São José de Mipibú - RN / Arquidiocese Natal

quarta-feira, 9 de dezembro de 2009

O Natal e o consumismo

A Igreja, através da sua Liturgia, está celebrando o Advento, que é um período de quatro semanas, cuja finalidade é preparar a comunidade cristã para viver a mística e a comemoração do nascimento de Jesus Cristo, o Filho de Deus e nosso Salvador. Neste tempo, “nós cristãos somos chamados a tomar consciência da nossa dignidade” (São Leão Magno, Papa, séc. V). E esta consiste no fato de que Deus nos deu uma prova de amor: “Sermos chamados filhos de Deus. E nós o somos! Se o mundo não nos conhece, é porque não o conheceu” (cf. 1Jo 3,1). Mas só somos filhos no Filho, graças à encarnação de Jesus, nascido de uma mulher, na plenitude do tempo (cf. Gl 4,4-7). A salvação de Deus abarca todos os tempos e lugares. Por isso que, a experiência do nascimento de Jesus Cristo na mente e coração de cada cristão vai além do dia 25 de Dezembro. Nós cristãos devemos lembrar antes de tudo que o Natal é momento de saber com quem precisamos estar e o que podemos ter pela encarnação da Palavra de Deus, em nossas humanidades (cf. Jo 1,14).

Na modernidade, depois da Revolução Industrial (séc. XIX) e mais radicalmente na Posmodernidade com indústria da cultura alimentada principalmente pelos meios de comunicação, o sagrado também está sendo meio de instrumentalização do transcendente, agora visto como transcendental. E aqui há uma sutil, porém, fundamental diferença que possibilita a interpretação do fenômeno do consumismo que escraviza as pessoas de modo silencioso e objetual. Enquanto que no período clássico o transcendente tinha seus fundamentos na realidade, na reviravolta da modernidade o conteúdo para a estruturação do conhecimento e do ser ficou por conta do sujeito. E eis a inquietação que precisa ser respondida: Quem vai ser o sujeito de quem? O mercado, que é esta mão invisível (Adam Smith), mediante seus muitos suportes econômicos, soube e continua sabendo, como utilizar e direcionar às pessoas para o objeto que não satisfaz e nunca satisfará, pois o transcendental não pode ter objeto, e assim ditar as liberdades individuais e coletivas que com suas vontades de poder eclipsam as verdadeiras potencialidades do ser. O consumismo é um dos sinais mais contundentes do fracasso da falaciosa felicidade do homem posmoderno. A revista Isto É (18 Nov/2009, ano 32, No 2088, pág. 70-71) trouxe uma matéria sobre consumo que afirma que “o endividamento crônico atinge milhões de brasileiros e pode ser uma porta de entrada para o vício do consumismo compulsivo” e apresenta 4 tipos de consumidores, a saber: 1) O equilibrado: Gasta menos do que ganha e economiza para poder comprar o que precisa. Evita dívidas cheque especial; 2) O neurótico: Passa horas no shopping, entra em diversas lojas, experimenta os produtos e não compra nada; 3) O primitivo: Compra com freqüência produtos repetidos e inúteis. Tende a acumular supérfluos em casa; e 4) O psicótico: Gasta mais do que ganha. Acumula dívidas, compromete o orçamento familiar e tem problemas legais. Por isso que cabe perguntarmo-nos em qual estágio estamos e se estamos, que é o caso dos mais pobres? A quem interessa de fato esta situação? O consumismo nos faz felizes e equilibrados ou é mais um sinal do vazio existencial? Qual é a realidade transcendente que, nós cristãos devemos querer e doar neste Natal que se aproxima?

Jesus um dia disse que nosso “Pai do céu sabe que temos necessidade de todas essas coisas” (cf. Mt 6,32); contudo afirmou: “buscai, em primeiro lugar, o Reino de Deus e a sua justiça, e todas essas coisas vos serão acrescentadas” (cf. Mt 6,33). Que o Natal do Menino Deus nos ajude a entender o significado destas palavras! Assim o seja!

sexta-feira, 4 de dezembro de 2009

Os amantes do Caos

O caos é a expressão humana e natural da desordem. Tudo se configura na falta de adequação da realidade. O homem necessita da harmonia circunstancial para viver o presente. Quem tenta proporcionar e fomentar o caos, nele se perde. Ele é forma a visível e imanente do Mal. O contentamento que há por parte de quem busca este tipo de desencontro nunca é duradouro. Uma das tantas características dos amantes da confusão é a infelicidade. São pessoas profundamente insatisfeitas com a vida e com o mundo. O sentimento de angústia permeia sua existência. Há um “não senso” para o que estas pessoas fazem. Elas não consideram as conseqüências de suas ações. Elas relativizam tudo. Elas não se amam. Quiçá, venha aqui outra peculiaridade destas personalidades, que é a falta de reflexão sobre a finalidade ética de cada ação. A bipolaridade entre o que é o ser humano e suas atitudes não é encarada em sua totalidade interna e relacional. Uma das grandes questões “revoltantes” da Posmodernidade é esta falta de “pré-visão” dos bens e dos males que podem advir como fruto das nossas atitudes revoltantes no futuro, profetizava Camus (cf. O Homem Revoltado). Por sinal, estão a confundir o que seja o revoltado e o revolucionário. “Todo homem revoltado pode vir a ser um revolucionário; mas, nem todo revolucionário é um revoltado”. Vale a pena ler e pensar sobre esta questão; pois, o humano Hipermoderno, principalmente, depois dos anos sessenta, veio a ser revolucionário; mas, não ainda, revoltado, sendo este um amante do Bem.

Os amantes do caos estão em todos os lugares. Na família, na escola, na igreja, no estado e na sociedade. Estas instituições são constituídas pelo homem e devem estar a serviço do mesmo. Aqui vemos uma tensão dialógica que internamente questiona a própria existência e externamente o que e quem pode limitá-la. As comunidades humanas reconhecidas podem “esclarecer” o que é o homem? Se podem, por que o caos, em todos os espaços e tempos, ganha poder e existência através das várias frustrações e depressões que assolam a condição humana? Os responsáveis pelo real Bem Comum precisam repensar as intenções e metodologias das ações que elevem a Vida à sua Plenitude. Para que a felicidade das pessoas não seja denegrida pelos que desejam o mal, um passo muito importante a ser dado é a comunhão entre o que é estético e o bem. Um dos grandes dilemas epistemológicos e práticos da Era nihilista é a separação entre ambos. Nem tudo que é belo é bom e nem tudo que é bom é belo. Prefiro deixar a assertiva no geral para que ela possa ser configurada em todos os tempos. Quando é inteligida a História Universal, se constata que os amantes do caos estiveram presentes em todos os espaços. Por isso que a possibilidade de pensar o belo, sem esperar a realização total do bem é uma das grandes loucuras do demasiado humano. Com a afirmação da morte de Deus no ethos ocidental, os amantes do caos tiveram e têm a delicada incumbência de viver com o eclipse de valores universais das várias instâncias absolutistas do poder temporal, a começar pelo próprio estado. Daí também se questionar sobre a aceitação das conseqüências antropológicas e cosmológicas desta falta dum poder que deve limitar outro poder?!

Por fim, façamos a experiência do encontro pessoal com a situação concreta, a saber: O que nós somos? Como nos comportamos diante do sofrimento? Nós temos respostas para ele em nossas vidas e em tudo que tem vida? As pessoas que dão sentido ao mal com suas liberdades, valorizam mais a infelicidade do que a felicidade. Para se sentirem alguém precisam viver em função do mal e com o mal. Jesus diz: “Ó Pai! Tudo é possível para ti: afasta de mim este cálice; porém, não o que eu quero, mas o que tu queres (cf. Mc 14,36)”. Ele quer o belo e bem. Ele deseja a comunhão. Assim o seja!

quinta-feira, 12 de novembro de 2009

Amor à Igreja

Nós devemos amar a nossa Igreja. Ela é a nossa mãe. Por ela nós recebemos a “transfusão do sangue do Cordeiro”(Bento XVI). Por ela nós somos consagrados, no nosso batismo, à Trindade Santa. Por ela nós recebemos a Palavra que foi canonizada pela sua Tradição e confirmada como Verbo de Deus (cf. Jo 1,1-2). “A Igreja é em Cristo como que o sacramento ou sinal e instrumento da união com Deus e da unidade de todo o gênero humano” (cf. Concílio Vat. II. LG, 1). Por ela recebemos os sacramentos que os sinais da graça de Deus na vida dos seus filhos. Ela é o corpo de Cristo. Ela é realidade visível e espiritual da econômica “cristológica” do Filho.

O Concílio fala desta Igreja como “Povo de Deus”. Nós somos a Igreja. Ainda é muito confusa a concepção do que é e quem ela seja, por parte dos seus filhos. Essa verdade vem carregada de responsabilidades. Quem é da Igreja precisa alimentar o seu amor por ela. Como é triste vem um filho da Igreja que a vilipendia. Essa configuração da filiação divina, pela ação criadora, redentora e salvífica do Pai é reconhecida sobrenaturalmente pela ação visível da Igreja símbolo universal da comunhão divina. Esta mesma comunhão só pode realizar-se pela possibilidade da aceitação e conversão dos filhos de Deus, que devem se tornar discípulos do Filho e colaboradores do Espírito Santo na missão de anunciar o Reino de Deus. Neste mesmo, “o mistério da santa Igreja se manifesta, pois, desde sua própria fundação. O Senhor Jesus deu início a sua Igreja pregando a boa nova, isto é, a vinda deste Reino, prometido há séculos pelas Escrituras” (cf. LG, 5).

O maior e mais profundo sinal da comunhão e missão da Igreja é a Eucaristia. Ela é o sinal da unidade da comunidade fiel ao projeto de Jesus Cristo. Ela é o grande Dom do Salvador doado aos seus discípulos, pela sua Igreja. Uma comunidade cristã que não celebra e vive a Eucaristia, não sabe e nem pode experienciar o significado teológico e eclesial do que Jesus rogou ao Pai, a saber: “a fim de que todos sejam um. Como tu, Pai, estás em mim e eu em ti, que eles estejam em nós, para que o mundo creia que me enviaste” (cf. Jo 17,21). Como isto pode acontecer sem a mistagogia eucarística, como Mistério da Fé, para dar sustentação teológica, cristológica, espiritual e eclesial, no tempo de Deus e no espaço dos homens, da integral comunhão entre os fiéis? Por isso que, pensar na possibilidade do ecumenismo, por exemplo, exige da nossa parte a clareza da nossa identidade, que, por sua vez, não nega a necessidade do diálogo com outras comunidades cristãs. Na Igreja católica o sinal visível de unidade e comunhão eclesial é o Papa, que por confirmação do próprio Mestre que disse: “Tu és Pedro, e sobre esta pedra edificarei minha Igreja, e as portas do Hades nunca prevalecerão contra ela. Eu te darei as chaves do Reino dos Céus e o que ligares na terra será ligado nos céus, e o que desligares na terra será desligado nos céus” (cf. Mt 16,18-19).

Por tudo isto e muito mais, a nossa experiência de fé precisa da Igreja como meio objetivo da vinculação ao mistério de Deus que se revela. A Igreja é sujeito e ao mesmo tempo objeto da pregação e comunhão histórica com o que é da Trindade. Por ela o que é da fé e da esperança toma forma para ser amor. Por ela, o mistério da salvação é sempre atual (cf. Ef. 1,3-14). Cristo amou esta Igreja e por ela se entregou (Idem. 5,25). Nós somos chamados a amar esta Igreja que somos nós com nossas culpas e, também, nossa santidade. Cristo confia em nós. Como não amar quem me deu a vida na graça continuada do amor de Deus? Como eu poderia firmemente está com o Senhor sem o amor e a comunhão com esta Igreja? Caros irmãos, amemos a Igreja! Assim o seja!

segunda-feira, 9 de novembro de 2009

Um Projeto Pastoral Arquidiocesano

A Arquidiocese de Natal se prepara para celebrar o seu Centenário. Toda uma programação foi delineada para que o ápice das justas comemorações pudessem se realizar. Claro que nós como filhos e amantes desta igreja particular estamos felizes porque já são 100 anos de ação pastoral, evangelizando em comunhão e missão. Os elementos históricos são rememorados para que os homens e as mulheres de boa vontade possam ser, tanto quanto, reconhecidos como protagonistas de uma história feita de grandes testemunhas de amor a Jesus Cristo e à sua Igreja. Muito bem! Mas essa história precisa continuar sendo sempre antiga e, outrossim, sempre nova. O elemento que configura essa tradição é a mensagem da Palavra que se fez carne e habitou entre nós (cf. Jo 1,14). A Encarnação do Filho de Deus qualifica a história dos homens. Este mesmo homem que é o construtor da cultura, convertido ao Mistério do Reino que se manifestou em Jesus Cristo, pode ser “sinal de Jesus Cristo” vivendo plenamente a sua consagração, que acontece no Batismo, quando ele(a) assume o seu discipulado e a sua missionariedade.

