Nos cinemas do Brasil está sendo visto outro filme do mesmo autor do Código da Vinci. Para os cinéfilos, temos de reconhecer que é uma boa produção. Um bom enredo com suas intercalações bem lógicas e em contextos significantes e significativos; O ator principal, Tom Hanks, que novamente faz uma brilhante interpretação; e claro as próprias imagens de Roma e da Cidade do Vaticano que, por si, já ilustram a beleza da produção. Mesmo que seja retificado que muitas daquelas imagens são criações cinematográficas, como, por exemplo, o escritório do Papa que é mostrado e outros espaços do Vaticano que sem dúvida, não foram objeto das gravações. Imaginem que as portas do Vaticano seriam abertas para as filmagens daquelas prosopopéias!
O autor dos livros que alicerçaram as tramas dos dois filmes, Brown, sem dúvida não pode ser tido como um historiador no sentido estrito do termo. Isto já é o suficiente para que o que foi e é lido e visto, nas salas dos cinemas e livrarias, possa ser encarado e tratado como o que de fato estes livros e filmes de diversão são, ou seja, uma “ficção literária e cinematográfica”. Ele, o autor, tem certa atenção especial por aquilo que concerne às realidades da Igreja, mais propriamente, às questões vaticanistas e a pontos culturais vinculados a mesma instituição. O Código da Vinci rendeu a ele muita fama e, sem dúvida, muito lucro. Ele atingiu a coletividade naquilo que na Posmodernidade, esta tem de mais vulnerável, que é a sua subjetividade. Theodor W. Adorno, neste contexto, fala duma “indústria da cultura”. Hoje é acolhido pelas pessoas o que é mais acessível e massificado pelos meios de comunicação. A cultura, ela também, se tornou um meio do mercado e do capital se potencializarem. A credibilidade, que é auferida por criações artísticas deste gênero ficcionista, demonstra o quanto de fato os conceitos e formas tradicionais de se pensar, esta cultura, necessitam de reflexões mais contemporaneizadas. Há uma tentativa enigmática e vazia de confundir o que é constitutivo da Civilização. Hoje, devido às redes mundiais de comunicações, podemos dizer que estas confusões atingem o mundo. Muitos autores trabalham a necessidade de uma ética planetária justamente porque o que era problema de um grupo social ou de uma nação em período Premoderno, tornou-se cosmológico na atualidade.
Uma preocupação muito interessante é abordada no desenrolar das falas, a saber: “a relação entre fé e razão”. Esta discussão já está superada pela Igreja faz muito tempo. Aliás, quem sabe História, deve saber muito bem que a Igreja sempre caminhou ao lado da ciência. Até mesmo quando em momentos isolados, elas tiveram pontos de vista diferentes devido aos paradigmas dos quais cada uma partia para sistematizar suas teorias e substanciar seus campos de conhecimento e de poder. Algo incisivamente inquietante é que os livros e os filmes estão sendo vistos por uma grande maioria de jovens que ainda não têm bases epistemológicas bem fundamentadas para verem, analisarem e descobrirem o que pode ser absorvido das intercalações e imagens das produções.
Por fim, o que precisa ser lembrado é que não podemos confundir o real com o virtual e o fictício. Não voltemos, nós outros, a época dos mitos e fábulas da irracionalidade. Quem for ver o filme, que o veja comendo pipoca (se quiser e tiver o dinheiro, rsrsrsrs...!) e com olhar crítico sobre as intenções de quem o produziu. Quanto ao que dizem a respeito da Igreja, bobagens e mais bobagens! Pensem só um padre no conclave dizendo o que os cardeais devem fazer?! Não podemos deixar de ver o que de positivo pode ter para os amantes da boa arte e da cultura no sentido lato do termo que é propaganda dos lugares fantásticos e belos da Cidade Eterna. Quem já morou ou a conheceu o sabe muito bem. Assim o seja!