Quando se inicia o Ano Novo surgem várias motivações que envolvem questões que normalmente têm uma relação com o tempo. São lembrados trivialmente dois aspecto deste, a saber: o passado e o futuro. Há uma motivação para deixar para trás o que passou e voltar-se para o futuro. Claro que tudo o que se viveu de bom deseja-se que seja lembrado ou repetido no ano que se aproxima. Os sonhos e os projetos não realizados podem ser buscados insistentemente ou deixados de lado por uma vontade fraca e débil. Mas a vida humana é que pode dar consistência a tudo isso, pela sua identidade, pelas suas peculiaridades racionais, subjetivas, culturais (econômicas, políticas, sociais, ecológicas etc). Contudo, como fica o presente?
No ocidente se pensa o tempo partindo de duas perspectivas que são tratadas de dois modos: 1) quantitativo (chronos) e o 2) qualitativo (Kairos). No primeiro se tem uma dimensão que, sem dúvida, evoca mais precisamente o sentido do passado e do futuro que na cadeia dos fatos forma uma relação descontinua com o presente; enquanto que, com o segundo se evoca o acontecimento atual como meio triangular que continuamente forma a duração do que é passado porque é presente e este, por sua vez, é que possibilita a mediatização do futuro.
Para nós cristãos a plenitude deste tempo é Jesus Cristo. Ele é o princípio e o fim de tudo que foi criado (cf. Jo 1,1-3; Col 1,15-19; Gl 4,4; Mc 1,15). Cristo reassume a forma qualitativa de inteligir e, acima de tudo, de se viver o tempo. Pensar na realidade temporal como meio de realização da condição humana, tendo-se em vista que o hoje revela o que o ser humano não é e o que ele nunca poderá ser na relação com o que o circunda.
A possibilidade de que no tempo dos homens aconteça a ação de Deus depende do referencial teológico que estes têm para a compreensão da dimensão qualitativa da História. Tomando mais especificamente a dimensão neotestamentária, podemos tomar o que nos textos evangélicos pode-se captar nalgumas partes mais diretas a conferir em (Mt 5-7; Mc 1-3; Lc 4 e 15; e ainda, Jo 17). Em síntese, o que o cristão pode viver do tempo de Deus, ele o deve testemunhar, como discípulo de Jesus, em cada situação concreta. Outrossim, na vida considerando o que na sua consciência se manifesta no tempo e no espaço da História do homem. Jesus Cristo é cume de tudo o que nós queremos que aconteça como significado máximo da realização humana.
A tradução destas metas são consideradas relacionalmente. A dimensão dialógica é vista, na modernidade, como meio sem o qual o que é próprio de Deus não poderá fundir-se no que é humano. Veja-se o que o autor sagrado mostra como atualização futurística do aqui e agora que já se almeja ver: "segundo ele, é a fé a substância das coisas que se devem esperar, um argumento das coisas que não aparecem (cf. Hb 11,1)." Pela virtude teologal da fé o que é esperado não pode ser diferenciado do presente. A temporalidade de Cristo, por causa da sua encarnação (Jo 1,14), torna central o que para o discípulo é fundamental na dinâmica pedagógica de Deus que faz da Sua eternidade a atualidade do homem que acredita que Ele é o senhor da História.
Por fim, vivamos o Ano Novo com o coração e a mente disponíveis para o Senhor da História! Se acreditarmos que a forma qualificada é Dele e que nós queremos participar dela, vamos contribuir com as nossas ações para que, também, o tempo quantitativo não seja meio de desesperos e infelicidades; mas de alegrias e felicidades para todos nós que somos filhos Daquele que o Criador deste Ano Novo. Assim o seja!