Para o ano de 2010 a igreja particular precisa pensar um projeto formativo e missionário para toda a Arquidiocese. O documento de Aparecida diz que “a Diocese, presidida pelo Bispo, é o primeiro espaço da comunhão e da missão. O Bispo deve estimular e conduzir uma ação pastoral orgânica renovada e vigorosa, de maneira que a variedade de carismas, ministérios, serviços, e organizações se orientem no mesmo projeto missionário para comunicar vida no próprio território. Esse projeto, que surge de um caminho de variada participação, torna possível a pastoral orgânica, capaz de dar resposta aos novos desafios. Porque um projeto só é eficiente se cada comunidade cristã, cada paróquia, cada comunidade educativa, cada comunidade de vida consagrada, cada associação ou movimento e cada pequena comunidade se inserem ativamente na pastoral orgânica de cada diocese. Cada uma é chamada a evangelizar de modo harmônico e integrado no projeto pastoral da Diocese (DA, n.169)”. Se tomarmos as linhas mestras do documento, veremos que tudo está orientado para formação e a missão. A partir do encontro pessoal com Jesus é que se pode falar nestas duas necessidades da ação evangelizadora. Tendo em vista esta mesma proposta para cada Diocese é que nós devemos e precisamos pensar urgentemente em projetos (formativos-missionários) paroquiais. Podemos aproveitar as estruturas já instituídas com as quais contamos. Os organismos diocesanos, zonais, colégios católicos, santuários e claro que de um modo muito particular as paróquias, que neste contexto são apresentadas como “células vivas da Igreja e o lugar privilegiado no qual a maioria dos fiéis tem uma experiência concreta de Cristo e a comunhão eclesial. São chamadas a ser casas e escolas de comunhão (DA, n. 170)”. Como estruturas físicas e territorial onde estão os cristãos/discípulos torna-se necessário que para cada Paróquia seja pensado o seu “projeto formativo e missionário paroquial”, pois a ação missionária, mesmo não dispensando a confiança na ação do Espírito de Senhor presente no coração de cada fiel (cf. At 2,1-41;Rm 5,5), não pode prescindir duma atuação permanente, sistemática, metodológica e perseverante da ação evangelizadora que veja, julgue e haja através de modos instrumentos e atitudes que contemplem os desafios da Posmodernidade, que se tivéssemos parado para refletir é a grande tentativa da proposta do documento de Aparecida.

Por fim, queridos amigos e fieis deste Jesus que nos trouxe a grande “Revolução” da Humanidade, traçada e apresentada como o projeto do “Reino de Deus” (cf. Mc 1,15; Mt 4,17) tenhamos coragem e reflitamos sobre esta possibilidade que nas atuais circunstanciais é condição sem a qual as nossas ações pastorais serão muito mais “programações e ativismos” do que um sinal da comunhão e da missão por causa da Pessoa de Jesus Cristo, através da sua Igreja. Assim o seja!

domingo, 8 de novembro de 2009

E se o Magistério da Igreja mudasse?!

Hoje o mundo globalizado vive a Era da dinamicidade. E se existe uma característica desta rotatividade de todos em tudo e tudo em todos é a superficialidade. Como não pensar na existência de Algo que vincule a possibilidade de falar numa Humanidade, que não pode ser confundida só com a Civilização? Desta, a cultura é a alma (Marcuse); da primeira a realidade fundante são o homem e a mulher. Para o Magistério da Igreja que, por sua vez, “tem o ofício de interpretar autenticamente a Palavra de Deus escrita ou transmitida, e cuja autoridade se exerce em nome de Jesus Cristo, existe a preocupação com a Verdade, pois Jesus Cristo, o Verbo encarnado (cf. Jo 1,14), é a verdade e o amor (idem). Por isso, tal Magistério não pode estar acima da Palavra de Deus, mas a serviço dela, não ensinando senão o que foi transmitido, no sentido de que, por mandato divino, com assistência do Espírito Santo, piamente ausculta aquela palavra, santamente a guarda e fielmente a expõe, e deste único depósito de fé tira o que nos propõe para ser crido como divinamente revelado” (cf. DV, 10. Obs. Documento do Concílio, como a Gaudium et Spes). Cabe aqui uma reflexão, filosoficamente feita pelo filósofo, Gadamer, no seu livro Verdade e Método, no VIII capítulo, onde o autor faz a reflexão da importância da “tradição como algo que se enriquece no e com tempo” como conseqüência da ação do sujeito, sem perder seus elementos vinculativos. Para o cristianismo, a revelação é o “fundamento” temporal, este, no sentido agostiniano (cf. Confissões, IX-X) e que este mesmo Magistério da Igreja deve e pode salvaguardar.

Depois pensemos na possibilidade da dinamicidade do Magistério: Se este fosse a favor da morte de inocentes, sendo a favor do aborto? Se não pensasse na dignidade das mulheres, dentre as quais, uma delas teve a honra de ser a Mãe de Deus e que, mesmo assim, não tem prestada a devida veneração por muitos cristãos? Se o Magistério da Igreja mudasse, só permitindo a ordenação de mulheres, como se a dignidade delas, que são “Dom e Mistério”, estivesse dependente só das suas ordenações presbiterais? Se o Magistério da Igreja mudasse e não visse a beleza intrínseca do amor entre homem e mulher como forma mais humana de contribuir para realização dos mesmos e para o bem da Humanidade? Se o Magistério da Igreja mudasse e deixasse de acolher as pessoas com desvios de personalidade e ressentidas que tanto a expõe; mas que nunca deixam de sugar do leite que ela como Mãe que acolhe, apesar das ofensas recebidas, sempre está disposta a doar? Se o Magistério da Igreja mudasse e não aceitasse pessoas que, porque não têm opção de vida, vivem escandalizando os seus filhos, por simples vaidade e egocentrismo? Se o Magistério da Igreja mudasse e não fosse sinal profético diante das ações ideológicas e práticas que não respeitam o verdadeiro valor da dignidade humana, que tem por pressuposto a sua filiação divina? Se o Magistério da Igreja mudasse e não tivesse mais disposta acolher os padres anglicanos que, livremente desejam a comunhão com esta Igreja Católica? Se o Magistério da Igreja mudasse e não tivesse no Papa o sinal visível da fé e da comunhão dos fiéis católicos? Como seria o retrocesso ao feudalismo, diferente duma eclesiologia de comunhão tão bem arquitetada no Concílio? Se o Magistério da Igreja mudasse e não assumisse a possibilidade de se adaptar aos sinais dos tempos e não tivesse celebrado o Vaticano II, Medellín, Puebla, Santo Domingo, Aparecida etc?

Por fim, o que nos fortalece é a comunhão. A presença do Espírito na comunidade eclesial é a grande força que anima todo o Povo de Deus. O cristão, pelo sacramento do Batismo, é consagrado a Deus através desta Igreja que sempre percebeu no Magistério da Igreja uma possibilidade do reconhecimento que porta identidade cristológica e eclesial a quem livremente deseja e é confirmado a fazer parte desta Igreja, respeitando e querendo também a liberdade de ser, no tempo de Deus e no espaço dos homens, Luz dos Povos. Assim o Seja!

quarta-feira, 21 de outubro de 2009

IDH 2009 e Doutrina Social Da Igreja

Já saiu o ranking completo do IDH (Índice de Desenvolvimento Humano) 2009. Este mede os avanços alcançados por um país em três aspectos: vida longa e saudável (baseado na esperança média de vida ao nascer), acesso ao conhecimento (baseado na alfabetização e na escolarização) e nível de vida digno (baseado no PIB per capita associado ao poder de compra em dólares americanos). O Brasil está na 75ª posição no ranking do IDH, que avalia 182 países considerados de alto desenvolvimento humano – aqueles com IDH superior a 0,800. No último levantamento, o país aparecia na 70º posição (Cf. PNUD – Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento). Dentre outras constatações, o relatório denuncia que apesar das melhorias significativas registradas ao longo do tempo, o progresso tem sido irregular. Muitos países testemunharam retrocessos nas últimas décadas devido às retrações econômicas, às crises induzidas por conflitos e às epidemias. E tudo isto antes de se sentir o impacto da atual crise financeira mundial. Aos cinco países que se destacaram por terem subido três ou mais posições: China, Colômbia, França, Peru e Venezuela. O relatório da ONU atribui esse avanço aos aumentos nos rendimentos e na esperança média de vida. Na China, na Colômbia e na Venezuela, houve também uma melhoria significativa na educação (Idem).

O pensamento social da Igreja, mais uma vez, é de extremamente lúcido nas suas análises. O Papa Bento XVI, na sua última Encíclica (Caritas in Veritate), em consonancia com o pensamento de Paulo VI, diz que o desenvolvimento implica liberdade que possibilita a responsabilidade que eleva a vocação do homem a sua transcendência. Segundo ele, com o termo “desenvolvimento”, o seu predecessor queria indicar, antes de mais nada, o objetivo de fazer sair os povos da fome, da miséria, das doenças endêmicas e do analfabetismo. E isto significa, “do ponto de vista economico, a sua participação ativa e em condições de igualdade no processo economico internacional; do ponto de vista social, a sua evolução para sociedades instruídas e solidárias; do ponto de vista político, a consolidação de regimes democráticos capazes de assegurar a liberdade e a paz (Cf. caritas in veritate, n. 21)”.

O desenvolvimento por ser policêntrico, não pode se preocupar só com o seu crescimento, enquanto cresce também as desigualdades. Ele denuncia que a corrupção e a ilegalidade estão presentes tanto no comportamento dos sujeitos economicos e políticos dos países ricos, antigos e novos, como nos nos príoprios países pobres, que no Brasil vem a enquadrar esta denuncia. Por que que ele afirma que não é suficiente progredir do ponto de vista economico e tecnológico; é preciso que o desenvolvimento seja, antes de mais nada, verdadeiro e integral (n. 23). Por exemplo, no Brasil o desenvolvimento humano não acompanhou o desenvolvimento econômico! Houve uma queda no ranking de 70º para 75º. Para o Pontífice, “o homem é o protagonista, o centro e o fim de toda a vida economico-social (n. 25)”. Em muitos países pobres corre o risco de aumentar uma insegurança extrema de vida, que deriva da carência de alimentação: “a fome ceifa ainda inúmeras vítimas. Dar de comer aos famintos, para toda a Igreja, é um imperativo ético, que é resposta aos ensinamentos de solidariedade e partilha do seu Fundador, o Senhor Jesus (n. 27)”. Por isso a maturação da consciência para que a alimentação e o acesso à água como direitos universais de todos os seres humanos, sem distinções nem discriminações. Sublinha que um dos aspectos mais evidentes do desenvolvimento atual é a importância do tema respeito pela vida, que não pode ser de modo algum separado das questões relativas ao desenvolvimento dos povos. “A abertura à vida está no centro do verdadeiro desenvolvimento. Quando uma sociedade começa negar e a suprimir a vida, acaba por deixar de encntrar as motivações e energias necessárias para trabalhar ao serviço do verdadeiro bem do homem (n. 28)”.

Por fim, com a novidade principal da explosão da interdependencia mundial (globalização), a proposta da DSI continua sendo uma proposta fundamental capaz de elevar o gradual e permanente índice de desenvolvimento humano dos povos. Assim o seja!

sexta-feira, 16 de outubro de 2009

Responsabilidade conjunta na Educação

Nós saímos duma fase muito importante para a efetiva concretização da Democracia. Nos municípios aconteceu o que se poderia chamar de uma “circunstanciada e bem demarcada forma de eleição”. Foram escolhidos os gestores municipais (prefeitos) com os demais fiscalizadores do que os primeiros vão realizar em favor do Povo, ou seja, os vereadores. Eles devem ter em vista, para uma justa administração, os princípios da legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência (CF. Caput, art, 37)!?!?!? (...). Convém que seja tratado e buscado pelas pessoas o que estes princípios significam para a Administração Pública e se eles são autenticados pelos chefes do poder executivo e membros do legislativo dos diversos municípios.

