou ainda, como saber que aquele que está comigo é meu amigo ou minha amiga? Posso utilizar o livro do Eclesiástico (6,7-12) que faz ponderações interessantes sobre alguns amigos ao dizer que "se queres um amigo, adquire-o pela prova e não te apresses em confiar nele. Porque há amigo de ocasião: ele não será fiel no dia de tua tribulação (o desleal). Há amigo que se torna inimigo e que revelará querelas para tua vergonha (o traidor). Há amigo que é companheiro de mesa, mas que não será fiel no dia da tribulação (o egoísta). Na tua prosperidade é como se fosse um outro tu, falando livremente a teus servos (o oportunista); se és humilhado, estará contra ti e se esconderá da tua presença (o covarde)". As qualificações são antinomias postas por mim. Porém, o mais significativo e remediável o que o referido autor ao dizer o seguinte: "Um amigo fiel é um poderoso refúgio, quem o descobriu, descobriu um tesouro. Um amigo fiel não tem preço, é imponderável o seu valor. Um amigo fiel é um bálsamo vital e os que temem o Senhor o encontrarão. Aquele que teme ao Senhor faz amigos verdadeiros, pois tal como ele é, assim é seu amigo (6,14-17)". Categoricamente o que na segunda parte é afirmado é que o verdadeiro amigo é 'Fiel'.
Nas várias relações amorosas será que nós nos confrontamos com quais protótipos que o autor coloca? Fazendo a análise e as devidas observações será possível discernir por quais vias se pode caminhar para as boas e belas amizades aconteçam e por elas as encantadoras experiências de amor. Mas, novamente se poderia perguntar, como saber que esta amizade já se realiza de modo mais plenificado e permanente?
Mais uma vez me reporto à sabedoria tão antiga e tão nova que são os ensinamentos da Sagrada Escritura, a saber: conferindo o texto sagrado se encontra o que "o amor e como toma a sua forma resignificada na vida daqueles que se amam ao dizer que "o amor é paciente, o amor é prestativo, não é invejoso, não se ostenta, não se incha de orgulho. Nada faz de inconveniente, não procura o próprio interesse, não se irrita, não guarda rancor. Não se alegra com a injustiça, mas se regozija com a verdade. Tudo desculpa, tudo crê, tudo espera, tudo suporta. O amor jamais passará. Quanto às profecias, desaparecerão. Quanto às línguas cessarão. Quanto à ciência, também desaparecerá (cf. 1 Cor 13, 4-8)". A conclusão que pode ser tirada é que só esse amigo fiel poderá nutrir este amor que se renova constantemente por aquilo que é próprio do amor.
Por fim, as várias tendências relativistas que se relativizam, através dos elementos peculiares da época pos-moderna, racionalizam estas formas intrinsecamente humanas de vivência da integração e do verdadeiro prazer das relações sociais. As neuroses e desencontros presentes nos comportamentos individuais e coletivos só tendem a piorar se a deslealdade, o egoísmo, o oportunismo e a covardia nortearem os vários relacionamentos. Mas como somos filhos da Esperança, podemos dizer que o nosso grande amor deve ser o nosso melhor amigo ou amiga. Assim o seja!