São José de Mipibú - RN / Arquidiocese Natal

sexta-feira, 19 de junho de 2009

A identidade do presbítero

Na sexta feira, na festividade do Sagrado Coração de Jesus, 19/06, foi aberto o ano sacerdotal. Por meio deste, o Santo Padre, Bento XVI, nos convida à reflexão sobre a identidade do presbítero como alguém que deve ter sua fidelidade sacerdotal unida à fidelidade de Cristo. Os sentimentos de Cristo devem ser a meta existencial de todo presbítero. “Tende um mesmo amor, um mesmo coração; procurai a unidade; nada façais por rivalidade, nada por vanglória, mas, com humildade, considerai os outros superiores a vós, diz são Paulo (Fl 2,2-3)”. O que qualifica a vida e o ministério dos demais discípulos de Jesus, não é diferente do que dignifica a vida dos presbíteros.

"Fidelidade de Cristo, fidelidade do sacerdote". Mas a quem se devota esta fidelidade? O próprio Jesus nos dá a resposta ao orar: “Meu Pai, se é possível, esta taça passe longe de mim! Todavia, não como eu quero, mas como tu queres! (Mt 26,39)”. A nossa fé é provada quando somos chamados a viver a vontade do Pai. Não existe fidelidade sem amor. O presbítero só conseguirá ser fiel a Deus se tiver consciência do amor com o qual é amado pelo Pai, como o Filho o tinha (Jo 17,23.26). Só mesmo o amor permanece, por Jesus, no coração do presbítero, que em meio às “tribulações persevera e, por causa disto, tem sua fidelidade provada, a fidelidade provada, a esperança; e a esperança não engana, pois o amor de Deus foi derramado em nossos corações pelo Espírito Santo que nos foi dado (Rm 5,4-5)”. A Fé é a condição sem a qual a identidade do presbítero não se manifestará. O homem consagrado ao serviço dos demais membros do Povo de Deus tem que ter esta virtude teologal. Mesmo sendo um dom infuso por Deus à pessoa, este não dispensa a nossa liberdade. A Fé envolve o ser humano em sua condição existencial e categórica. O ser presbiteral acontece no momento atual; pois este faz parte do tempo qualificado de Deus. A fidelidade do presbítero não foge da forma divina de revelar-se na vida da pessoa que está a serviço dos demais filhos de Deus. A oração sacerdotal de Jesus elucida o que pode ser a mediação do presbítero que age na pessoa de Cristo, cabeça e pastor da comunidade. Para quem quer ser fiel, acreditar no projeto de Deus é imprescindível. A fidelidade de Jesus ganha sua realização histórica porque ele acredita no projeto do Reino de Deus (Mc 1,14-15; Mt 4,12-17; Lc 4,14-15). Esse mesmo desígnio floresce misteriosamente, justamente porque é divino; mas nem sempre nasce e se reproduz, como uma semente, no coração daqueles aos quais foi anunciado (Mt 13,18-23; Mc 4,13-20; Lc 8,11-15). O passo objetivo para que o presbítero seja dócil a esta proposta de fidelidade é a escuta continua da Palavra de Deus. Por meio dela, o sacerdote solidificará a sua espiritualidade sacramental. O padre Karl Rahner dizia que o presbítero dos tempos atuais deveria ser, antes de tudo, um mistagogo, ou seja, alguém que conduz ao mistério. Mas aqui vem a questão: a graça do sacramento dispensa a natureza ou a humanidade do padre? Para a teologia católica, não. A pedagogia formativa da Igreja considera as dimensões humana, intelectual, espiritual e pastoral, que hoje são consideradas não só durante a vida seminarística; mas durante toda a vida do presbítero. Para a Igreja é importante que o padre seja Homem, em sentido pleno, mais propriamente: honesto, verdadeiro, justo, psico-afetivamente equilibrado, amante do estudo, consciente que precisa estar em permanente diálogo com a cultura, orante (eucarístico) e amigo de Jesus, sem dispensar o afeto de Maria Santíssima, e dedicado a todos aqueles que lhe são confiados, como servidor e não como aproveitador.

Por fim, para nós, presbíteros, este é um ano de Graça de Deus. Aproveitemo-lo! Façamos nossos exames de consciência e vejamos como estamos testemunhando o nosso sacerdócio. Ainda contamos com as orações e apoio do Povo de Deus, ao qual devemos servir com amor e sem temor. Assim o seja!