Um leitor atento poderia pensar que a reflexão giraria em torno destes pontos; contudo, o que fica é a provocação: nas diversas realidades, estes elementos são trabalhados? Com a crise ética e a falta de gestores preparados para assumir estas funções, o que vemos é a infeliz presença de pessoas incompetentes para conduzir a “res publica”. Esta constatação nos remete a um desafio muito atual e necessário, a saber: qual o nível de educação e que tipo de formação estão sendo oferecidas nas escolas e universidades? Quais fontes e autores são estudados nos cursos preparatórios? Que ideologias são tidas como bases de pensamento nos ambientes acadêmicos? Quais destas formas de pensar são ‘boas’? Existe uma que de fato ‘harmonize’ a pessoa como sujeito da sua história, implicando todos os relevantes individuais e sociais? Hoje se fala muito numa formação personalista e afetiva; mas podemos perguntar: ela tem espaço nas estruturas capitalistas que se alimentam e só sobrevivem pela supremacia econômica de alguns e a degradação e exclusão da maioria? Pela objetivização do humano pelo empresarial? Onde vamos parar? Que modelo de educação nós queremos? Existe uma possibilidade? Estas inquietações precisam fazer parte da gestão de qualquer gestor, que, mesmo sem formação técnica, seja consciente da importância da educação para o futuro do nosso povo.

Sendo assim, nos provoquemos e sentemos para o diálogo. As várias instituições têm muito para oferecer nas várias instâncias dos municípios. Se essa possibilidade ainda não foi veiculada pelo Estado, podemos articulá-la pelas vias municipais. Não é mais concebível, na atualidade, poderes isolados. Pensemos no que significa pensar a posmodernidade. O que ela pode nos dizer no que concerne à “arte de lidar com o poder hoje”? Vale a reflexão! Tomemos a responsabilidade pela educação como uma bandeira comum. A própria integração dialógica e, quiçá, somente ela, possibilitaria uma linha de formação permanente que correspondesse às necessidades humanas e aos anseios da cultura posindustrial.

Quem se habilitar a lutar por este objetivo já começará bem o seu mandato. Pois, “a educação, direito de todos e dever do estado e da família, será promovida e incentivada com a colaboração da sociedade, visando ao pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho” (CF. Caput, art, 205). Por isso que, o reconhecimento e a interação das diversas instituições que têm a credibilidade da Sociedade, sejam tidos como importantes para concretização destes planos localizados que incluam principalmente o Município, a Igreja, as Universidades e as Famílias. Com valores e sem ressentimentos podemos fazer a nossa parte. Assim o seja!

sexta-feira, 9 de outubro de 2009

Dízimo: Sinal de pertença eclesial

"A missão da Igreja é anunciar o Evangelho a todas as criaturas. Cristo, luz dos povos, que brilha na Igreja, deve iluminar todos os homens (Cf. LG 1)". A missão da Igreja é essencialmente missionária. Ser missionário é ouvir, meditar e viver o que Jesus ensinou e praticou. O elemento sintético da cristologia dos evangelhos está formulada nesta possibilidade, a saber: o Jesus Cristo com o qual se faz uma experiência no tempo de Deus, ou seja, hoje; é o mesmo que através do discípulo é testemunhado no espaço dos homens.

A pastoral do dízimo é essencialmente missionária. O objetivo é promover a evangelização de cada pessoa e da sociedade. Tanto quanto às demais pastorais, esta deve ser meio de santificação do cristão batizado. Só o cristão consciente da sua fé e da sua pertença a uma comunidade de fiéis é um dizimista autêntico. O dízimo precisa ser uma experiência da fé da pessoa que se abre à solidariedade. Se pode dizer que ele se configura no que São Tiago diz na sua carta: “a fé se não tiver obras é morta em si mesma. Poderá mesmo alguém dizer: Tu tens a fé, e eu tenho as obras; mostra-me a tua fé sem obras, e eu te mostrarei a minha fé pelas minhas obras” (Cf. Tg 2,17-18). O dízimo é conseqüência da confiança que o fiel tem da ação de Deus em sua vida e na Igreja como “o sacramento ou o sinal e instrumento da união com Deus e da unidade de todo o gênero humano” (Cf. LG, Idem.).

O dízimo educa para a comunhão e a partilha. Ele não pode ser tratado como expressão legal da “doação do dízimo segundo o costume”. O ponto central da conscientização do dízimo é a “conversão” para partilha (Cf. 1Cor 16,1-2; 2Cor 9,1-15). A dinâmica do dízimo é essencialmente comunitária. Ela não se sustenta como meio individual da prática da filantropia que, por sua vez, acarreta dois riscos: 1) A manipulação das pessoas e 2) A oferta comutativa, ou seja, a oferta do dízimo na expectativa de benefícios individuais. A teologia da prosperidade, pregada pelas comunidades neopentencostais, e nalgumas situações por grupos, e padres católicos, está repleta desta prática. Para ser reconhecida como virtude cristã, o dízimo tem que ser expressão de amor e de liberdade interior. O que se observa na comunidade é que os dizimistas perseverantes são também os mais organizados economicamente. As pessoas pontuais na doação do dízimo são mais organizadas internamente com suas responsabilidades. O dízimo é um fator de formação da pessoa. Por ser um cristão mais consciente, devido à escuta da Palavra de Deus e a vivência da mística sacramental, o dizimista torna-se também um bom cidadão. O discurso de, que, quem é dizimista recebe o triplo é demagógico e desonesto. Como prática cristã, o dízimo nos forma para vivência das virtudes teologais (Cf. 1Cor 13,1-13). As pessoas que na Igreja são dizimistas por simples simpatias, quando surgirem quaisquer dificuldades de relacionamentos, com o padre ou com outro membro da comunidade paroquial, logo deixarão de colaborar com o bem material e, consequentemente, com o bem espiritual da Igreja.

Por fim, o dízimo precisa ser tratado como sinal de pertença eclesial. A vida do fiel que é discípulo de Cristo e, que, pelo seu batismo está consagrado e vinculado a Deus e a uma comunidade cristã se une completamente a todos os desafios econômicos, formativos, missionários e caritativos do Povo de Deus. O cristão que ama a Jesus Cristo e a sua Igreja, na pessoa de cada irmão, será um dizimista feliz e comprometido com o projeto do Reino de Deus. Para o que é do Senhor nós guardamos e consagramos a melhor parte. Este é o sentido do dízimo. Assim o seja!

sexta-feira, 2 de outubro de 2009

Que democracia?!

A política do Brasil está caótica. Se antes a corrupção estava nos bastidores, hoje ela pode ser encontrada e tratada como uma bela donzela que à maioria agrada. Verifiquemos como os políticos encaram a questão, que é de suma importância para o desenvolvimento do País. Vem a CPI da Petrobrás, sobre a qual já não se fala; os escândalos dos desvios ocultos do senado; ‘o deputado castelão’, que foi absolvido pelos próprios companheiros; e aqui serve aquele dito que “ladrão que absolve ladrão ganha remissão e mais mensalão”. Onde vamos parar?! Que País é esse?! Que política é esta, em que o presidente da República tenta blindar o presidente do senado, quando este dá sinais contundentes da sua incompetência ou total parceria com a maldita corrupção?! Quem deve fiscalizar para possibilitar o julgamento do judiciário e o do povo é o ministério público junto com polícia federal. O problema é crônico. Só não vê quem não quer. Existe um bando de raposas, que usam toda a estrutura e aparato que os entes federativos lhes garantem, roubam os bens públicos para o seu próprio bem, em detrimento e a duras penas do bem comum.

Alguém escreveu que os meios de comunicação dos nossos estados têm um papel muito importante no processo de publicidade dos atos espúrios e nefandos destes(as) senhores(as) que vilipendiam a nobre ação humana que poderia proporcionar o bem coletividade. Mas torno comum a inquietação: como esta mídia, principalmente nos nossos estados, vai informar a sociedade sobre estes males se os veículos de informação pertencem às famílias politiqueiras e aristocráticas das várias situações de dominação e opressão? Eles passam todo o tempo falando sobre a importância da democracia: mas onde esta bela companheira se encontra? Ela não é o poder soberano do povo? E existe soberania sem consciência de direitos e deveres? Esta forma propulsora do bem de todos, mediante a justiça, só será possível quando o ideal se adequar ao real. Nós precisamos continuar a tencionar um melhor mundo possível. O papa Paulo VI dizia que a política é um meio de se viver a caridade. Sendo que esta não dispensa a justiça, para não ser manipulada por pessoas aéticas.

Ainda estão a falar do golpe militar em Honduras. Não faço apologia a este tipo de ação política, nem muito menos a Igreja o faz; porém, deixo a pergunta: qual dos dois é o pior? Em ambas às situações o povo não está sendo respeitado em seus direitos; e não podemos esquecer que em seus deveres, também não. Nestes momentos todos defendem a democracia; e não seria diferente! Claro que todos estes demagogos e medíocres que brincam com a boa fé, principalmente dos menos favorecidos, até se divertem com estes escândalos e desmantelos da política nacional. Seria interessante que estes representantes ganhassem um salário mínimo, por quê não?! Aí sim, nós saberíamos quem está preocupado com os valores que dignificam a vida social e o bem de cada ser humano.

Sendo assim, não esqueçamos, amados cristãos, que a justiça meditada e vivida por cada um de nós, nos leva ao desafio de passar pela cruz. Quem se diz discípulos de Cristo não pode ser conivente com as situações de desonestidades que nós vemos por aí. Atenção! Eu me refiro a todos os cristãos. Essas seitas proselitistas que estão se valendo da política partidária para conquistar espaços de poder e dinheiro não servem como exemplo para nenhum de nós. O Modelo é O que afirma: “Todas as vezes que não acolhestes a um desses pequeninos, a mim não o fizestes. E estes irão para o suplício eterno; e os justos para a vida eterna” (Mt 25,45-46). Assim o seja!

segunda-feira, 28 de setembro de 2009

Padre: Homem do Amor, da Verdade e da Vida

"Nós padres, em Cristo, devemos ser Homens do Amor, da Verdade e da Vida". A nossa busca permanente precisa ser esta. A dimensão existencial da nossa vocação humana e cristã tem este horizonte. Só no seminário de Jesus nós aprendemos que é assim que Deus o quer. Nós somos chamados para ser sinal desta proximidade de Deus com o mundo. Não somos deuses e ninguém o pense que somos. Somos seres humanos. Com uma condição humana, e, isto, quer dizer tanto. Não só para nós; como também, para todos que, pela bondade de Deus, nos são confiados. A nossa consagração não dispensa as nossas liberdades e consciências. Claro que ficamos felizes com esta gratuidade de Deus. O padre que não vive plenamente uma liberdade consagrada, pode sê-lo porque não sabe que poderia ser feliz sem precisar procurar refúgios das experiências humanas. Só quem é livre para amar a verdade e a vida se plenifica e é plenificado como padre.

Jesus na sua oração sacerdotal fala ao Pai. Daqui tiro basicamente a primeira conclusão. Só porque ama é que Jesus deseja falar com Pai. Quiçá, outra forma de pensar pudesse ver aqui outro anseio de Jesus. Mas não! Jesus eleva o coração ao Pai, porque o ama. Pela compreensão do amor de Jesus pelo Pai e do Pai pelo Filho é que podemos entender que um Deus que é Amor é que possibilita uma forma única e universal de amar. Não esqueçamos que Deus é amor (cf. 1Jo 4,8). Hoje, diante de situações nas quais o ódio e a matança, de culpados e inocentes, são defendidos como direitos daqueles que não são lembrados nem ouvidos, como não voltar o nosso coração para as palavras e gestos de Jesus na hora de tão grandes sofrimentos? Claro que não se medita sobre estas atitudes! Não podemos fechar os olhos. O problema está no nosso tempo e no nosso espaço. Os cristãos estão perdendo o sentido do amor com o qual Jesus nos amou e por nós rogou (cf. Jo 17,9-11). Por isso, preenchamos o nosso coração de amor, pela oração, contemplativa e atuante, e digamos, como homens amantes de Deus, que podemos anunciar o teu nome...a fim de que o amor com que nos amas esteja neles e Ele em todos nós (cf. Jo 17,26; 15,9)".

O coração sacerdotal de Jesus roga ao Pai que nós sejamos santificados na verdade; pois a palavra do Pai é verdade (cf. Jo 17,17). A verdade de Deus não está condicionada às categorias da inteligência humana. Só quem faz uma experiência de amor com a palavra criadora, redentora e santificadora de Deus sabe e saberá o que é a verdade. A conseqüência da possibilidade do encontro com a verdade de Deus é um Amor que ama e um Amor que é amado. A possibilidade é relacional. Num coração sacerdotal não deveria haver um amor que ama sem ser amado. Por isso que, na mística cristã, não há lugar para uma verdade que conhece; mas, outrossim, uma verdade que se deixa conhecer. O padre que não vive por causa da verdade nunca desenvolverá a essência da sua identidade sacerdotal. Nó s existimos por causa da e pela Verdade (cf. Jo 17,19).

Por fim, o conhecimento de Deus e de Cristo possibilita a vida eterna (cf. Jo 17,3; 11,25; 5,21). Ele é a vida e a promove em abundância (cf. Jo 1,4; 10,10). Quem não promove a vida, nem ama e nem promove a verdade. O coração dum verdadeiro sacerdote dá a vida por quem ama (cf. Jo 10,11.15). Infelizmente, há mercenários (cf. Jo 10,13). A plena realização histórica e divina de Cristo aconteceu porque ele se entregou à vontade de Deus integralmente. Num mundo com tantos desafios humanos que nos apelam cotidianamente; nós, sacerdotes, somos chamados a ser Homens do amor, da verdade e da vida. Assim o seja!

Desafios éticos na polícia

A Polícia ainda tem muita credibilidade junto à sociedade. As pessoas quando se sentem inseguras imediatamente pedem que seja chamada a polícia. A presença de policiais em ambientes sociais passa para os cidadãos a sensação de segurança. O agrupamento fardado é sinal de que o Estado Democrático de Direito, ‘ainda’, pode garantir o que às pessoas está asseverado na Carta Magna do País, no artigo Art. 144. “A segurança pública, dever do Estado, direito e responsabilidade de todos, é exercida para a preservação da ordem pública e da incolumidade das pessoas e do patrimônio”. Nas nossas comunidades, dentre as várias outras, a polícia militar é mais conhecida. Ela, tanto quanto as demais, também tem a missão de assegurar o “Bem Público’ da segurança (Idem. Inc. V, par. § 5º). Este inciso diz, especificamente, a função da polícia militar e o que esta deve garantir à sociedade: “Cabe a polícia ostensiva e a preservação da ordem pública”. Quanto ao que é tipificado está tudo claro. Mas depois disto vêem as reclamações e justificativas do que deveria ser obrigado da instituição e que garantias esta instituição para realizar o seu mister. Quem visita uma simples delegacia das cidades do interior verá que a estrutura física está sucateada. Falta comida, as celas são de pessoas que não podem pagar uma simples fiança, não há defensores públicos, doentes mentais que não poderiam estar naquele lugar, a superlotação dos cubículos, os carros quebrados, a falta de lugar para leitura e esporte, colchões e cobertores que nem existem, ou seja, muitas carências que sem dúvida dificultam o bom desempenho da ação policial. Para os policias há a problemática dos salários, os transtornos psicológicos tão presentes nas vidas particulares dos servidores, uma baixa auto-estima, já que, a grande maioria ingressa na vida militar mais pelo emprego do que por vocação, e isto acarreta junto aos familiares outros tantos desafios que deságuam no tipo de comportamento que os policiais terão nos confrontos ao tentar manter a ordem pública.

Com estas pontuações focalizamos a questão principal do que escrevo: As ações espúrias dos policiais que servem nas várias instâncias das nossas comunidades. Há a notoriedade do despreparo humano e técnico dos policiais. Existe uma rede de corrupção tamanha que a gente não consegue nem preliminarmente dizer a causa. Parece que se tornou um círculo vicioso e agora é viciado. Os que olham a conjuntura de cima precisam agradar aos políticos para subir de posto e os que estão nas bases se corrompem porque dizem que ganham pouco e não são valorizados. Mas aqui cabe a categórica afirmação que isto não é verdade. O povo confia na polícia, mesmo que não saibamos até quando. Se os que estão lá em cima se impusessem com a força moral que, todavia, têm como referencias incumbidas de ordenar, poderiam ser de fato, e não só de direito, um meio de equilíbrio da convivência pacífica dos habitantes das cidades. Mas, infelizmente, isto não está acontecendo. Há uma grande crise institucional no policiamento dos nossos estados brasileiros. Claro que existem policiais sérios e ratifico que não estou generalizando, mas o que se observa na grande maioria dos casos é esta realidade.

Por fim, os responsáveis pela formação dos policiais precisam rever a estruturação do projeto formativo dos novos incorporados. Mesmo sem ser militar, percebe-se uma superação da postura de ação destes seres humanos que tem muito poder nas mãos; porém, não sabem como devem usá-lo e para que usá-lo. Sem dúvida, a formação ética tem que ser repensada e vivida por quem quer ser policial. Um militar bem preparado será um grande promotor de formação da sociedade, com sua palavra e com a sua atitude. Assim o seja!

sexta-feira, 11 de setembro de 2009

Ecumenismo e fundamentalismo

A Igreja Católica, principalmente depois do concílio Vaticano II, com o documento Unitatis redintegratio, que trata sobre o ecumenismo, vem tentando formar uma mentalidade e ter atitudes ecumênicas. Com João Paulo II, mediante o documento Ut unum sint (que todos sejam um), houve uma retomada da discussão. Hoje, na Europa, principalmente na Suíça e na Alemanha, esta tentativa já tem um horizonte mais bem dinamizado. Houve um certo desencontro com o documento da congregação para doutrina da fé, Dominus Iesus, não por causa da impostação cristológica; mas mais pela sua inferência eclesiológica. Todavia, atualmente, para o ocidente cristão, o significado do ecumenismo tem sua relevância, não apenas como necessidade teológica (Jo 17), mas também, e num futuro oxalá bem distante, como premência política para o ocidente, que infelizmente, está dissecando suas raízes culturais.

Aqui no Brasil é muito difícil ter ações ecumênicas. Estas normalmente, devido ao indecifrável protestantismo nacional, que também perdeu suas raízes doutrinais e metodológicas, são inviáveis. Segundo Rubem Alves um dos elementos que definem a identidade protestante é ter o catolicismo como inimigo. Vejam que tipo de cristianismo! (Cf. Religião e Repressão). O que este autor escreve e descreve é a mais pura realidade do protestantismo brasileiro, na sua grande maioria de comunidades e derivações que são criadas e abertas a cada dia, em nossas realidades. Há ainda quem defenda que o protestantismo é o grande fator de desenvolvimento de países do velho mundo e que a América não teve a mesma sorte porque nós fomos colonizados por dois países de tradição católica. Por um acaso a maioria dos países da África foi colonizada por quem? Então esperemos que com Edir Macedo e outros empresários do sagrado, nós nos tornaremos uma potência mundial! Não é a toa que a presa destes manipuladores(as) da boa fé são aqueles mais indefesos. E não me atrevo a dizer quem porque sem dúvida a bíblia será usada como espada de ataque imediatamente. E eis aí o grande problema: o ecumenismo é a possibilidade do diálogo e da harmonia com o diferente; mas como pode existir concórdia quando os protestantes são formados para agir com indiferença nas suas relações com os cristãos católicos? Quais fundamentos bíblicos e teológicos são oferecidos e que tipo de interpretação da Sagrada Escritura é feita para haver tanta divisão? Se existe uma doutrina mais aprofundada, porque tantas denominações?

O que apresento aqui é mais uma inquietação. Não é uma provocação. As lideranças religiosas podem e precisam rever suas doutrinas. O que as igrejas luteranas e a Igreja Católica concordam categoricamente é que nós cristãos somos salvos pela Fé em Jesus Cristo (Rm 3,20-27; Gl 3). Se algum cristão tem alguma dúvida quanto a esta Verdade fundamental tem que mudar sua concepção. Para o protestantismo brasileiro esta questão é um sério problema pela miríade de grupos que se confundem e são confundidos todos os dias. Nós cristãos não podemos esquecer que antes da bíblia existe Deus. Ele é o Senhor. Ele se revela pelo seu Filho na plenitude do tempo, nascido de uma mulher (Gl 4,4). Depois disto, na sua fase histórica, vem Jesus Cristo que foi terreno, crucificado, ressuscitou, pela Fé está presente e virá para julgar os vivos e os mortos. Estas verdades foram transmitidas pela Tradição que ratificou as Escrituras, num período de tantas heresias e divisões nos primórdios do cristianismo e, que, continua tendo a sua autoridade para nos confirmar na Verdade professada por Pedro (Mt 16,13-16), que através do Papa, Bento XVI, continua sendo fonte de unidade da Igreja de Cristo, que está aberta ao diálogo com as demais comunidades que acreditam num único Salvador do universo e de cada um de nós. Assim o seja!

terça-feira, 8 de setembro de 2009

O suicídio na Juventude

A Igreja tem uma grande preocupação com o bem da juventude. Tanto pela sua estrutura e dinâmica existencial, e hoje por tudo o que é oferecido pelos dinamismos da Posmodernidade, o trato com a juventude se tornou mais desafiador. As famílias estão em crise, com seus novos paradigmas, que não preenchem as inquietações dos seus dependentes, os meios de comunicação que massificam os sonhos e projetos pessoais da pessoa, os desafios sociais do desemprego, saúde, lazer, educação, política, afetivos e em conseqüência de tudo isto, apropria crise de identidade.

A Suíça é um país fantástico. Tudo muito organizado. Um padrão de vida econômica excelente. A polidez dos seus habitantes é insípida. O ambiente geográfico é muito bonito e, sem dúvida, enaltecedor da alma humana para quem vai ficar algum tempo de férias ou para estudar. Sem mais delongas, em meio a esta realidade está a juventude com suas características próprias da idade, acrescidas daquelas que são auferidas pelas circunstancias geográficas, sociais e ambientais. Quanto ao que é trivial aos jovens, permanece o desejo de viver plenamente a alegria de ser humano. A juventude é o símbolo mais humano do significado da alegria e do amor. Um jovem triste é um triste jovem. É muito preocupante quando observamos um jovem que transparece infelicidade. Nas escolas, igrejas, grupos de jovens, constantemente se constatam jovens infelizes. Não preciso dizer mais as causas tão freqüentes destas atitudes. Já foram citadas no início. A Suíça, mesmo com várias vantagens materiais que são oferecidas pelos pais aos filhos, é o terceiro país do mundo onde os jovens mais se suicidam. Existe um alto índice de uso de drogas e principalmente de famílias em crise. Mas não esqueçamos que lá os pais dão aos filhos bens para suprir as tantas carências que não podem ser supridas por regalos. Devido a tantos afazeres e ingerências das próprias necessidades pessoais, não conseguem cuidar daqueles que mais precisam ser curados. Há a grande crise da própria pessoa. Falta a atenção para o que é intrínseco à condição humana. O fenômeno do suicídio da juventude não difere em nada do que acontece em qualquer outra fase da vida. Esta é um dom. É a atitude mais desumana do humano é querer tirar a própria vida. Quando este tipo de ação é praticado por um jovem há a tragédia que desafina a fantástica orquestra da existência. O suicídio é a mais brutal de todas as violências. O caos que invade completamente o que deveria ser só harmonia. Desconsiderar que a pessoa necessita do meio para realizar-se é desumano; mas dizer que o meio dispensa o que existe de mais humano é mediocridade. A vida pode ser comparada a casa que nós queremos e devemos construir todos os dias. A cada dia vai sendo colocado um tijolo. Com atitudes dignas de tudo o que é de Deus, como o amor, o perdão, o respeito, a justiça, a honestidade, a misericórdia, a alegria, a paz etc., a vida dos jovens começará a tomar um outro rumo; não só na China, no Japão, na Suíça, mas também, em nossas famílias, escolas, igrejas, grupos de apoio.

Por fim, lembrar do que Jesus um dia disse ao jovem rico que o buscou: “Não matarás; não cometerás adultério; não roubarás; não dirás falso testemunho. Honra teu pai e tua mãe, e ama teu próximo como a ti mesmo. Disse-lhe o jovem: Eu tenho observado tudo isso desde a minha mocidade. Que me falta ainda? Jesus disse-lhe: Se queres ser perfeito, vai, vende o que tens, e dá-o aos pobres, e terás um tesouro no céu; e vem e segue” (Cf. Mt 19,18-21). Os jovens precisam de sentido para vida. Assim o seja!

domingo, 30 de agosto de 2009

Caritas in veritate (V)

Esta semana introduziremos o V capítulo. Este trata da “colaboração da família humana”. Logo inferimos que é no desenvolvimento dos povos. Para o Pontífice “uma das pobrezas mais profundas que o homem pode experimentar é a solidão” (n. 53). Chama a atenção para a falta de amor. Principalmente do amor de Deus. O homem pela sua natureza espiritual precisa do relacionamento com o outro e com Deus. E reflete teologicamente que “esta perspectiva encontra um decisivo esclarecimento na relação entre as Pessoas da Trindade na única Substância divina. A Trindade é absoluta unidade, enquanto as três Pessoas divinas são pura relação. (...) A Igreja é sinal e instrumento desta unidade” (n. 54). Para ele a “revelação cristã sobre a unidade do gênero humano pressupõe uma interpretação metafísica do ‘humanum’ na qual a relação seja elemento essencial” (n. 55).

“A religião cristã e as outras religiões, diz o Papa, só podem dar o seu contributo para o desenvolvimento, se Deus encontrar lugar também na esfera pública, nomeadamente nas dimensões cultural, social, econômica e particularmente política. A Doutrina social da Igreja nasceu para reivindicar este ‘estatuto de cidadania da religião cristã’. A negação do direito de professar publicamente a própria religião e de fazer com que as verdades da fé moldem a vida pública, acarreta conseqüências negativas para o verdadeiro desenvolvimento. (...) E acrescenta que a razão tem sempre necessidade de ser purificada pela fé; e isto vale também para a razão política, que não se deve crer omnipotente. A religião, por sua vez, precisa sempre de ser purificada pela razão, para mostrar o seu autêntico rosto humano” (n. 56). “A subsidiariedade é, antes de mais nada, uma Judá à pessoa, na autonomia dos corpos intermédios. Tal ajuda é oferecida quando a pessoa e os sujeitos sociais não conseguem operar por si sós, e implica sempre finalidades emancipativas, porque favorece a liberdade e a participação enquanto assunção de responsabilidades. (...) O governo da globalização deve ser de tipo subsidiário” (n. 57). Adiante escreve “que o princípio de subsidiariedade há de ser mantido estritamente ligado com o princípio de solidariedade e vice-versa, porque a subsidiariedade sem a solidariedade decai no particularismo social, a solidariedade sem a subsidiariedade decai no assistencialismo que humilha o sujeito necessitado” (n. 58).

Por fim, o encontro cultural e humano, a ajuda ao desenvolvimento dos países pobres, o maior acesso à educação, atenção ao fenômeno das migrações, o problema do desemprego, a violação da dignidade do trabalho humano, o empenho das organizações sindicais, a nova responsabilidade social do consumidor, a urgência de uma reforma quer da Organização das Nações Unidas quer da arquitetura econômica e financeira internacional, a presença de uma Autoridade que possa comprometer-se na realização de um autêntico desenvolvimento humano integral inspirado nos valores da caridade na verdade, são fatores que devem possibilitar o desenvolvimento da família humana. O VI capítulo, sobre o “desenvolvimento dos povos e a técnica”, infelizmente, não será introduzido. Mas, desde já, vos auguramos uma boa leitura da encíclica. Assim o seja!

domingo, 9 de agosto de 2009

Quantas pessoas!

Quantas pessoas não passam pela nossa passageira vida?! São os transeuntes dos quais, na grande maioria das vezes, não nos apercebemos o quanto são importantes. Elas vêm e vão cotidianamente. Do nascer ao morrer da nossa existência estão, como que, a minimizar e engrandecer o que já somos. Isto porque nos constituimos nas pessoas dos nossos pais, dos nossos demais parentes, dos amigos, dos professores, dos catequistas, dos amores, dos formadores, dos desafetos, dos que nos fazem o bem, dos que nos fazem mal, dos que dizem sim aos nossos desejos, dos que dizem não aos nossos sonhos, dos que elevam nosso bem estar, dos que tentam vilipendiar a nossa auto-estima, dos nos dignificam com suas presenças, dos que nos contentam com suas ausências, dos que nos enchem de esperança, dos que dificultam a nossa alegria, dos nos amam pelo que somos, dos que fingem nos amar pelo que temos... e quantas mais não poderiam ser elecandas aqui! Mas cada um fará sua imagem dos vários tipos que passam pelas suas vivências querendo simplesmente, e, mais que maravilhosamente, ser feliz.

As nossas relações sempre são pessoais ou impessoais. Quando tidas diretamente são meios de alegrias e satisfações, tristezas e incompreensões, concórdia e paz, mentiras e injustiças, valores e amores, sofrimentos e covardias etc. Em meio ao vai e vem de cada tempo presente estão as escolhas que nos afinam com as várias propostas que nós, como sujeitos, oferecemos; e como objetos, recebemos. Os intercâmbios de dons e gratuidades que são agregados é que firmarão as nossas personalidades. Estas, por sua vez, se forem ornamentadas com os obséquios que engrandecem às nossas almas, nossas existências.

Para nós, latino-americanos, estas atitudes ainda estão presentes. Nós somos mais livres nos nossos relecionamentos. Temos calor humano, nos preocupamos mais com nossos vizinhos, somos mais solidários e gratos pelo dom e o amor recebidos, vivemos mais a comunidade e a alegria de estar junto, perfuramos os invólucros da indiferença, que é o pior desestimulo para aqueles que muitas vezes esperam muito mais uma atenção e um gesto de carinho do que uma moeda dada sem um olhar afetuoso e amigo. Em visita a um país europeu senti de perto como é o estilo de vida de quem se aprisiona naquilo que os bens materiais podem oferecer. Não é a toa que nestes paises há um grande índice de jovens que se suicidam. Os jovens são o simbolo humano do sentido da vivacidade. Tirar a possibilidade que eles têm de poderem manifestar a alegria é querer atrofiá-los. Por isso, valorizemos o que é próprio de cada fase da vida humana: as crianças, os jovens, os adultos e os idosos. Não o fazemos, o que resta de possibilidade de compreensão da psicologia humana, em suas várias etapas de desenvolvimento? Nós fazemos parte da história quando deixamos que ela também faça parte de nós. E isto só acontece quando nos relacionamos e deixamos que cada um possa ser aquilo que é e como gostaria de ser. Sendo assim, visualizemos cada pessoa que passa pelas nossas efêmeras e insastifeitas vidas. Ai de nós se não valorizarmos e não nos deixarmos valorizar por todos estes que sorriem, que choram, que gritam, ou seja, que demonstram que conosco estão vivendo! Seja nos amando, seja nos odiando, seja querendo a nossa felicidade ou não querendo-a; enfim, as pessoas estão aí e como nós as tratamos? Nós as vemos como imagem e semelhança de Deus? Reconhecê-las como tais é poder nos envolvermos com aquilo que é delas e que, na interação, passa a ser nosso. Caros irmãos, cuidemos das pessoas que passam, a cada momento, pelas nossas vidas!

Por fim, Jesus olhava com amor a todas as pessoas que se aproximaram Dele. Basta que leiamos os evangelhos com atenção. Jesus não discriminava ninguém. Jesus acolhia a todos. Mesmo quem diz que não O aceita, deve a este Salvador, o modo mais sublime de amar o Outro. Quem não quer vê-Lo na cruz nem mesmo em repartições públicas vai tirar da sua frente a Única pessoa que sempre passa por sua vida e você ainda não A amou. Ele olha por nós porque sem Ele não temos resposta para o que mais queremos saber de nós mesmos. Não perceberemos o significado e o valor dos outros se não tivermos em nós os mesmos sentimentos de Cristo (Fl 2,5). Assim o seja!

quinta-feira, 6 de agosto de 2009

A Terra Santa e a sua complexidade religiosa

Em Jerusalém encontra-se a complexa relação das três religiões monoteístas do mundo, a saber, o Islamismo, o Judaísmo e o Cristianismo. A Cidade Santa representa, para as três, as formas históricas do divino falar ao humano. Aqui, estão os ícones do mistério. Para os muçulmanos, é a cidade da qual o profeta Maomé foi levado para o céu por Allah. Por isso, é a terceira cidade santa depois de Mecca e Medina; para os hebreus, é a cidade de Abraão, Davi, dos profetas e do templo, morada de Deus por excelência; e para nós, discípulos de Jesus Cristo, é a cidade onde Ele realizou a nossa redenção, venceu a morte e nos abriu o caminho para Deus. Cidade da fundação da Eucaristia, do sacerdócio e da Igreja.

Já ao fazer ‘check in’ para tomar o avião até Israel já se depara como o povo desta região não vive em paz. Por sinal, eis uma das carências deste lugar: falta harmonia entre as pessoas e entre os povos. Já se tornou mesmo uma questão cultural. O medo conduz as relações sociais de modo clarividente. Da parte de Israel porque quer preservar o estado judeu e da parte islamica porque quer que seja reconhecido um estado palestinense com suas respectivas intencionalidades políticas, econômicas e religiosas. A Palestina como não é reconhecida internacionalmente como estado, não possui um exército e, ainda, como povo dentro do seu pequeno território tem a já incoveniente presença, em suas cercanias, de acampamentos judeus. Políticamente a situação é uma bola de neve. Para ambas as etnias, a terra, o espaço são de fundamental relevância. Nestes espaços a relação destes povos com Deus acontece. Talvez para um ocidental de mentalidade racionalista isto seja uma alienação; no entanto, só estando aqui, sentido e observando o contexto, para tentar entender o que tudo isto significa para estes povos. O fator determinante da dinâmica civilizatória daqui continua sendo a religião; mesmo com a influência dos americanos para os judeus e, negativamente, para os mulçumanos, a religião continua sendo fator determinante no processo dialógico.

Andando pelas vielas de Jerusalém a tensão nas construções, a espessura dos portões; a agressividade na fala de cada pessoa; o armamento pesado dos policiais israelenses, a incomunicabilidade deles para com os estrangeiros, a não ser os comerciantes, que por sinal exploram demais, já que, o turismo é uma das suas principais fontes de renda; as poucas mulheres que são vistas pelas ruas da cidade; os judeus ortodoxos que, em seus adereços, portam a simbologia que ilustram o significado do ‘sacramento’ do Deus da lei e dos profetas; os mulçumanos com as suas aparências bizarras e cabisbaixas ao movimentar-se para seus afazeres e louvações nos vários momentos do dia e da semana etc.

Para quem estiver lendo vai logo surgir a questão: E os cristãos, como estão em meio a esta situação? meus irmãos, sei que é difícil ser cristão em todos os lugares; mas tenhamos a certeza que, em alguns, mais do que em outros. Aqui, neste território muito mais! Como é atual a passagem do evangelho de Marcos (6,1-6) quando Jesus se admira da incredulidade daqueles que mais deveriam reconhecer-lhe ao ouvir suas palavras e ver suas obras. Em Jerusalém mesmo, o número de cristãos é ínfimo. Em Belém o número é maior e chega a um percentual de 35-40 %. Há que ser testificado o testemunho dos franciscanos como presença da Igreja, por aqui. Eles são os guardiões dos lugares cristãos-católicos aqui da Terra Santa. As suas presenças em meio a tudo isto, já é um grande testemunho. Quem já conheceu saberá logo porque digo isto.

Sendo assim, concluo dizendo que é uma graça, para nós ocidentais, depositarmos nossa confiança Naquele que é o Senhor da paz (Jo 20,19) . Como o ocidente deve ao cristianismo. Não só religiosamente; mas também politicamente. A paz é fruto da justiça; mas muito mais o é do amor. Só quem ama a Deus e ao irmão a ponto de dar a vida permanece em Deus e Deus permanece Nele (1Jo 4,7). Assim o seja!

sexta-feira, 31 de julho de 2009

A necessidade do esclarecimento humano

O esclerecimento da pessoa é sempre um desafio. Claro que é aí que está a beleza da sua identidade. O desenrolar da história não deixa de ser uma dramatização desta dialética do ser que era, é e será. Nós nos contrapomos constantemente com a nossa subjetividade. Mas o que esta significa para nós? Só uma “forma entis” que diz e não diz o que universalmente dizemos que somos? Ela se diz porque é falada, é vista, é narrada, é sentida, é realizada, é estudada...ela se auto-define ou é definida? De qualquer modo, o que é materializado por ela, só por ela é decodificado. O que dela se predica, só por ela é predicado. Por isso, ela ilustra a história para que, pela mesma, possa ser ilustrada. Só a intelecção do que é harmonizado por esta forma desvela o que é o homem, e, nele, a Humanidade seja definida como universal.

Por que precisamos pensar o individual na sua possibilidade universal? porque sem este último o próprio não se entende. E isto é fundamental para a compreensão do humano como ser de Cultura. Esta é o meio mais significativo para que a Humanidade se corporifique como Civilização que se constitui não de diferentes; mas sim, de diferenças. Onde está a importância da elucubração? A consistência do que seja o diferencial da Humanidade é absolutizada e individualizada pelo próprio homem. Quem exclui o que é peculiar da Humanidade é ela própria. A dialética que possibilita o esclarecimento do homem ao homem só dará passos quando for reconhecida uma norma normativa que abarque o que é de cada homem e de todo homem. Até agora nenhum fenômeno humano o conseguiu; todavia, só um se mostrou. Digo diretamente que este raio transpassante é a Revelação de Deus, que é humano porque é Deus e Deus porque é humano. O que é o esclarecimento sem a possibilidade duma medida de todas as medidas? Se não tivermos a possibilidade do universal, por que entender o particular? Com isto, não se quer dizer que não se busque a valorização do particular e eis o ponto: uma definição implica a outra definição. O processo não é dialético? O que é próprio desta não é a contraposição; mas a complementação. A evolução só é histórica porque antes de sê-la espaço-temporal é, ela, humana. A continuidade deste raciocínio pode ajudar, e muito, às várias tentativas de interação das pessoas, famílias, estados, nações, religiões, filosofias, economias e o próprio mundo. Ou este mundo é compreensível sem aqueles que o entendem e o definem como o que ele é e porque ele é, com suas concepções míticas, filosóficas e científicas?

Os contextos sociais quanto mais globalizados na atualidade, mais se tornam indefinidos. Isto porque tudo é penetrado por tudo e todos por todos. O que é mais interessante é que, em meio a tudo isto, o protagonismo do protagonista se perdeu. Alguém súbito compreenderá que, se isto acontece, é porque o ser humano tem seu limite reconhecido ou não por ele na sua própria imagem. Porém se este entendimento, mesmo que, inconscientemente, não seja aceito por muitos, é porque ainda não chegou à sua meta final e porque, este mesmo fim, não pode depender do homem, nem muito menos, do que ele pode criar. Sendo que, faz parte da essência do Cristianismo, não só como sistema sofisticado de ligação do finito com o infinito, mas como possibilidade de causa primeira e final de satisfação de cada ser humano e da humanidade, esta condição não pode ser inventada pelo homem. O que é inventado por ele é dele; contudo, nunca poderá ser ele. Sendo assim, não pode servir de complemento perfectivo ou totalizador do finito que busca o infinito. Por que o finito deseja infinito? porque o primeiro pertence ao segundo, sendo que, não é ainda o que deseja. Por isso, que, o Cristianismo não é só uma diagramação racionalizada que pode dizer à Humanidade o que só ela tem de humano e divino.

Por fim, a resposta está mesmo na capacidade que o homem tem de amar. Só Deus é amor. Esta certeza é própria do Cristianismo. Nenhuma outra religião monoteísta pode dizer ao ser humano esta Verdade ontem, hoje e sempre. Algumas só esperam, outras só acreditam; mas só em Jesus Cristo, o único e eterno Salvador, nós esperamos, acreditamos porque somos amados. Ele é o eterno amor. A possibilidade deste esclarecimento dialético e absoluto é o horizonte pelo qual, só por Ele, o homem se auto-definirá na Humanidade e com a Humanidade. Assim o seja!

quinta-feira, 9 de julho de 2009

Caritas in veritate

O Santo Padre, Bento XVI, escreveu a sua primeira Encíclica social endereçada aos bispos, presbíteros, diáconos, pessoas consagradas, fiéis leigos e a todos os homens de boa vontade, sobre o desenvolvimento humano integral, na caridade e na verdade. Quem acompanha a trajetória magisterial do atual Pontífice, logo situará esta carta em continuidade com suas primeiras reflexões contidas na “Deus caritas est (Deus é amor)” e na “Spe salvi (salvos pela esperança)”. O amor não dispensa a justiça, que é a porta histórica para o sentido da esperança. “A caridade é o dom maior que Deus concedeu aos homens; é sua promessa e nossa esperança” (Caritas in veritate, n. 2). Assinala que o ensinamento social da Igreja é “único, coerente e simultaneamente sempre novo” (Idem, n. 12). Enfatiza esta relação ao afirmar que “passados mais de quarenta anos da publicação da Populorum progressio, além da sua importante ligação com toda a doutrina social da Igreja, ela está intimamente conexa com o magistério global de Paulo VI e, de modo particular, com o seu magistério social. De grande relevo foi, sem dúvida, o seu ensinamento social: reafirmou a exigência imprescindível do Evangelho para a construção da sociedade segundo liberdade e justiça, na perspectiva ideal e histórica de uma civilização animada pelo amor” (Idem, n. 13).

A caridade é a força que proporciona o verdadeiro desenvolvimento integral e integrante do homem; e sua fonte está em Deus. Ele é amor e é a verdade. Pelo rosto de Cristo nós reconhecemos e nos orientamos para este caminho. Sendo que a caridade é a via mestra da doutrina social da Igreja. O princípio hermenêutico para o aprofundamento do pensamento social católico, neste pontificado, é a clareza da base teológica para uma sensata e universal interpretação da reflexão sobre a conjuntura social (caritas in veritate in re sociali) e as ações humanas que proporcionem a justiça e o bem comum.

Pela sua estreita ligação com a verdade, assinala o Papa, “a caridade pode ser reconhecida como expressão autêntica de humanidade e como elemento de importância fundamental nas relações humanas, nomeadamente de natureza pública. Só na verdade é que a caridade refulge e pode ser autenticamente vivida. A verdade é luz que dá sentido e valor à caridade. Esta luz é simultaneamente a luz da razão e da fé, através das quais a inteligência chega à verdade natural e sobrenatural da caridade: identifica o seu significado de doação, acolhimento e comunhão. Sem verdade, a caridade cai no sentimentalismo” (Idem, n. 3). “Sem verdade, sem confiança e amor pelo que é verdadeiro, não há consciência e responsabilidade social, e a atividade social acaba à mercê de interesses privados numa sociedade em vias de globalização que atravessa momentos difíceis como os atuais” (Idem, n. 5). E mais uma vez a proposta ética da Igreja, que une caridade e verdade, amor e palavra, chama ao testemunho cristão e para aqueles que não o são, para uma tomada de atitude que forme uma mentalidade solidária naqueles que, mesmo anonimamente, portam no coração e na mente as sementes do Verbo absolutamente presentes em todos os homens que, direta ou indiretamente, tendem para Deus.

Por isso, leiamos e pensemos na atualíssima proposta ética que a Igreja apresenta para o mundo. Ela é sacramento universal de salvação. É luz das nações. As angústias e as alegrias da humanidade são objetos da sua maternal atenção. Os princípios vêm ser auxílios para todos aqueles que em meio às crises econômicas, ideológicas, sociais e éticas, permanecem fiéis ao amor na verdade. Assim o seja!

domingo, 21 de junho de 2009

Formação permanente: busca pelo ser melhor

Os profissionais de hoje precisam buscar a excelência. Todas as pessoas que têm consciência do seu papel como agentes sociais devem se sentir impulsionados a aperfeiçoarem-se mais e mais. O mundo competitivo exige isto dos membros das várias instituições e organizações empresariais. Quem não se atualiza fica a margem das poucas opções de trabalhos que são oferecidos pelo sistema. O que possibilita uma reflexão sobre a questão é uma olhada microscópica sobre a conjuntura mercadológica.

O mercado se alimenta da compra-venda de mercadorias e da competitividade. Ultimamente, outrossim, com a crise econômica mundial se mostrou que a especulação financeira é a mais recente mão invisível do sistema capitalista. Mediante o mundo virtual a força do poder econômico comandou as rédeas das transações monetárias que agora se injetam como se fossem um mundo a parte das reais condições de atividades da humanidade.

Neste processo de contínuo progresso rumo ao encontro com deus do ter, as pessoas se tornaram objetos de todos os mecanismos de sustentação deste "Zeus" da Posmodernidade.

Os pensadores logo hão de começar a escrever e a falar sobre este novo elemento que caracteriza as artimanhas deste mundo que é globalizado pelos meios de comunicação, que relativiza o que é absoluto, que imanentiza o transcendente, que transforma o finito em infinito, que desvaloriza o que é de valor, que destitui para se destituir.

Para se sentir seguro, mesmo que não o seja, estes vários artífices correm continuamente pela forma mecanizada. Não humanizada e humanizadora. Eis o problema. O que dificulta uma realização progressista da humanidade é justamente esta falta de perspectiva futura, que não se confunde com o imediatismo feiticista, mas com a própria esperança humana de encontrar a plenitude da existência. Por isso, a formação do homem posmoderno é marcada pela tentativa de ter a excelência, mesmo sem ser excelente. O que se elimina do ser humano é o sentido da sua própria dignidade que é a capacidade de amar para pensar e pensar para melhor amar. A formação permanente precisa recuperar este horizonte antropológico. Enquanto as várias instâncias educativas e institucionais pensarem a formação continuada com paradigmas da sistêmica mercadológica, o ser humano será reduzido mais e mais a simples especiaria.

Hoje a qualificação, sem dúvida nenhuma, precisa ser desejada; porém, que modelos epistemológicos e axiológicos são observados para que esta perfeição não se torne infrutífera para a própria condição humana? Como pensar que uma tão bem usada tecnologia especulativa serve para tornar bilionários a alguns e desempregados a milhões?!

Por fim, a importância da qualificação permanente tem que ser vista por todos como um valor vital. Precisamos nos preparar para a vida. Quem estuda para ser mais, em vez de só pensar em ter mais, será alguém que tem porque é feliz e não é feliz porque tem.

Nós temos o que é efêmero; justamente porque o temos. Quem sente o que tem, transforma o meio pelo que ama e tem tudo que ama. Sendo assim, encaremos este desafio de querer a excelência que trás vida plena e dignidade humana para os que são protagonistas da sua História. Assim o seja!

sexta-feira, 19 de junho de 2009

A identidade do presbítero

Na sexta feira, na festividade do Sagrado Coração de Jesus, 19/06, foi aberto o ano sacerdotal. Por meio deste, o Santo Padre, Bento XVI, nos convida à reflexão sobre a identidade do presbítero como alguém que deve ter sua fidelidade sacerdotal unida à fidelidade de Cristo. Os sentimentos de Cristo devem ser a meta existencial de todo presbítero. “Tende um mesmo amor, um mesmo coração; procurai a unidade; nada façais por rivalidade, nada por vanglória, mas, com humildade, considerai os outros superiores a vós, diz são Paulo (Fl 2,2-3)”. O que qualifica a vida e o ministério dos demais discípulos de Jesus, não é diferente do que dignifica a vida dos presbíteros.

"Fidelidade de Cristo, fidelidade do sacerdote". Mas a quem se devota esta fidelidade? O próprio Jesus nos dá a resposta ao orar: “Meu Pai, se é possível, esta taça passe longe de mim! Todavia, não como eu quero, mas como tu queres! (Mt 26,39)”. A nossa fé é provada quando somos chamados a viver a vontade do Pai. Não existe fidelidade sem amor. O presbítero só conseguirá ser fiel a Deus se tiver consciência do amor com o qual é amado pelo Pai, como o Filho o tinha (Jo 17,23.26). Só mesmo o amor permanece, por Jesus, no coração do presbítero, que em meio às “tribulações persevera e, por causa disto, tem sua fidelidade provada, a fidelidade provada, a esperança; e a esperança não engana, pois o amor de Deus foi derramado em nossos corações pelo Espírito Santo que nos foi dado (Rm 5,4-5)”. A Fé é a condição sem a qual a identidade do presbítero não se manifestará. O homem consagrado ao serviço dos demais membros do Povo de Deus tem que ter esta virtude teologal. Mesmo sendo um dom infuso por Deus à pessoa, este não dispensa a nossa liberdade. A Fé envolve o ser humano em sua condição existencial e categórica. O ser presbiteral acontece no momento atual; pois este faz parte do tempo qualificado de Deus. A fidelidade do presbítero não foge da forma divina de revelar-se na vida da pessoa que está a serviço dos demais filhos de Deus. A oração sacerdotal de Jesus elucida o que pode ser a mediação do presbítero que age na pessoa de Cristo, cabeça e pastor da comunidade. Para quem quer ser fiel, acreditar no projeto de Deus é imprescindível. A fidelidade de Jesus ganha sua realização histórica porque ele acredita no projeto do Reino de Deus (Mc 1,14-15; Mt 4,12-17; Lc 4,14-15). Esse mesmo desígnio floresce misteriosamente, justamente porque é divino; mas nem sempre nasce e se reproduz, como uma semente, no coração daqueles aos quais foi anunciado (Mt 13,18-23; Mc 4,13-20; Lc 8,11-15). O passo objetivo para que o presbítero seja dócil a esta proposta de fidelidade é a escuta continua da Palavra de Deus. Por meio dela, o sacerdote solidificará a sua espiritualidade sacramental. O padre Karl Rahner dizia que o presbítero dos tempos atuais deveria ser, antes de tudo, um mistagogo, ou seja, alguém que conduz ao mistério. Mas aqui vem a questão: a graça do sacramento dispensa a natureza ou a humanidade do padre? Para a teologia católica, não. A pedagogia formativa da Igreja considera as dimensões humana, intelectual, espiritual e pastoral, que hoje são consideradas não só durante a vida seminarística; mas durante toda a vida do presbítero. Para a Igreja é importante que o padre seja Homem, em sentido pleno, mais propriamente: honesto, verdadeiro, justo, psico-afetivamente equilibrado, amante do estudo, consciente que precisa estar em permanente diálogo com a cultura, orante (eucarístico) e amigo de Jesus, sem dispensar o afeto de Maria Santíssima, e dedicado a todos aqueles que lhe são confiados, como servidor e não como aproveitador.

Por fim, para nós, presbíteros, este é um ano de Graça de Deus. Aproveitemo-lo! Façamos nossos exames de consciência e vejamos como estamos testemunhando o nosso sacerdócio. Ainda contamos com as orações e apoio do Povo de Deus, ao qual devemos servir com amor e sem temor. Assim o seja!

sexta-feira, 12 de junho de 2009

O namoro, experiência do encantamento.

No dia 12 de Junho é comemorado o "Dia dos Namorados". Nas comunidades percebemos nossos queridos enamorados preparando-se para manifestar de modo singelo e belo, o encantamento existente para com a pessoa amada. Eles preparam-se de vários modos só para dizer ao outro que (este ou esta) é 'especial'. Claro que nós cristãos ficamos felizes com isso!

O namoro surge sempre como meio de preparação para a vivência harmoniosa e permanente duma vida a dois. Não se trata de um 'ficar'. Para aqueles que ebriamente celebram este dia com seus pares, observem o que de fato é para vocês comemorar este momento. Nada substitui uma experiência amorosa. Para nós cristãos ela começa no encontro com o próprio Deus. Pensemos nos místicos. O cristão é alguém encantado com o amor de Jesus. Nos presságios para a vida a matrimonial, o namorado e a namorada são pessoas extasiados com seu amado ou amada. Ainda, para nós, celebrar o "Dias dos Namorados" é sempre tempo de enfatizar a importância da família como comunidade formada por homens e mulheres enamorados por um amor integral e integrante de seres que biopsico e espiritualmente se completam.

Caros namorados, vivam vosso amor com alegria e na verdade do amor de Deus! Nós, que acreditamos no Evangelho, só queremos a vossa mais pura felicidade e daqueles que surgem como expressão genuína do vosso amor. Não banalizem o que para vós deve ser sublime. O que será do futuro da própria humanidade se os homens e as mulheres deixaram que a violência culturalista ideologizar o que é transcendental. O amor não fere o que é completamente humano. O jogo de marketing tenta atrofiar as reais condições de felicidade presente e futura dos homens e das mulheres.

No "Dia dos Namorados", além de pensar em trocar presentes, pensem sobre o significado deste dia. Digam aos vossos contemporâneos que vale a pena amar e ser amado por alguém. O flerte (o ficar) frusta a beleza de da presença constante da pessoa amada. Nós cristãos, dizemos que o namoro é fase de conhecimento e preparação para vida matrimonial. Este conhecimento é permanente. Quem vive no namoro como casado, não viverá o casamento como namorado! O exercício para a renúncia e o sacrifício da vida matrimonial começa, como expressão de maturidade sexual e afetiva, já no namoro. Surge aí, nesta fase o exercício para fidelidade. É comum os casos de sofrimentos da vida matrimonial, por causa das 'infidelidades'. Há muito desgaste da vida conjugal quando um dos cônjuges adultera. No "Dia dos Namorados" e em muitos outros momentos pensem sobre isto. Vos convido a fazer a leitura do da carta de São Paulo à comunidade de Corinto (1 Cor. 13,1-13). A banalização do simplesmente humano afetou a forma mais digna de relacionamento entre homem e mulher.

Para este Dia todos os enamorados são chamados a não temer o amor, porque Deus é Amor e quem permanece no amor permanece em Deus (1Jo). Porém, não esqueçamos que este amor tende a dar frutos de harmonia e paz. O amor verdadeiro propicia a paz entre os amantes. Por isso, caros namorados e namoradas, cultivem uma profunda espiritualidade. Casais que rezam juntos e buscam na dinâmica do Evangelho luz para seus passos já estar dando um grande passo para encontrar e encetar para onde estão se encaminhando. Não temam a felicidade porque ela bate vossas portas e precisa só que vós possais deixá-la entrar. A todos vocês, saibam que Jesus vos ama e feliz Dia dos Namorados!

terça-feira, 9 de junho de 2009

Dia dos Namorados

Nas nossas comunidades os casais de namorados, noivos e cônjuges, já se prepararam para celebrar o “Dia dos Namorados”. Claro que nós, como cristãos, vemos esta data como um momento muito especial. Toda família tem sua gênese no encontro e no enamoramento de um Homem e uma Mulher que se amam. A Humanidade se desenvolveu por causa desta comunhão biológica, psicológica e sociológica. Só mediante esta relação é que a totalidade e o sentido da condição humana se dinamizam e acontecem no tempo e no espaço. Graças a este tipo de interação a cultura dá forma à Civilização. Não existe desenvolvimento humano sem a presença do homem e nem, muito menos, sem a presença da mulher que se doam um ao outro para contribuir com a obra do Criador. Ele mesmo os criou a sua imagem e a sua semelhança (Gn 1,26-27). Quem nega esta constatação, ainda não encontrou outra possibilidade digna de razoabilidade e credibilidade bio-psico-social da existência humana. São conjecturas e sofismas que não respeitam paradigmas e modelos transdisciplinares. Nem tampouco, podem fazê-lo, pois a própria possibilidade científica seria vítima do que configura as buscas do poder da ciência na Posmodernidade, que é o Nihilismo revelado no vazio e no caos individual, coletivo e global.

Neste dia tão especial para todos os casais, a proposta continua sendo a da Palavra de Deus. “Quem ama nasceu de Deus e conhece a Deus (1Jo 4,7)”. Deus é a fonte do amor; por isso, quem quer e deseja a consistência do amor, alimenta o amor amante e o amor amado. Se sentimos o desejo do amor é porque a semente já está presente em nós. A possibilidade para a vivência coerente e transcendente do amor acontece quando esta virtude humana se radica naquela que é divina (1Cor 13,13). A pessoa por falta de discernimento confunde a paixão com o amor. Para os casais de namorados esta falta de percepção pode acarretar em sérios problemas de relacionamento no presente e, principalmente, no futuro. Isto porque a paixão é invejosa, impaciente, orgulhosa, ciumenta, inconveniente, interesseira, irascível, rancorosa, injusta, mentirosa, egoísta e luxuriosa; enquanto que o amor é paciente, é prestativo, não é invejoso, não se ostenta, não é orgulhoso, não é inconveniente, não procura o seu próprio interesse, não se irrita, não é rancoroso, não se alegra com a injustiça, se regozija com a verdade, tudo desculpa, tudo crê, tudo espera, tudo suporta; pois o amor jamais passará (1Cor 13,4-8). O amor está no tempo, mas não é do tempo; dispensa a parte, para totalizar o espaço; torna real o ausente porque este sempre está presente. Não pode ser virtual porque exige o referencial.

Caros casais, todos temos a capacidade de amar e ser amados. Como buscá-lo se já não o tivéssemos?! Este Dia não pode ser, só e somente só, dia de oferecer bens materiais. Para muitos, pode acontecer de ser mais um ‘instante’ de comprar a outra pessoa. Para celebrar bem este dia todos vós deveis ser fieis um ao outro. Quem ama é fiel; e aqui a conotação é muito mais que um simples comando dos instintos. Quem ama não trai e nem se sente feliz em ser traído. No acompanhamento espiritual dos vários casais, percebi que os muitos cônjuges que têm suas relações matrimoniais perturbadas por causa de crises de ciúmes patológicos, ou viram estas experiências nos casamentos de seus pais ou foram vítimas das traições de seus companheiros. Aqui, há a ressalva que, tanto quanto os homens, as mulheres devem ser fiéis!

Por fim, caros casais, que neste “Dia dos Namorados” façam uma reflexão de como cada um está vivendo a sua vida a dois. Quais valores humanos e cristãos norteiam a vossa vida? O amor verdadeiro de Cristo está vos ajudando a ser verdadeiros amantes e amados? Do mais, parabéns pelo vosso Dia! Assim o seja!

segunda-feira, 8 de junho de 2009

Onde estão os prefeitos?

A política se realiza nos espaços públicos. O político precisa estar no meio do povo e a serviço do povo. Ele é empregado do povo. Foi eleito para servir ao povo. Precisa ser uma pessoa de índole probata. Antes de tudo, que seja um ser humano honesto; justo; verdadeiro; integro; que seu sim, seja sim! Seu não, seja não! Sóbrio; bem formado; se for cristão, que o seja com testemunho; temente a Deus e não adorador do dinheiro e do poder que persegue e escraviza, direta ou indiretamente, a ele e a seus adjacentes.

O bom político é sempre um bom harmonizador. Desde a antiguidade, ele é o ser humano da cidade. Porque nela estão os habitantes que querem a felicidade e bem, que realizam-se pela justiça. Quem não tem em vista a dimensão ética da política; com certeza, quando eleito para assumir quaisquer tarefas públicas, vai brincar de ser “gestor”. A gestão, no novo paradigma de administração da coisa pública, exige uma articulação institucional bem arquitetada. A microfisica do poder, sobre a qual fala tão bem, o filosofo francês, Michel Foucault, é bem pertinente para uma hermenêutica das relações institucionais do Estado Democrático de Direito. Só o poder limite outro poder, nestas relações estruturais. Infelizmente, ainda, nalgumas cidades tratadas e tidas como blocos feudais, esta possibilidade não acontece como deveria. Isto faz com que, os direitos e deveres dos gestores públicos e representantes dos cidadãos do município, não sejam observados; ou, vice-versa. A culpa, destas situações presentes em todos os recantos do nosso País, não deixa de ser do próprio povo. No art. 1º, parágrafo único, a Carta Magna assevera que “todo o poder emana do povo, que o exerce por meio de representantes eleitos ou diretamente, nos termos desta Constituição”. Por conseguinte, este é o que deveria ser exigido pelo próprio povo, no que compete à obrigação dos empregados do povo nas suas atitudes e atos administrativos.

Por isso, que, é inconcebível um prefeito do município que não more na cidade, da qual é o(a) chefe do executivo(a). Não se consegue administrar por telefone. Um gestor sério tem que se interar diariamente dos problemas existentes na comunidade. Quando as informações vêm por terceiros, normalmente chegam de modo tendencioso e deturpado; atrapalhando, desta forma, a seriedade das decisões administrativas. Sendo assim, os prefeitos tomem consciência e assumam as responsabilidades de morarem e sentirem, com dignidade, as alegrias e as angústias dos habitantes da cidade com a qual eles ou elas selaram um compromisso. O pior é quando se percebe nitidamente que não há amor pela cidade da qual se é servidor público. “Quem não ama, não cuida!”. A primeira coisa que eles e seus familiares botam na mente é que, naquela circunstancia, não possível viver. Disto, pode-se inferir que ser prefeito destas cidades é uma “brincadeira de criança”. Vaidade das vaidades. Nem sempre quem tem o dinheiro, tem o poder. O poder na Posmodernidade, principalmente devido aos meios de comunicação, toma uma forma anímica e corrente em todos os tempos e lugares.

A Constituição Federal tipifica o que compete aos Municípios na realização da administração direta deste ente federativo (CF. Art. 30, inc. I-IX). Os prefeitos podem argumentar que não averbera-se sobre o local onde eles devem morar. Contudo, faz muito mal a uma comunidade, um prefeito que não acolhe o seu mister de ser humano que escolheu dedicar-se ao serviço dos bens públicos que, por sua vez, pertencem aos cidadãos. Caros prefeitos, tratem bem o querido Povo de Deus! Não maltratem este Povo. A justiça nunca falha, nunca... quem está contra o povo, não está com Deus. Assim o seja!

quarta-feira, 3 de junho de 2009

As festas dos padroeiros: Um Bem Eclesiástico

As festividades dos santos: Antonio, João e Pedro se aproximam. Estas são comumente conhecidas por festas juninas, por se acontecerem no mês de Junho. Sem dispensar a História, há que ser reconhecido que todas elas surgem ao interno das tradições e manifestações da piedade e da motivação dos cristãos católicos e a condução da mesma Igreja de Cristo. Nas várias comunidades, em continuidade com aquele processo historicamente veiculado, preparam-se momentos de entretenimento e manifestações públicas da religiosamente popular e congraçamento das muitas comunidades. Vale lembrar que, em todas as outras comemorações e festividades similares, ou seja, em outros períodos e outros padroeiros, a Igreja deve ter total responsabilidade de gerenciamento.

O acordo entre a República Federativa do Brasil e a Santa Sé relativo ao estatuto jurídico da Igreja Católica no Brasil, que sintetiza a tipificação jurídica concernente à relação institucional entre a Santa Sé e Estado Brasileiro, no artigo 7º, assevera que “a República Federativa do Brasil assegura, nos termos do seu ordenamento jurídico, as medidas necessárias para garantir a proteção dos lugares de culto da Igreja Católica e de suas liturgias, símbolos, imagens e objetos cultuais, contra toda forma de violação, desrespeito e uso ilegítimo”. Aqui se encontra a garantia dada pelo próprio Estado da condição de agente administrador “Bem Eclesiástico”, que são as festas dos padroeiros vinculadas canonicamente às Dioceses e, conseqüentemente, às Paróquias como sujeito de direitos e deveres reconhecidas pelo mesmo Estado Democrático de Direito. Tudo que está ordenado no referido acordo está contido no ordenamento jurídico do País.

Nas nossas comunidades formou-se uma mentalidade, por parte da grande maioria dos gestores públicos, que as festas dos padroeiros podem ser realizadas sem a devida participação da Igreja. Vale ressaltar e lembrar a todas as outras instituições que podem e devem entrar como parceiras da Igreja nestes eventos; porém, sem atrofiar o intento próprio do momento como “tempo forte de evangelização e confraternização da comunidade”. A Igreja tem o direito-dever de poder gerenciar estas festividades tendo em vista as suas finalidades. O próprio acordo afirma que “as altas Partes Contratantes são, cada uma na própria ordem, autônomas, independentes e soberanas e cooperam para a construção de uma sociedade mais justa, pacífica e fraterna”.

Infelizmente, o modo como tudo isto está sendo feito é ilegítimo. Nós esperamos que haja respeito e parceria nas festas dos padroeiros entre os entes federativos, que são os municípios, através dos gestores, e as várias paróquias, mediante seus párocos. Antes de qualquer festa avulsa realizada nas ruas das várias cidades e comunidades católicas ou não do nosso País, existe a liturgia cristã milenar e todos os outros modos de apresentações culturais que o próprio município tem a obrigação de salvaguardar. Na maioria das situações são proporcionadas festas nas quais se gasta muito mais do que se se incentivasse a digna alegria da comunidade, como a Igreja Católica assim o deseja. Muitos são os interesses políticos que, de fato, não promovem politicamente a ninguém, nem muito menos as pessoas; pois o que trás para as cidades é a prostituição, as drogas, os roubos e a violência. É ou não é?

Por fim, uma palavra dirigida a todos os cristãos: “tenhamos mais consciência da nossa dignidade”! Muitos de nós queremos viver de pão e circo. É triste constatar este fenômeno; mas é a mais pura verdade. Desta forma, as comunidades e, por antonomásia, a nossa sociedade continuará sendo presa fácil de pessoas que não têm compromisso com a verdade e a justiça. E ratifico que, o que digo, vale para todos. Assim o seja!

domingo, 24 de maio de 2009

Anjos e Demônios: Só uma ficção!

Nos cinemas do Brasil está sendo visto outro filme do mesmo autor do Código da Vinci. Para os cinéfilos, temos de reconhecer que é uma boa produção. Um bom enredo com suas intercalações bem lógicas e em contextos significantes e significativos; O ator principal, Tom Hanks, que novamente faz uma brilhante interpretação; e claro as próprias imagens de Roma e da Cidade do Vaticano que, por si, já ilustram a beleza da produção. Mesmo que seja retificado que muitas daquelas imagens são criações cinematográficas, como, por exemplo, o escritório do Papa que é mostrado e outros espaços do Vaticano que sem dúvida, não foram objeto das gravações. Imaginem que as portas do Vaticano seriam abertas para as filmagens daquelas prosopopéias!

O autor dos livros que alicerçaram as tramas dos dois filmes, Brown, sem dúvida não pode ser tido como um historiador no sentido estrito do termo. Isto já é o suficiente para que o que foi e é lido e visto, nas salas dos cinemas e livrarias, possa ser encarado e tratado como o que de fato estes livros e filmes de diversão são, ou seja, uma “ficção literária e cinematográfica”. Ele, o autor, tem certa atenção especial por aquilo que concerne às realidades da Igreja, mais propriamente, às questões vaticanistas e a pontos culturais vinculados a mesma instituição. O Código da Vinci rendeu a ele muita fama e, sem dúvida, muito lucro. Ele atingiu a coletividade naquilo que na Posmodernidade, esta tem de mais vulnerável, que é a sua subjetividade. Theodor W. Adorno, neste contexto, fala duma “indústria da cultura”. Hoje é acolhido pelas pessoas o que é mais acessível e massificado pelos meios de comunicação. A cultura, ela também, se tornou um meio do mercado e do capital se potencializarem. A credibilidade, que é auferida por criações artísticas deste gênero ficcionista, demonstra o quanto de fato os conceitos e formas tradicionais de se pensar, esta cultura, necessitam de reflexões mais contemporaneizadas. Há uma tentativa enigmática e vazia de confundir o que é constitutivo da Civilização. Hoje, devido às redes mundiais de comunicações, podemos dizer que estas confusões atingem o mundo. Muitos autores trabalham a necessidade de uma ética planetária justamente porque o que era problema de um grupo social ou de uma nação em período Premoderno, tornou-se cosmológico na atualidade.

Uma preocupação muito interessante é abordada no desenrolar das falas, a saber: “a relação entre fé e razão”. Esta discussão já está superada pela Igreja faz muito tempo. Aliás, quem sabe História, deve saber muito bem que a Igreja sempre caminhou ao lado da ciência. Até mesmo quando em momentos isolados, elas tiveram pontos de vista diferentes devido aos paradigmas dos quais cada uma partia para sistematizar suas teorias e substanciar seus campos de conhecimento e de poder. Algo incisivamente inquietante é que os livros e os filmes estão sendo vistos por uma grande maioria de jovens que ainda não têm bases epistemológicas bem fundamentadas para verem, analisarem e descobrirem o que pode ser absorvido das intercalações e imagens das produções.

Por fim, o que precisa ser lembrado é que não podemos confundir o real com o virtual e o fictício. Não voltemos, nós outros, a época dos mitos e fábulas da irracionalidade. Quem for ver o filme, que o veja comendo pipoca (se quiser e tiver o dinheiro, rsrsrsrs...!) e com olhar crítico sobre as intenções de quem o produziu. Quanto ao que dizem a respeito da Igreja, bobagens e mais bobagens! Pensem só um padre no conclave dizendo o que os cardeais devem fazer?! Não podemos deixar de ver o que de positivo pode ter para os amantes da boa arte e da cultura no sentido lato do termo que é propaganda dos lugares fantásticos e belos da Cidade Eterna. Quem já morou ou a conheceu o sabe muito bem. Assim o seja!

terça-feira, 12 de maio de 2009

A auto-estima dos professores

Quem acompanha e tem contato com os professores, identifica netamente, na maioria deles, um problema de auto-estima. Basta conversar com eles que perceberá este triste traço de suas personalidades. Eles reclamam de tudo. O salário está baixo; os alunos não prestam; os pais não ajudam; os diretores são incompetentes; os conselhos da escola não funcionam; não tem material didático; a escola não está bem aparelhada com internet e quando se tem não se sabe usar; não se promove a formação permanente; só trabalha na educação por falta de empregos etc, ou seja, há uma série de desafios que estão presentes na vida do professor que afetam agudamente a sua vida.

Convém até denunciar e chamar à atenção dos órgãos e gestores para este preocupante desafio: Como estar a situação da pessoa do professor? Não sinto nenhuma preocupação dos poderes constituídos, nas três instâncias, acerca deste problema. Fala-se da necessidade dos planos nacional, estadual e municipal de educação; mas ainda não se começou a pensar a própria circunstância donde provirão as idéias para a projeção destes projetos. Eles (os professores) continuarão a repetir que as necessidades para o melhoramento da educação do e no nosso país são... e nós concordamos com eles. Ser professor, hoje em dia, é um ato de heroísmo. Mas ser um herói todo chagado pelas dificuldades familiares; falta de hábito estudo; sobrecarga de trabalho; massificação da mídia; insegurança nas próprias escolas; e outras intempéries tornam mais difíceis e instigam ainda mais as chagas. Outra característica que pode servir de diagnóstico é indiferença pelos problemas da própria comunidade. Os professores são as pessoas que mais têm condições de detectar as mazelas presentes no meio; mas permanecem no que vêem, poucos pensam em transformar a situação pela via da educação. Eles não acreditam que podem e devem fazer a diferença no processo de mudança pessoal e social da comunidade. Há uma preocupante crise de valores e disto nós já temos consciência; porém se aqueles que têm a nobre missão de formar pessoas estão humanamente desestruturados, o que eles poderão fazer como mestres da sala de aula e da vida? Um dia, numa semana pedagógica, eu fiz esta observação e muitos ficaram inquietos; contudo, eu insisto que deve-se pensar a questão como condição sem a qual a própria educação não será credível como arte de integração da pessoa com o mundo e consigo. Já tem muita gente que não estar acreditando na educação como meio de realização da dignidade humana. Pois, como é notório, há presidentes da República que afirmam que não se precisa estudar para ser o cara; há políticos e mais políticos que não importam-se com a opinião pública, esquecendo-se que estão representando esta mesma, no congresso; artistas e apresentadores de televisão, medíocres intelectualmente, ganhando fortunas; jogadores de futebol que ganham milhões para fazer um comercial; pastores neopentencostais que vendem curas a preço de batata; juizes do Supremo Tribunal Federal que menosprezam a pouca confiança, que ainda se tem, na justiça deste Estado, que dizem ser democrático e de direito.

Enfim, queridos professores, se vocês tomarem consciência da importância que tiveram, têm e sempre terão para a humanidade, sem dúvida, estarão dando o primeiro passo para se amarem mais e buscarem a construção permanente da vossa dignidade humana e profissional. Não há nenhuma outra profissão que não precise do vosso ministério. Mudemos esta situação de tantas injustiças e mediocridade. Cuidem da vossa vida pessoal, estudem muito, celebrem a vida, tenham uma espiritualidade pascal, façam boas escolhas e o tempo vos dirá o quanto sois importantes para história e para a vida de cada um de nós. Assim o seja!

quarta-feira, 6 de maio de 2009

As estradas da Região Agreste

Nós ainda não estamos em período de campanha para o governo do Estado. Tudo parece tão calmo na nossa região que se pensa que os votos dos habitantes desta porção do povo potiguar nem tem tanto valor. Me parece que no momento as querelas dos espaços políticos giram mais em torno da derrubada do Machadão. Mas é assim; há aqueles que são a favor e aqueles que são contra. Quem estiver lendo o que escrevo, pode dizer que não acrescentei nada à Babel das ideologias jornalísticas e marketeiras; contudo, o que quero dizer é que todos têm seus interesses e quem tiver mais poder econômico é que levará a vantagem. Sendo que toda boa política não prescinde da discussão, precisamos continuar dizendo o que pensamos e o que acreditamos. Por isso, ratificamos que a política tem por finalidade buscar o Bem Comum; e não os interesses de políticos corruptos e omissos diante de desafios tão prementes. Citei a situação tão debatida das questões da Copa; mas, os problemas urgentes do nosso Estado não podem ser no momento só este; como também, as enchentes do Vale do Assu, os problemas da segurança pública, o caos da saúde, a acefalia estrutural da educação, a maldita corrupção dos políticos que são causa de opressão das classes menos favorecidas das nossas comunidades e, ainda, contudo não menos importante, “a situação das estradas da região Agreste”.

O contexto é decadente. As estradas estão esburacadas. Nalgumas delas já há travessias de torrentes d’água. Acidentes acontecem por causa dos desvios que os motoristas têm que fazer para evitar as ‘bocas de pilão’ que danificam os carros velhos que para muitos pais de família são a única fonte de renda para o sustento de seus dependentes. Pode haver algum demagogo que talvez queira alegar que as rodovias ainda não foram refeitas por causa das chuvas. Mentira! Já faz muito tempo que as estradas estão precisando de concertos. Como para eles pouco interessa; pois a maioria deles não mora nesta região e quando aparecem vem bem motorizados nos seus belos e confortáveis carros, os solavancos e desvios perigosos não importam. Mas quando for o tempo da campanha para o governo do Estado estarão eles a sofismar e a enganar as pessoas que infelizmente são ludibriadas com promessas falsas que são expressão da incompetência humana dos que se dizem representantes da vontade popular. Há que se ressaltar que muito mais se é gasto pelo Estado e municípios nos reparos dos carros que são bens públicos. As ambulâncias, os carros da polícia, os ônibus dos estudantes e outros meios de transportes locados pelos próprios municípios por causa dos programas do governo federal, que também são extraviados. Conseqüentemente, outro elemento que se detecta é a falta de capacidade administrativa da grande maioria.

Neste caso o interesse é de toda a região; por isso, deve haver uma articulação política de todos os prefeitos destas cidades junto ao governo do estado e aos demais representantes políticos deste setor, para que este problema que nos assola seja resolvido. Não esperem para gritar e desastrosamente tomarem alguma atitude no tempo das eleições. É sinal de muita mediocridade. O problema exige uma providência imediata e que seja um trabalho bem feito, sem super faturamento de obras, que fazem com que em pouco tempo as estradas estejam na mesma situação.

Por fim, “quem está contra o bem do povo está pecando contra a confiança que lhe foi depositada. Esperamos que haja uma vontade política que, um dia, possa gerir com dignidade e justiça o Bem Comum. O povo desta região também tem seus direitos e precisam ser respeitados. 300 Milhões de dólares serão gastos para que 2 jogos da Copa sejam em Natal, em 2014. Que as nossas estradas também possam ser vistas como uma prioridade dos nossos governantes. Assim o seja!